Traduções - a discórdia

Este tópico não é tanto sobre os RPGs em si mas as versões que cada um joga. Já há algum tempo que me ando a perguntar se não se conseguiria traduzir com sucesso os livros de RPGs para português, mas o estigma em 'Tugal das versões brasileiras faz com que muita gente se arrepie quando ouve falar em traduções. É certo que obras literárias devem ser lidas no seu original, pois só assim conseguimos tirar todo o sentido que o autor quis dar aos textos. Os RPGs não são excepção, mesmo que sejam mais manuais do que histórias em si. Mas nem todos conseguem ler bem inglês (ou outra lingua, porque não) e nem sempre ficam com a ideia correcta que o livro quer transmitir.

Tenho andado a traduzir as coisas involuntariamente nas minhas últimas sessões de Requiem. Stats, rolls, acções que toda a gente tem por hábito dizer no seu original inglês, eu ponho tudo em português, e digo que não desgosto do resultado (quantas vezes já não disse “Movimento Cartiano”, “Ordem do Dragão”, Senescal, frenezim, etc., e os meus jogadores apercebem-se disso). A maior parte das vezes que alguém acha uma tradução má é porque não gosta da maneira que a tradução soa. Está tão habituado a dizer numa língua estrangeira que nem se apercebe que em qualquer língua que se diga, os nativos dessa língua acham estúpido.

Que me dizem vocês a isto? Jogariam uma boa tradução de um popular RPG, mesmo com os seus termos “estúpidos” ou preferem manter a pureza da língua de criação e fazer as sessões em duas/três/whatever línguas?

Sinceramente, e na minha opinião, acho que quem menospreza qualquer tradução de um RPG da sua língua original para Português porque a considera logo à partida inferior e um sinal de conspurcação do conteúdo é piquinhas e elitista. Se houvesse um RPG de grande tiragem traduzido em Português norma Continental e houvesse uma campanha de marketing minimamente visível o hobby tinha outra existência cá em Portugal. Nunca percebi porque é que a Devir ainda não publicou o D&D Basic Game em Português e tentou vendê-lo como um jogo familiar em Papelarias, Tabacarias, Lojas de Brinquedos ou até Hiper-Mercados! Ou quem sabe, o World of Darkness? Nem pude comprar o D&D em PT para um primo mais novo porque não existe à venda na loja da Devir nem através de encomenda! Estranho não? Enfim...

A tradução de qualquer livro, inclusive os de RPG, não é má por si, existem é boas e más traduções. Os nosso vizinhos Espanhois fazem boas traduções e até layouts que não se distinguem dos jogos originais! E por exemplo, teria eu que aprender alemão para jogar o Engel da alemã Feder & Schwert porque de certeza está mais fiel? Não, espero pela tradução em inglês, certo?

Claro que a tradução não é uma técnica fácil e é preciso talento e competência. Os melhores tradutores são grandes conhecedores e manipuladores de ambas as línguas, especialmente a língua-alvo. Costumam ser eles próprios autores. Caso de Eça de Queirós e as Minas de Salomão ("superior até ao original" como diz na capa!). E existem especificidade semânticas que não podem ser exactamente traduzidas. Tem que se adaptar e recriar. Como dizia Dante, "tradutor, traidor!".

Por exemplo, e já que se falou de Vampire, tentem traduzir "Embrace" ou pior ainda, "Kindred", sem sair algo rídiculo, descontextualizado ou que "soe mal". Não é fácil pois não?

Pois é, acho que se devia apreciar mais o trabalho dos tradutores e por conseguinte exigir-lhes qualidade, claro! :)

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Concordo com a maior parte do teu post, no entanto tenho um pequeno reparo a fazer:

 A nivel de RPGs, e isto dito pelos próprios, as traduçoes espanholas sao do PIOR que há. Tal como em Portugal, preferem comprar os livros originais, em Ingles, a ler as traduçoes.

[quote=The_Watcher]Que me dizem vocês a isto? Jogariam uma boa tradução de um popular RPG, mesmo com os seus termos "estúpidos" ou preferem manter a pureza da língua de criação e fazer as sessões em duas/três/whatever línguas?[/quote]

 

Bom, eu prefiro sempre as versoes originais... o facto de misturar termos ingleses com portugueses nunca me criou confusao nem problemas. No entanto, concordo contigo quando dizes que, se houvessem traduçoes decentes. provavelmente o hobby tinha muitos mais adeptos, e provavelmente era muito mais apelativo para as camadas jovens

As traduções são essenciais, pois. Se houver escolha (ou seja, se estiver escrito em Inglês) prefiro o original, caso contrário uma tradução razoável é melhor que nada. Como fã de Kult, sou um dos muitos roleplayers por esse mundo fora que lamenta não saber Sueco, para ler a edição original do jogo, que supostamente é ainda mais à frente que a versão inglesa.

