TBDZ — inSane Kane

No passado dia 5 de Agosto foi lançado mais um número do Tertúlia.BD.Zine na Casa Gina, em Lisboa, como é costume à primeira 3ª-feira de cada mês. O editor, Geraldes Lino, aceitou uma proposta do Daniel Maia para se lançar um Ciclo de Homenagem a Robert E. Howard pelo centagésimo aniversário do seu nascimento.

A ideia era juntar várias duplas (argumentista e desenhador) para que tratassem juntos as várias personagens criadas pelo REH. Algumas das mais sonantes surgiram logo no ano de 2006, como é o caso de Conan, Kull e Sonja, mas só agora as restantes começam a surgir. O exemplo que vos mostro refere-se a Solomon Kane (com argumento meu e desenho de Dinis Vale) mas dentro de pouco tempo hão-de surgir mais números para Bran Mak Morn, o rei Picto, e Steve Corrigan, o marinheiro pugilista.

Sem mais delongas, deixo-vos as nossas páginas:

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E então, o que acharam do resultado!?

Banda desenhada eficiente com um fim inevitável e com uma perspectiva mais actual e crítica do personagem.

O traço é bom e nota-se as boas influências do Mignola e essa “escola” de comics.

Mas no fundo uma boa homenagem portuguesa a esse fabuloso personagem do Howard que nem todos conhecem. Sabias que vai sair uma nova série em BD do Solomon Kane?

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Não sou grande apreciado desse tipo de desenho, o que não retira em nada a qualidade do traço. No entanto, não posso concordar com a imagem de Solomon Kane como uma personagem atormentada por dúvidas. Nas histórias do Robert E. Howard, Kane é impulsionado por uma força que ele não sabe explicar mas à qual obedece. Ele próprio não hesita em seguir esse impulso e nunca se duvida que as forças contra as quais ele luta (Nakari e a sua tribo, os vampiros africanos, etc.) são maléficas. Neste aspecto, é uma visão muito preto e branco, embora muitos elementos das históras não o sejam tão preto no branco (muitas vezes, Kane recorre à magia negra contra os inimigos). Aqui temos um Kane fraco, na minha opinião, que ataca as criaturas e depois apercebe-se que são homens(?). E indirectamente contribui para o desentendimento entre colonos e nativos? O Kane do Robert E. Howard nunca teria dúvidas quanto às suas acções e nunca hesitaria em empunhar a sua espada contra o inimigo até porque esse inimigo nunca é inocente.


“I am naught but a wanderer, a landless man, but a friend to all in need.” - Solomon Kane, in Red Shadows.

[quote=jrmariano]Mas no fundo uma boa homenagem portuguesa a esse fabuloso personagem do Howard que nem todos conhecem. Sabias que vai sair uma nova série em BD do Solomon Kane?[/quote]

Em relação às personagens do REH acho que tenho o Kane num mesmo patamar que o Conan, apesar de me ter marcado imenso o filme quando eu era puto — foi a primeira vez que senti a perna dormente em toda a minha vida e fiquei com um medo do James Earl Jones que nem imaginam!

Quanto às BDs — estou à espera que saiam! Isso e a trilogia que vai sair adaptada para cinema...! Se bem que pelo que já li não me agrada muito a ideia de que o fundamento das acções do Kane seja apenas a espiação por males cometidos durante a guerra — mas lá está, é esperar pra ver.

[quote=dwarin]No entanto, não posso concordar com a imagem de Solomon Kane como uma personagem atormentada por dúvidas. Nas histórias do Robert E. Howard, Kane é impulsionado por uma força que ele não sabe explicar mas à qual obedece. (...) Neste aspecto, é uma visão muito preto e branco, embora muitos elementos das históras não o sejam tão preto no branco. (...) Aqui temos um Kane fraco, na minha opinião, que ataca as criaturas e depois apercebe-se que são homens(?).[/quote]

Compreendo até certo ponto o que queres dizer. Parece o regresso da figura do fã revoltado com a forma como foi tratada esta ou aquela personagem neste ou naquele filme. Não me leves a mal. Fiquei contente com o que disseste. Mas tenta perceber as minhas motivações:

O conto onde os Aakana aparecem, «Wings in the Night», foi o último (do Solomon Kane) a ser publicado ainda em vida de REHoward. Não quero revelar muito mas, a forma como eu entendi (ou escolhi entender, se preferires) que o Kane teria ficado depois dos acontecimentos aí reportados* fica já muito próxima da loucura!

A verdade é que eu sempre o achei um bocado louco — a sério, quem é que anda anos e anos atrás de um gajo, percorrendo uma data de países, desde a França à África? Um homem que mantém a palavra que deu a uma criança moribunda. Ok — mas também um gajo que não bate bem da bolinha... mas eu não vejo mal nenhum nisso! A sério, acho que se aceitarmos que as acções do Kane andam de mãos dadas com um certo grau de loucura a personagem ganha toda uma nova dimensão! E, na minha opinião, ganha com isso...!

Anyway, de volta ao «inSane Kane», eu quis fazer passar que o Kane se teria ficado a auto-culpabilizar pelo sofrimento que não pode evitar no seu passado. Era a culpa (e não a dúvida) que o perseguia até ao Novo Mundo. É a culpa que o afasta do aldeamento e é a culpa que o cega ao ponto de confundir os indígenas com Aakanas...


* SPOILER: A tribo acaba por ser completamente massacrada pelos Aakana sem que Kane o consiga impedir. Mas não sem lhes aplicar o devido corretivo later on.