Struggle of Empires

Martin Wallace é um designer que constrói boardgames únicos. Misturando os eurogames com wargames e um pouco de amerigames, Wallace recompensa-nos com boardgames que embora contenham muitos aspectos de eurogames, é mais uma mistura entre vários tipos de estilos de jogos, o que nos proporciona experiências únicas. E neste jogo Wallace sem dúvida se esmerou e criou algo verdadeiramente viciante. Mas será o Struggle Of Empires melhor que o Age Of Steam? Struggle of Empires é um boardgame publicado pela Warfrog que engloba até 7 jogadores. O objectivo do jogo é simples, sermos a potência colonial mais poderosa no fim do jogo. Para tal teremos que conquistar territórios, depositando neles marcadores que representam a nossa influência politica. Quem tiver a maior influência politica em certos territórios ganha pontos, e quem tiver mais pontos no fim do jogo ganha. Pelo meio temos batalhas de exércitos e marinha, diplomacia entre jogadores e avanços sociais e tecnológicos. Passemos à análise. A apresentação deste jogo é, sem ter papas na língua, medíocre. Mais uma vez a Warfrog decide produzir um boardgame sem nenhum insert, embora pelo menos tenha posto pequenos sacos de plástico para guardarmos as peças. Mas mesmo assim fica muito espaço vazio na caixa e dá uma sensação de desarrumação incrível. Gostaria que a Warfrog aprendesse a fazer inserts, tornaria a apresentação do jogo muito melhor. As peças são funcionais e fazem o seu trabalho de representar os jogadores bem. O tabuleiro é mediano, nem bom nem mau, está lá e percebe-se, o que é tudo o que um jogador pode pedir de um tabuleiro. Mas como toda a gente sabe a pior parte de qualquer jogo feito pelo Martin Wallace é, sem dúvida nenhuma, as regras. Foi com alguma trepidação que li as regras do Struggle. Para minha surpresa não eram tão obscuras e confusas como receava. De facto, fora um ou outro percalço em que demorei algum tempo a entender as regras, as regras estão bem escritas e explicadas, pelo menos para um jogo do Martin Wallace. Não estão más e explicam bem o funcionamento do jogo. No entanto o jogo recebe pontos negativos por só ter incluído uma única folha em Inglês a explicar o que os tiles de avanços fazem. Mau, muito mau. Para um jogo que alberga sete jogadores, ter uma única folha revela má perspicácia e planeamento. Nada que uma fotocopiadora não resolva, mas mesmo assim um jogador quer receber tudo já preparado para jogar. Conclusão, a apresentação deste jogo é típica da Warfrog e continua a ser o ponto fraco das produções da Warfrog. Quanto ao aspecto do tema, bem este jogo consegue fazer passar o tema. Realmente ficamos com a ideia de controlarmos uma potência colonial. Mesmo assim e embora o tema seja muito mais forte que o típico eurogame, o tema não é tão forte como um amerigame tipo Descent ou Tide Of Iron. Mas felizmente dá para ficarmos com uma boa ideia do que o jogo nos tenta transmitir, portanto eu diria que o tema neste jogo funciona. Pode não funcionar não tão bem como se desejava, mas funciona e realça as sessões de jogo. Como todos os jogos da Warfrog, isto parece à primeira vista um jogo quase abstracto mas depois de se jogar descobre-se que, surpreendentemente, o tema colou. Quanto a estratégia e táctica, meu Deus, este jogo está repleto de toneladas de estratégia! Temos aqui um jogo perfeito para os jogadores que dão muita importância à estratégia, um jogo onde planeamentos a longo prazo acabam por recompensar os jogadores. Claro que este jogo tem táctica, e a táctica neste jogo é muito importante, mas o jogo acaba por favorecer muito mais a estratégia sobre a táctica. Este é um jogo perfeito para queimar o nosso cérebro, um jogo que nos faz pensar bem antes de fazermos qualquer jogada, pois tudo o que nós e os outros jogadores fazem acaba por influenciar o jogo no todo. Claro que o que acaba por tornar o jogo mais táctico do que o previsto é o elemento humano, somos obrigados a adaptar-nos e a mudar os nossos planos conforme as jogadas imprevisíveis dos outros jogadores, mas apesar disto o jogo continua com um bom foco na estratégia. Este é um jogo em que a táctica é somente a porta de entrada para os planos estratégicos, e o jogo ganha com isso. É difícil encontrarmos hoje em dia jogos quase puramente estratégicos no mercado, mas no Struggle of Empires encontramos um tal exemplo. É um jogo que merece todos os elogios em termos de