De resto, se não fosse uma certa caixinha vermelha de D&D em Português que a Europa-América fez o grande favor de colocar à venda nas livrarias há muitos anos, acho que não estava aqui hoje. É por isso que nunca me fez confusão usar termos como Força em vez de Strenght, Destreza em vez de Dexterity, Sabedoria em vez de Wisdom, PX em vez de XP, etc. Nos meus jogos de Cthulhu, por exemplo, quando usava termos ingleses era em conjunto com os portugueses, e mesmo assim só para benefício dos jogadores novatos, para eles saberem que quando eu pedia um "teste à Força/Strenght" eles entendessem facilmente que eu queria um teste ao atributo STR na folha de personagem deles.

Bom, e depois de dizer que usar termos Portugueses é completamente natural para mim, a verdade é que quando o termo não tem uma tradução fácil ou directa ou pelo menos curta q.b. em Português, lá vai o termo inglês sem sequer pensar duas vezes. Nos jogos de PTA é Screen Presence para lá, Fan Mail para cá, Traits, Edges, até mesmo Connections, e, claro, o melhor de tudo que são os Issues.

Traduções não ficam propriamente baratas (+-15€ por página, dependendo das linguas) e core books são coisas tão cheias de termos técnicos e próprios que um tradutor habitual fugiria deles como o diabo da cruz! E mesmo encontrando quem fizesse a tradução, e editora que pusesse o livro cá fora (Devir Livraria seria sem dúvida a escolha indicada), há o problema de colocação no mercado. Colocá-lo como jogo de família seria uma opção interessante, até porque muitos jogadores hard-core já têm família ou estão prestes a formar uma. O problema seria as restantes pessoas. Francamente não vejo o comum português a olhar para D&D traduzido com o minimo interesse (talvez gostasse das imagens!), e também temos de admitir: RPGs são coisas muito geeks, e não é qualquer um que se encafua uma tarde inteira em casa a fazer de elfo com os amigos. Com estes cenários pode-se discernir bem porque é que tantos RPGs ainda não viram a luz do dia em português. Não quero ir ao ponto de dizer que somos um povo tacanho e retrogrado, mas tem de haver receptividade para os livros.

Realmente é um sonho meu comprar um RPG em português (europeu) e joga-lo com gosto nesta lingua, mas com a falta de divulgação que estes jogos têm, acho que ainda está longe o tempo de isso acontecer. Entretanto vão-se traduzindo como se podem, pelos escassos grupos de jogo no país.

Este ano vamos pedir ao Pai Natal uma tradução em português de um qualquer RPG, pode ser que nos ouça e pense que nos portamos bem o suficiente ;-)


Light allows us to see, Darkness forces us to create...

 

hhmmm, acho que o ric já disse muito bem  tudo ou quase tudo o que queria dizer. Comecei da mesma maneira e, neste aspecto, parece-me que funciono da mesma maneira (embora o PX em vez do XP faça-me contorcer involuntariamente a cara num espasmo esquisito :P PX faz-me pensar mais em peixe do que em "pontos de experiência", argh).

Anyway, respondendo à pergunta original, duvido muito que jogasse um jogo traduzido para PT. Jogaria um jogo feito originalmente em PT, isso é outra conversa. Traduções para mim, são importantes sim para quem não conhece a lingua original, fora isso nem por os olhos nelas.

Já joguei um jogo traduzido para espanhol mas mesmo assim usámos por natureza e intuição os termos técnicos em inglês! O jogo era Runequest, traduzido de inglês para espanhol.

O português durante o jogo aparece nas conversas correntes, descrições, conversas paralelas, etc, mas termos técnicos vão sempre em inglês.

Acontece-me o mesmo na informática. Não digo correio electrónico, digo E-Mail ou só Mail. Não digo arroba (que aliás me provoca o mesmo espasmo facial involuntário), digo at, etc etc.

Nada disto é algo que me interesse em mudar, pelo menos a nível pessoal. Nem é algo que me preocupa a um nível mais geral. Acho que podia ser interessante para quem não tem acesso ao inglês, fazerem-se algumas traduções para o português, embora sinceramente, com as traduções brasileiras não é preciso ter-se acesso ao inglês. Mesmo que não se goste de brasileiro é sempre melhor do que nada. 

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[B0rg]
We r all as one!!
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