Tichu - 100 partidas depois

Tichu


100 partidas depois
 
Joguei recentemente a minha 100ª partida de Tichu frente a frente. É o primeiro jogo para o qual atinjo esse número de partidas.
Porque não registo as partidas que faço online ou contra computadores, o Tichu acaba por ter este "privilégio".

Assim, e embora já tenha feito uma review a este jogo no passado, acho interessante à luz destes dois factores olhar de novo para este já clássico jogo de cartas.

Como a review anterior já falava sobre as bases do jogo, vou aqui falar um pouco mais sobre a minha história com ele, procurando assim dar alguma informação extra sobre o que faz com que seja aquele de que registei mais partidas no BGG e claramente aquele que é mais jogado nos encontros do Porto.

O meu primeiro registo de o ter jogado é de 5 de Novembro de 2007. Como faço registos de jogos jogados desde 2006, é relativamente fiável a ideia de que sejam de facto 100 as partidas que joguei. Por outro lado, só em 2009 é que ganhei o hábito de comentar as partidas que faço com breves notas sobre as mesmas.

É daqui que se podem retirar algumas notas sobre o que torna este jogo especial, além de tudo o que disse na análise / crítica já mencionada.

Um dos aspectos mais fascinantes do Tichu é a forma como uma equipa pode dar a volta ao marcador em algumas mãos com mais sorte ou mais bem jogadas.

Por exemplo:
em Julho de 2009 - "11 mãos para uma vitória minha e da João contra a Ana e o Júlio. De 860 a 40 fomos ganhar 1025 a 875 nas 4 mãos seguintes."
 
em Setembro de 2009 - "Completei uma partida no Lugar da Zenaida com a Alice como minha parceira contra Carla e Joana. Conseguimos recuperar de -40, 240 para vencer."
 
em Agosto de 2010 - "Eu e o Valentim contra Alex e Henrique. Ganhámos. Na última mão estávamos a perder 985 - 915. Acabámos os dois e com os 200 pontos retiramos a vitória das mandíbulas da derrota!"
 
em Janeiro de 2012 - "Partida entre mim e o Pedro Nuno, que jogava pela primeira vez, e o Paulo Augusto, também a aprender com o Diogo. Ganhámos mesmo na última mão com um Grand Tichu e acabando os dois ao mesmo tempo quando eles estavam com 975 pontos e nós com 725, mesmo comigo tendo jogado mal ao fazer o Grand Tichu."
 
em Agosto de 2014 - "Partida entre mim e Nogud contra Cat Ballou e Mjoo. Ganhámos fazendo um GT na penúltima mão em que elas ficaram a 5 pontos de vencer é depois com um Tichu acabando os dois para ganhar com 1005... Brilhante momento."
(Isto significa que ficamos 705 - 995 à entrada para a última mão tendo feito mais de 200 pontos na penúltima, ou seja, de quinhentos e qualquer coisa para ganhar por 10 pontos no final...)

E portanto, no Tichu nada está terminado "até a senhora gorda cantar"...
Tudo isto deixa perceber que é um jogo emocionante e que proporciona momentos de tensão e excitação memoráveis.

Mas não é só isso. Mesmo as derrotas podem ser momentos a recordar.

Por exemplo:
em Fevereiro de 2010 - "Eu e a Zenaida contra a Cat Ballou e Wonderland. Não tivemos hipótese. A Wonderland estava em modo Dragonlady e até teve tempo para uma bomba de 7 cartas na única mão em que pensei que iria ser o primeiro a acabar... 1040 - 360... uma razia!"
 
em Março de 2010 - "Eu e o Dr. Zodiakus contra Zenaida e Susana. Fomos trucidados... 1270-130."

Esta última deu origem a uma rivalidadezinha que ainda está por resolver:
em Maio 2010 - "Mais um duelo gajos (eu e o Evangelista) vs gajas (Zenaida e Susana). Ganhámos com grande margem. 1-1 nos duelos."
... Quando se decide este empate, Dr. Zodiakus e Susana?

