Sorte: Algo bom ou somente horrivel?

Não sei se foi aqui ou na thread anterior que se falou sobre isto mas…

Tou contigo, Soledade. Para mim um jogo ter outro jogador além de mim já é um jogo que tem um factor aleatório/sorte significativo… se não na teoria, pelo menos na prática, LOL. :wink:

Consegue-se controlar/prever tão bem ou melhor o resultado de um lançamento de dados, como aquilo que um gajo que está a jogar contra nós vai fazer a seguir, LOL. Mesmo quando faz todo o sentido que ele vá fazer X, ele pode bem fazer algo completamente diferente por causa de uma de mil razões possíveis (não reparou, pensa que assim vamos fazer algo que o pode lixar a seguir, conhece o jogo bem melhor que nós e está a ver uma ramificação longínqua, tem uma estratégia mais maluca, bebeu uma cerveja a mais do que nós, acordou com os pés fora da cama, quer é lixar outro tipo por alguma razão, preocupa-lhe a jogada ser previsível e quer desconcertar o adversário, etc).

C’est la vie! :slight_smile:

Caro Tintaazul,

Estás à vontade. Eu tb estou aqui para aprender. Obrigado pelos esclarecimentos.

Abraços

Como muitos sabem, normalmente prefiro jogos sem dados mas depende muito da sua influencia: vou comprar o Yspahan e gostei bastante dos dados de caminho do Runebound. E não achei totalmente fora de controle os dados do Battlelore. Tudo depende de o jogo poder ou não ser controlado pelos jogadores. Jogamos ao jogo, ou ele joga-se sozinho?

Aqui faço um copy&paste meu de uma discussão anterior:

 

Considero TODOS os boardgames como mundos/experiencias quase controláveis, e os teus planos para estes mundos são influenciados apenas por quatro factores:

=> Os jogadores

Podem escolher olhar para um adversário e aplicar a sua jogada a favor/contra ele (as jogadas que afectam varios adversarios teêm quase a certeza de serem aplicadas no timing certo: criam poucos escrupulos).

A probabilidade de seres escolhido no principio do jogo varia consoante:
- o teu "rank" anterior no jogo (o dono do jogo tem sempre um rank mais alto que um noviço).
- picardias ou diplomacias prévias entre os dois jogadores

Ao longo do jogo, esta probabilidade vai diminuindo/aumentando consoante a opinião dessa pessoa em relação à tua possivel derrota/vitória e/ou consoante as vezes em que olhaste para ele . Se estas probabilidades não existissem, talvez estivessemos a jogar em casa contra o computador.

=> Sorte controlável

A sorte controlável é aquela em que tu sabes o que vai acontecer, mas não sabes a ordem ou quando.
As mecanicas que se incluiem aqui:
- o castelo do shogun porque o que entra, mais tarde ou mais cedo, vai sair. (talvez seja semi-controlavel?)
- A maior parte dos tipos de baralhos de cartas (excluir os que aparecem em sorte semi incontrolavel).
- Dados cujo resultado não seja demasiado relevante para o outcome do jogo (subjectivo consoante a pessoa), como por exemplo, quando não é a principal mecânica (yspahan)

Alguns dos meus jogos preferidos teem apenas sorte provavel:
- baixa: el grande, tigris
- nula (0,000000000000000000001): torres, puerto rico mas principalmente caylus. O diplomacy tambem encaixa aqui, mas não é um preferido por punhaladas em excesso.

=> Sorte semi-controlavel

baralhos de morte subita: apenas sabes que quanto mais cartas sairem, mais provavel é o jogo acabar (pode acabar na ultima OU TALVEZ não). Um bocadinho do Queen'sNecklace/Coloretto, mais do Ra/Trias mas principalmente o High Society (baralho com 16 cartas: gerir o dinheiro em leiloes, e acaba quando sair a ultima de 4 cartas vermelhas).
balde de dados: do que conheço (que é pouco), apesar de serem a principal mecânica, apenas é necessário uma pequena (subjectivo consoante a pessoa) percentagem de todos os dados rolados. Por exemplo, o World Of Warcraft e os dados de caminho do Runebound.

=> Sorte incontrolável

Aqui inclui-se tudo aquilo que é mistico-religioso, incluindo:

- milagres : seria uma mecanica engraçada, com alguma colaboração de uma entidade

- dados: para não repetir tudo o que já foi dito: darem-me um dado para o lançar 200 vezes, é como darem-me um baralho com 200 cartas, do qual eu apenas sei: que vair ser um 1,2,3,4,5 ou 6, e tenho de esquecer tudo o que já saiu antes, porque não tem nada a ver. Talvez os dados sejam milagres?