estratégia e um perfeito exemplo de como fazer um boardgame focado em estratégia. Factor de sorte. Bem, este jogo, como em todos os jogos do Wallace, tem um factor de sorte pequeno mas considerável. Neste caso o factor de sorte mais importante do jogo é a sua utilização de dados para resolver batalhas. Mas a mecânica dos dados está bem concebida pois para resolver uma batalha roda-se dois dados e a diferença entre ambos os dados é o resultado final. É um método ingénuo e que funciona muito bem, dando um lufada de ar ao jogo. É uma maneira original e funcional de usar dados num jogo e, como tal, aumenta o prazer de jogar o jogo. Fora isso este jogo tem um factor de sorte mínimo mas fundamental, pois com menos de 7 jogadores os jogadores terão que colocar pequenas chits no tabuleiro que representam as áreas que poderão ser atacadas durante o jogo, as áreas abertas ao jogo. Estes dois aspectos, os chits e os dados, acabam por se tornar nos principais factores de sorte que não retiram nada do jogo mas contribuem e adicionam para uma maior variedade e complexidade do jogo, o que o torna ainda mais viciante. A interacção entre jogadores é alta. Muito alta. Para começar temos a mecânica das alianças entre jogadores. O jogo está constantemente dividido entre dois campos de jogadores que não podem atacar jogadores do mesmo campo mas podem atacar jogadores do campo oposto. Para determinarmos os campos procede-se a uma fase de leilão onde a interacção entre jogadores é bem alta na medida que todos discutem quem deve ir para aonde. Depois existe uma vertente de diplomacia no jogo na forma de negociações entre jogadores para conseguir suporte nas batalhas. Isso permite aos jogadores estarem sempre activos durante o jogo mesmo quando não é a sua vez. Fora estes dois elementos a interacção continua bem alta pois este jogo é praticamente um wargame misturado com elementos de eurogames, o que implica que todas as nossas acções irão mudar os planos dos outros jogadores. Em termos de interacção, este é capaz de ser o boardgame do Wallace com o maior nível de interacção entre jogadores, o que torna o jogo muito divertido e dado um pouco a discussões calorosas entre jogadores. O peso deste jogo é sem dúvida um Heavyweight na ponta mais leve da escala. Este jogo obriga os jogadores a fazer decisões constantes e agonizantes e, como tal, torna o jogo bem pesado. A complexidade e interacção entre as várias mecânicas também ajuda a contribuir para o peso do jogo e este jogo é bem pesado comparado com o tipico eurogame. Estamos perante um jogo que irá apelar a jogadores que gostem de jogos mais pesados que o normal, com uma maior complexidade de jogo em que as decisões não são facilmente chegadas. Um bom jogo para jogadores que gostem de muito peso nos seus jogos. Quanto a ser um Gamer's Game ou um Filler, meus amigos, isto sim, é a definição perfeita de um Gamer's Game. Pesado, complexo na interacção entre mecânicas e na evolução do jogo, este jogo é o exemplo perfeito de um Gamer's Game que, para além de ser muito bom, é viciante. Um Gamer's Game puro, o que poderá não atrair jogadores que queiram um eurogame normal. A longevidade deste jogo é enorme. Estamos perante um jogo em que o setup e o jogo em si nunca se repetem de duas maneira iguais. Cada jogo é completamente diferente e isso contribui em grande parte para uma maior longevidade. A somar a isto temos um grande número de jogadores que provoca um maior dinamismo no jogo. A somar a isto temos ainda mais os avanços tecnológicos e sociais, pequenos tiles que nos dão certas vantagens durante o jogo. Estes tiles aumentam de maneira significativa a longevidade, pois asseguram-se que nenhum jogador jogue de maneira igual o seu jogo e que não exista uma estratégia definida e fácil de ganhar ao jogo. Em suma, este jogo tem bastante longevidade e é recomendado a jogadores que costumem jogar ao mesmo boardgame muitas vezes de seguida. O dinamismo deste jogo é sensacional. A interacção entre mecanismos do jogo e entre jogadores está constantemente a mudar e a evoluir, provocando uma dinâmica sensacional que poucos jogos conseguem alcançar. Nenhum jogo é estático, todos os jogos são incrivelmente dinâmicos, obrigando os jogadores a adaptarem-se constantemente aos eventos que vão acontecendo no tabuleiro. Juntando a isto temos, como referido acima, os tiles tecnológicos que impedem que o jogo estagne. Este jogo tem um dinamismo