Estava a ver no Domingo o Tempo Extra e confesso que sinto um certo fascínio pelo Rui Santos, principalmente pelo seu ar de entendido e a sua profunda crença que as suas ideias e opiniões são levadas a sério por milhares de aficionados do desporto rei. Ora, ao vê-lo tão espampanante senti a necessidade de o imitar e começar a disparar opiniões. Decidi então alvitrar sobre jogos de tabuleiro e sobre o ano 2009.
Aqui ficam algumas considerações em jeito de balanço.
Mais jogadores
Bem, não é novidade nenhuma, mas as pessoas já vão conhecendo jogos para além dos sucessos comerciais da Parker. Lembro-me que, há relativamente pouco tempo, digo três ou quatro anos, ninguém jogava a nada. Agora, felizmente, as coisas já não são bem assim. Descubro em conversas ocasionais que se joga imenso Catan. As pessoas falam do jogo. E o mais interessante é que, quem o compra, fá-lo porque já está farto do Monopólio e decide experimentar algo novo. E melhor, passa noites inteiras com amigos na “Catanzada”.
Por outro lado recebo muitos mails de malta que procura jogos de tabuleiro e tem a infelicidade de dar com o blog. Quase todos os que escrevem já conhecem o Catan e querem dar continuidade ao hobby. Querem-se apenas certificar que compram o jogo certo.
Coitados, mal eles sabem que foram bater à porta errada…
Editoras
De início era um pouco crítico em relação às editoras/distribuidoras em Portugal. Na verdade criticava o facto de pouco fazerem pelo hobby. Os preços eram exorbitantes e aproveitavam-se bastante de toda a divulgação feita pelos jogadores para venderem os seus produtos. Mas agora dou a mão à palmatória e é com bastante agrado que vejo uma aposta forte em traduzir jogos e colocá-los no mercado. A Morapiaf na área dos familiares que editou o Dixit e o GiftTrap, a Runa com o Ticket e agora com os projectos Agrícola e Alta Tensão, a Devir com Puerto Rico, Stone Age e Steam. Muito boas notícias sem dúvida. O céu, agora, é o limite.
Por outro lado empresas como a Loot e a Diver conseguem ter os preços competitivos e alguém que queira comprar apenas um ou dois jogos consegue-o fazer com portes baratos. O único senão é o catálogo ser reduzido. Nem sempre têm o jogo que queremos, principalmente os mais antigos o que de alguma forma dificulta a vida de quem quer encomendar muito.
Mais uma prova que não há nada como a concorrência para pôr as coisas nos eixos.
Falta apenas os jogos chegarem aos hipermercados, mas penso que com mais títulos traduzidos o investimento inicial necessário também se torna mais fácil de recuperar.
Sites e Blogues
Bem eu não sou exemplo para ninguém, o jogosdetabuleiro está moribundo, mas continua a existir felizmente uma extensa e bastante interessante azáfama virtual onde se escreve com entusiasmo e perseverança. O SpielPortugal, convenhamos, também já viu melhores dias mas há que realçar os recentes vídeos e principalmente o jeito do Sr. que apresenta lá o programa de televisão que consegue dar uma vitalidade diferente aquilo a que nós chamamos de crítica.
Mas os maiores aplausos vão, na minha opinião, para o Dreamswithboardgames que contribui para a tradução em série de regras e que serviu, talvez, para abrir um bocado a mentalidade de quem ganha com o negócio. Agora já se percebeu que, se calhar, traduzir regras não é uma má ideia.
Aplauso também para o Jogoeu que vai dando notícias e aborda o tema numa perspectiva mais informativa o que é óptimo e refrescante.
Por fim dei recentemente uma vista de olhos pelo Tujogas e o projecto é muito ambicioso e reflecte um pouco aquilo que os jogos de tabuleiro já representam em Portugal. Já se ultrapassou a fase embrionária. Muitos parabéns e também muitas felicidades!
Divulgação
Em termos de divulgação chegou-se a um patamar bem mais alto do que aquilo que eu alguma vez esperava quando comecei a lançar dados. Ele são aparições na RTP, no AXN, são entrevistas no Rádio Clube e sei lá que mais.
Por outro lado os consecutivos encontros, tanto em Lisboa como no Porto, passando por Bragança, Leiria, Abrantes, Aveiro são prova que a malta se mexe. Acho que ainda permanece a dificuldade em divulgar mais estes eventos mas, pelo que vejo, têm sido concorridos e o número de visitantes tem também subido. Noto apenas que a sul do Tejo o marasmo continua e urge a organização dum encontro deste género.
Nota ainda para a fama do LeiriaCom. Pelo menos os designers conhecem ou já ouviram falar dela. Isso é muito positivo para o espírito do encontro e principalmente para convencer os autores a aparecerem todos os anos.
Designers
A grande novidade deste ano são os autores portugueses que saíram da casca e têm aparecido com as suas criações. Confesso que ainda não tive a oportunidade de jogar a nenhum mas não deixa de ser positivo que existam jogos editados de criadores portugueses. Gil Orey e o Vital Lacerda estão em grande. Além disso tiveram a inteligência e o sentido de oportunidade de pegarem em temas portugueses o que não deixa de ser uma vantagem.
Esperemos que para o ano hajam mais nomes a emergir da garagem.
E pronto, os meus 15 minutos de Rui Santos passaram e sinto um alívio enorme de pôr isto tudo cá para fora.