No final, uma pessoa apenas conclui que todos jogamos boardgames quem teêm o factor "outros jogadores" e as pequenas diferenças/gostos são conversa ;-)

Não querendo defender a honra de nenhum jogo (por não ser pago para isso :P) e não achando que “realista” seja um critério de qualidade dum jogo, especialmente se for abstracto como a maior parte dos Eurogames - fica isto para responder:

Não concordo. Estás a assumir que comprar uma central barata é sempre bom. Pelo que tenho visto, se fores o último a comprar, das duas uma: ou te sai uma central mesmo boa e não há malta a competir no leilão, pelo que fazes um belo investimento pago rápidamente em consumires menos recursos e em não teres que substituir a central; ou ficam os refugos, e tens que escolher entre uma central que só te serve 2-3 jogadas ou ficares com as tuas casinhas sem luz e perderes o dinheirinho…

Além disso, com a malta que jogo não há propriamente otários e não é fácil seres o último, até porque em dada jogada dá jeito ser o último a prai metade dos jogadores (dentro do ciclo fazer muita massa - ficar pra trás - comprar tudo barato - repetir que é a base do Funkenschlag). E nota que gosto muito deste jogo, é dos que consistentemente me dão mais pica jogar. Só este detalhe dos leilões é que me irrita.

Eis uma pequena análise que fiz no ultimo tópico mensal sobre a sorte.

Eu tenho uma análise acerca dos factores de sorte. A análise é simples, existem factores de sorte inerentes às mecânicas do jogo e factores de sorte inerentes à natureza dos boardgames em si.

Os factores de sorte inerentes às mecânicas de jogo são os que mais se falam, são os dados, os tiles, as cartas sacadas randómicamente, enfim, são todas as variáveis que estão definidas pelas regras do jogo e devem ser usadas durante o jogo devido ao facto de aparecerem nas regras. São o rolar dos dados para saber que bens nos calha no Catan, são o sacar dos tiles no Euphrat&Tigris, são os bens distribuidos nas cidades do Age Of Steam.

Os factores de sorte inerentes à natureza dos boardgames são os factores de sorte que, seja qual for o boardgame que jogamos, existirão sempre. E eu nomeio os dois factores mais importantes, que são os próprios jogadores e, com menor importancia, a posição dos jogadores na mesa de jogo. Os jogadores são o maior factor de sorte de qualquer jogo, e isto é universal para qualquer boardgame. Porquê? Porque nenhum jogador joga igual, nenhum jogador repete perfeitamente o mesmo jogo noutra sessão, todos os jogadores fazem algo inesperado algures durante o jogo, às vezes durante o jogo todo, somos todos duma maneira ou doutra imprevisiveis. A natureza psicológica humana é o maior factor de sorte de um boardgame, seja ele de que tipo for. A posição dos jogadores é menos importante, mas importante à mesma, pois um mau jogador, um jogador que não percebe a estratégia de um jogo, acaba por beneficiar ou prejudicar bastante o jogador a seguir a ele. Claro que num grupo com bons jogadores, a posição não se torna um factor muito decisivo, mas com um mau jogador torna-se. E, afinal, não há ninguém no mundo que seja um perfeito jogador em todos os jogos.


“You can not escape me!” he roared. “Lead me into a trap and I’ll pile the heads of your kinsmen at your feet! Hide from me and I’ll tear apart the mountains to find you! I’ll follow you to hell!”

[quote=MGBM]Os jogadores são o maior factor de sorte de qualquer jogo[/quote]

OK, eu concedo! Aceito considerar a imprevisibilidade humana como um factor aleatório. Podia aqui ficar a insistir que o comportamento humano é não aleatório, mas numa "ordem superior" - mas o mesmo se pode dizer dos outros factores. Um lançamento de dados depende de mil variáveis, como o peso do dado, a força e o jeito dolançador, a textura da mesa...

E de facto, é o comportamento humano que torna os jogos de mesa interessantes - jogar com (outros?) humanos é sempre uma experiência nova.

O interessante é que mesmo com o mesmo grupo já veterano, nunca se sabe exactamente o que os outros jogadores vão fazer. Pode-se prever o mais provavel de acontecer, mas isso não significa que aconteça.

Em suma, são as pessoas que tornam os boardgames divertidos.


“You can not escape me!” he roared. “Lead me into a trap and I’ll pile the heads of your kinsmen at your feet! Hide from me and I’ll tear apart the mountains to find you! I’ll follow you to hell!”