brilhante e é perfeito para grupos de jogadores já com alguma experiência em boardgames. Quanto a introdução a novatos, este jogo não é recomendado. Este é o tipo de boardgame que fará qualquer novato fugir a sete pés se for o primeiro boardgame que jogam. É um jogo muito pesado e complexo, dando uma ideia aos novatos de que todos os boardgames são complicados e dão demasiado trabalho. Não recomendo este boardgame a novatos. Antes, recomendo o boardgame a jogadores que queiram dar o passo de jogos middleweight para jogos heavyweight. Fora isso, mantenham este jogo bem afastado de novatos. O problema de Analysis Paralysis está presente neste jogo. As jogadas não costumam ser óbvias e, como tal, obriga os jogadores a pensarem muito bem antes de jogarem, o que provoca atrasos consideráveis enquanto o jogador activo pensa no que fazer. Se odeiam o problema de analysis paralysis então não recomendo este jogo. Este jogo é muito dado a esse problema e, como tal, poderá ser um factor negativo a considerar se o vosso grupo odeia analysis paralysis. Quanto a downtime, é considerável, mais considerável se se joga com o máximo de jogadores. Com o problema de analysis paralysis o downtime torna-se ainda mais problemático. Felizmente o jogo usa uma mecânica do jogador activo poder recrutar aliados para uma batalha, o que mitiga um pouco o downtime e obriga mais que um jogador a ficar activo durante a presente fase do jogo. Seja como for não esperem um jogo que é jogado rapidamente e em que o tempo de espera entre as vossas jogadas é mínimo. Este jogo tem um downtime acentuado, e como tal se não gostam de ficar à espera pela vossa jogada então não recomendo este jogo. O visual do jogo é interessante mas nada que chame a atenção de pessoas a passarem pelo grupo. Não é um boardgame bonito, mesmo no fim do jogo. Tem um visual mediano, que poderá criar um pouco de curiosidade às pessoas mas que não chama a atenção como o Serenissima ou o Mexica chamam, por exemplo. É um visual mediano, pouco interessante. Quanto ao tempo do jogo, será por volta de três horas, mas devido ao problema de analysis paralysis o jogo poderá se esticar para além das três horas, chegando facilmente às quatro e, em casos extremos, às seis horas. Mas é um tempo bem passado pois uma pessoa acaba por ficar viciada no jogo e não dá pelo tempo a passar. Quanto às mecânicas, este jogo é basicamente um area control game com batalhas à mistura e um pouco de leilões também. Este jogo consegue misturar todas as suas mecânicas e executá-las num todo que funciona muito bem e é cativante. É um bom exemplo de como usar mecânicas que não são originais e criar um jogo a partir dessas mecânicas que é maior que a soma das partes. No fim, o objectivo é termos o controlo do máximo de áreas possíveis, e como tal este jogo é dos melhores jogos de area control que conheço. E é isto. Adoro este boardgame. É incrivelmente viciante, dá para sete jogadores e joga-se muito bem. Então quando se joga com os sete jogadores todos este boardgame eleva-se e atinge um nível de excelência que poucos boardgames podem-se gabar de atingir. É um grande boardgame, dinâmico, complexo e pesado, tal como eu gosto. Há quem considere este jogo um Civ game. Não concordo. Lá por ter avanços tecnológicos em forma de tiles não faz do jogo um Civ game. Para mim este é um jogo de controle de área com avanços tecnológicos à mistura, mas está muito longe de ser um Civ game. Não estamos a criar uma civilização do nada, estamos somente a conquistar territórios. Não considero este o melhor jogo do Wallace. Embora o Struggle seja realmente muito bom, dos melhores que o Wallace fez até hoje, não é o melhor. Essa honra continua reservada ao Age Of Steam. Nem sequer é tão bom como o Liberte, mas é, para mim, o terceiro melhor jogo do Wallace. Um boardgame que só o Wallace poderia inventar. Este boardgame é realmente excelente, dos melhores que tenho e dos mais viciantes. Os jogadores estarão sempre a pedir para jogar a este jogo apesar do seu longo tempo de jogo, e isso diz muita coisa sobre o jogo. É um jogo extremamente divertido que nos treina o nosso sentido de jogar boardgames. É a execlência no design de boardgames, mesmo que não seja a excelência no design de manuais de regras. Extremamente recomendado, um boardgame obrigatório na colecção de qualquer grupo de jogadores. Obrigatório. 18 de 20. https://www.boardgamegeek.com/game/9625