Já diz o ditado:
"Ano Novo, vida de carregar o Skull para todo o lado."
Ultimamente tenho-me maravilhado com a abrangência de interacções com pessoas que é possível extrair de caixas pequenas. A portabilidade a mim interessa-me porque, por razões que agora não vêm ao caso, nunca sei quando terei que me meter num avião para a Colômbia apenas com o que carrego comigo.
Portanto, ando sempre com um jogo atrás. Não vá o Diabo tecê-las, ou aquela megera dar com a língua nos dentes. O que não vai acontecer se ela sabe o que é bom para ela e para os pequenos. Mas adiante.
Uma boa ludoteca, em casa, é bom para o cidadão respeitável. Muitas vezes penso que, um dia, quando aquilo prescrever, poderei saborear um brandy na minha ludoteca e, com toda a calma que exige a situação, observar a minha coleção e daí escolher um Game of Thrones, um Archipelago ou um Eclipse para saborear na companhia dos meus amigos com parecida disposição de tempo à minha, consoante o charuto que quiser acompanhar. Talvez escreverei um breve livro sobre a arte de acompanhar jogos de tabuleiro com charutos, com as minhas recomendações (Monte Cristo - Archipelago, Cohiba - Eclipse, etc.). E assim, finalmente sentirei que dei ao mundo o que tinha a dar, e poderei morrer em paz.
Mas até lá, é a vida de jogar com o que se tem no bolso, ou na mala. E, contudo, o bolso é pequeno e a mala não pode ser tão grande ou pesada que me dificulte a corrida entre estancos em Bazares de Marrakesh (de novo, por razões que agora não vêm ao caso.)
Que fazer? Escolher entre alguns candidatos. Ora aqui vão eles.
Skull - O eleito. O esperado. 15 anos de Gestação. O messias de todos os jogos portáteis. Póker sem a parte chata. O único jogo que cumpre o santo graal de convencer pessoal a jogar: a explicação da totalidade das regras cabe no tempo socialmente aceitável em que se pode falar num jogo sem solicitação.
Ex: Um grupo de pessoas está sentado numa mesa. O intrépido jogador de Skull aproxima-se do grupo, cumprimenta uma pessoa, puxa de uma cadeira e pousa casualmente uma caixa com uma caveira na mesa. Espera que lhe perguntem como está e responde "Estou óptimo. Joguei um jogo em que cada pessoa tem 4 discos, três com rosa e um com uma caveira. Todos os jogadores põem um disco virado para baixo à frente deles e depois cada jogador ou põe uma carta ou diz quantas rosas consegue virar sem apanhar uma caveira. Depois de alguém apostar os outros ou dão por cima ou passam. Quem ganhar tenta virar as rosas que disse que virava, começando pelas que pôs à frente. Se apanhar uma caveira perde um dos discos. Se cumprir duas apostas ganha o jogo. E tu, ainda estás com a Mafalda?"
E é logo muita bom.
Coup - bom, pequeno e as moedinhas podem valer qualquer coisa se conseguir convencer um capitão de navio que aquilo é prata ou um maluqinho que aquilo é moeda do futuro. Contudo, demora um bocado mais a explicar e só fica bom depois de se jogar algumas vezes.
Condottiere - bom, mas exige um certo tipo de personalidade. Tem alguma curva de aprendizagem, bastante mais rápida se se jogar com quem tenha experiência de jogos de cartas. É preciso cativar a atenção de todos os jogadores. Este é jogo. Tem aquele tamanho mas não se deixem enganar - é jogo. Como tal, quem joga mais vezes joga melhor.
Krakalaken poker (tb conhecido por Cockroach poker.) Bom, e dá para jogar com a família, se a família for uma cambada de mentirosos. Perde para o Skull só porque ganhar não é um sentimento tão bom (na verdade, ninguém ganha, há um que perde e há os outros que se safam.)
E se um dia um traficante vos retirar o capuz e se encontrarem numa masmorra escura sabe Deus aonde, e só puderem propor um jogo para jogar pela vossa vida ao macabro olho de vidro deste veterano da guerra da argélia (estamos em 1967. Já jogaram T.I.M.E. Stories?) vão dizer o quê? Catan? Tenham juízo!
Parabéns por mais este artigo
Apraze-te escrever, nota-se. E fazes muito bem pois são textos fluídos e agradáveis.
Deixo umas sugestões compactas para levares por entre os bazares ou para colocares algum pó branco quando voltares da Colômbia:
Se fores para as caraíbas leva Dead Men Chest: print & play, fácil de montar, funciona com base em apostas e é o complemento ideal para acompanhar rum;
Se fores até à Alemanha leva Secret Hitler: também print & play, descendente do Resistance e Avalon, e na mesma linha, vem envolto num tema superior e com uma mecânica limada;
Se fores a Itália não te esqueças do Mama Mia: jogo de memorização de cartas, é uma busca pelos ingredientes para as pizzas;
E chega de dicas se não deixa de estar compactado. :)
E viva o Poker, quais partes chatas!!!? :)