Folium VII
Gelo Brilhante, dia 24
Volto ao relato das nossas aventuras antes da Desolação. Depois de termos ajudado o Capitão da Guarda a partir definitivamente deste mundo, tentámos então entrar no templo. O templo era uma construção em forma de mastaba sobre um grande planalto rochoso, medindo talvez 30 metros por 180, e com uma altura de cerca de 15m. Subia-se por uma escada de pedra já um tanto arruinada (pudera!) guardada por cinco estátuas de cada lado. Todas as estátuas eram de deuses da luz, como pude perceber. Mais acima, à entrada do templo propriamente dito, estavam duas estátuas mais, uma feminina e outra masculina, mas ambas decepadas. No entanto, por entre os destroços que os séculos ainda não tinham reduzido a pó, pude encontrar as cabeças que faltavam, e reconhecer nos guardiães do templo as imagens de Paladino e Mishakal. A visão de tamanha barbaridade e tamanha ofensa aos meus deuses encheu-me de pena, mas não de raiva. Certamente, a minha presença ali naquele momento não era certamente alheia a essa destruição, e embora não tivesse podido fazer nada no passado, acredito ainda hoje que posso fazer algo pelo futuro daquele lugar.
É certo que já saí de Hurim, e que quando o fiz tudo ficou na mesma. Mas a Esperança cresce, e pode mudar muita coisa. Hoje sou mais forte do que quando entrei, e mesmo Paladino já não sendo mais que um elfo mortal, o legado que Ele havia deixado no templo vive hoje nas minhas mãos. E juro à Sua memória, e por minha honra a Kiri-Jolith e Habbakuk que nada me fará desistir da minha missão senão a Morte.
Entrámos então no templo. Era o dia 8 de Gelo Brilhante, e pela primeira vez em milhares de anos, pés mortais ecoavam na pedra fria. Ou pelo menos, assim pensava eu. Preparámo-nos para descansar da longa viagem, e deixámos a exploração para o dia seguinte.
Quando a luz do dia chegou, partimos em reconhecimento. Lembro-me que foi aí que começaram as visões. Enquanto estivemos em Hurim, várias imagens fantasmagóricas acabaram por nos contar a história daquela noite de maldição, quando os Ogres invadiram o Templo e mataram todos os padres que lá viviam. Vimos cenas horríveis de jovens e velhos surpreendidos pelo ataque e incapazes de resistir à violência dos invasores. Vimos o Traidor, um sacerdote de Chemosh que se fazia passar por adorador de Mishakal e que vivia no templo. Vimo-lo a discutir com o Chefe dos Ogres alguns pormenores da invasão, e percebemos que ambos obedeciam a uma Rainha. Será Takhisis? Na altura, espantei-me, pensando que não podia ser ela, pois morreu na Guerra dos Espíritos. Mas depois lembrei-me que esta destruição aconteceu há bastante tempo, segundo Alacar, antes do primeiro Cataclismo! Takhisis estava bem viva nessa altura, e ainda teve tempo de fazer muito mal depois disso…
A viagem pelo templo não foi fácil. Apesar de abandonado, o mal continuava lá muito presente e criaturas malignas ainda lá viviam. Tivemos de lutar com aranhas e até com um monstro que tinha a extraordinária capacidade de se disfarçar de porta de cela. Enganou bem o Karol, que quase morreu. Eu e o Zidnerpa partimos à frente para explorar o andar de baixo. Não é que eu quisesse, mas apesar de tudo, o Zidnerpa ainda era parte do grupo e eu recuso-me a deixar alguém morrer, mesmo ele. Como mais ninguém queria acompanhá.lo na descida, eu fui com ele para não o deixar sozinho e indefeso. Acabou por não ser necessário. Ainda assim, ele desconfiava que existissem por ali umas aberrações que ele chamou de gelatinas e achou por bem incinerar uma sala inteira com um dos seus feitiços.
Quando voltámos acima, descobrimos que os outros tinham ido descansar para fora do templo, pois parecia que o exterior devia ser mais pacífico que estas catacumbas amaldiçoadas. Mas para espanto nosso descobrimos que também ali tinham tido problemas com os perigos da noite. Realmente, para lugar abandonado, isto estava mesmo muito povoado. Mas mais impressionados ficámos quando mais tarde, ao descermos de novo an segundo nível, descobrimos numa grande área central, dotada de várias portas, outra personagem viva: afinal, não éramos os primeiros a explorar este templo.