Ou então por riscos absurdos e "picanços"  bem-humorados como em Dezembro de 2010:
"Partida entre mim e o Hélder contra Valentim e Henrique. Ganhámos com alguma facilidade e sorte nas mão que nos foram saindo mas o encontro fica marcado pela possibilidade do melhor terminus para uma partida de Tichu de sempre.
Connosco a ganhar 990 - 110 o Henrique, meu adversário da direita diz: "Agora o Pedro diz Grand Tichu no escuro e acabam assim". Naturalmente, disse. A minha mão acaba por não ser má. Passo o cão ao Hélder e recebo dele o Dragão. A minha mão é um full, uma sequência razoável de 6 cartas e Rei, Ás e Dragão. Com o Cão na mão do Hélder e sendo ele a começar disse: "Está nas tuas mão parceiro." Algo normalmente não faria, mas não resisti. O meu plano é abrir com o Full... Se este passar a sequência a seguir. Se não passar, apanhar a mão numa carta isolada assim que possível com o Dragão e depois sequência, e com Ás e Rei para o fim seria talvez simples acabar em primeiro. O Hélder não percebe e vem de single confiando no Dragão que me deu. Sou o único jogador sem bomba e acaba o Valentim por conseguir um Tichu. Mas se ele começa de Cão, estou convencido que teríamos acabado com um Grand Tichu no escuro... Inesquecível."

Se quiserem ver todas as minhas partidas deste jogo e respectivos comentários, estão aqui. Mas estes são alguns destaques que mostram facetas do jogo e dos momentos que proporciona.

E, como alguns bons jogos de cartas tradicioinais (Bridge, Canasta, King, etc.), quanto mais se joga, mais camadas de táctica e estratégia se vão descobrindo.
Os dois momentos principais do jogo vão sendo motivo de análise, estudo e teorização mais ou menos séria e habitual. Como e que cartas passar no início? Qual a convenção que ambos os parceiros devem usar para o fazer? De que forma jogar certas mãos? Qual a melhor forma de apoiar um parceiro que diz "Tichu" ou de tentar impedir que os adversários o façam? O que fazer em situação de desvantagem clara, dizer "Tichus" à maluca ou tentar ser mais conservador e amealhar pontos lentamente?

São essas camadas de análise, aliadas aos excelentes momentos que já me proporcionou, que fazem com que este seja um jogo que me vejo, sem grandes dificuldades, jogar até ao final da vida.

Venham as próximas centenas...

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o Tichu é um excelente jogo! Porém, seja fácil de aprender, pode não ser fácil de se bem jogar.



Em minha opinião, acho que no Porto se joga Tichu de forma muito conservadora (poucos tichus (talvez) por medo de falhar as apostas). Mas, não deixa de ser curioso que ainda assim seja o jogo mais jogado pelo grupo. Certamente, porque há algo no jogo que não salta à vista.



Para se descobrir que mistério possa estar escondido, deve-se assumir o desafio de começar a abordar o jogo sem medo de apostar. Assim, apostar tichu simples em mais de 50% dos turnos, deveria estar sempre no espírito de cada jogador. Não é fácil, claro, mas não deixa de tornar o jogo muito mais aliciante!



Aliás, eu, o Lautresault, o Ward e a Mafalda já testamos essa abordagem numa sessão que tinha como objectivo testar essa liberdade do jogo, ou seja, com apostas sem medo. O resultado não poderia ser melhor. Turnos com apostas de tichu e contra-tichu foram vários e praticamente se contaram pelos dedos de uma mão as vezes em que não houve uma aposta! E, dessa forma a diversão foi imensa. Pois o jogo transforma-se. Deixa de parecer um peso nas mãos dos jogadores (que muitas e recorrentes vezes libertam as cartas mais influentes porque não sabem utilizá-las ou têm medo de as utilizar) para ser um risco divertido, sem qualquer drama perante a derrota. Afinal, uma aposta de tichu simples equivale a 100 pontos, pelo que, perdendo, só se perde 100 pontos.



No entanto, uma abordagem livre como esta pode impedir de se avançar na tabela dos pontos, por causa dos pontos negativos que se possam ir acumulando. Sobretudo, se as equipas (ou os jogadores) não estiverem rotinados com o jogo.



Assim, de modo a evitar tal situação, dever-se-ia compreender alguns princípios e rotinas do jogo. De facto, existem alguns princípios, aos quais se associam algumas mecânicas ou rotinas de jogo, que podem ser aprendidas pelos jogadores. Eu aconselho a quem queira aprender a ler um artigo sobre este preciso tema da liberdade do jogo, por um dos gurus do tichu, Aaron Fuegi (link abaixo):

https://scv.bu.edu/~aarondf/Games/Tichu/tichu_strategy.html



Mas, se fizerem parte do grupo boardgamers do Porto, podem sempre solicitar os inestimáveis conhecimentos do Valentim!



E, para os jogadores novos de tichu, o que importa é compreender que este é um jogo que merece ser jogado bem, sim, mas principalmente, ser jogado sem medo.