Viabilidade de um RPG tuga

Ok, acho que se pode continuar aqui a discussão. Que hipótese de se criar um rpg comercial e ter sucesso. Talvez em PDF?

Para quem tiver interessado: "A Sabedoria dos Mortos" de Rodolfo Martinez, um livro onde Sherlock Holmes se defronta com seitas adoradoras do Mythos, como por exemplo a Golden Dawn.

"the drunks of the Red-Piss Legion refuse to be vanquished"

1500 3xemplares de um RPG em Portugal não é muito? Duvido que entre GM e jogadores haja tanta gente a jogar CoC nas terras lusas.

1500 cópias não é muito fácil de vender em Portugal, especialmente porque um livro desses seria extremamente caro (os originais americanos já o são, com os custos de tradução e impressão ainda o seriam mais). A única hipótese seria se fosse possível distribuí-lo também no Brasil e uns exemplarzitos para a Galiza.

1500 é um número aceitável, entre o risco e o seguro.

Julgo que seria perfeitamente possível de vender 1500 cópias de um rpg, fosse qual fosse (ok, um tema minimamente atraente…), se fosse posto ao lado dos livros que realmente vendem. Por um livro assim ao lado de um Harry Potter é diferente de o remeter para a secção do Noddy. Pô-lo num sitio visível, também ajudava. Lançá-lo numa altura tradicionalmente associada a jogos também (Natal?). E claro, como já foi dito, apostar também no mercado estrangeiro.

Edit: a maior parte das livrarias e tabacarias agora também tem jogos. É giro de ver um baralho de Magic ao lado de um maço de Marlboro. Isto para dizer que é relativamente fácil de distribuir massivamente um produto assim, desde que se pense fora da caixa.

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Alguém muito sábio disse uma vez: “So, Trebek, we meet again! The game’s afoot!”

Depende. Lembra-te que estamos a falar de livros (e grandes calhamaços, na verdade) no país com mais alta taxa de analfabetismo e maior percentagem de abandono escolar no ensino secundário da Europa.
O exemplo que dás do Magic é de um produto que já tem um mercado consolidado, o que não acontece com os RPGs. Depois, as cartas são produtos relativamente baratos (10-15 euros), enquanto que o investimento inicial no livro de RPG é na ordem dos (30-40 euros). Ninguém gasta esse dinheiro se não tiver a certeza de que está a comprar uma coisa que quer realmente.
Depois, colocar produtos ao lado do Harry Potter não é assim tão fácil quanto isso. Primeiro porque o melhor produto para se colocar ao lado do Harry Potter (na perspectiva do vendedor) é MAIS Harry Potter. Depois, isso são lugares apetecíveis, que normalmente são muito disputados por todas as editoras (normalmente o próprio editor do Harry Potter negoceia com as livrarias para pôr outros livros seus ao lado do Harry Potter). Para se conseguir um lugar desses era necessário muita força negocial.
Para além disso, em Portugal publicam-se (pelo menos) 1000 livros por mês e há cada vez menos livrarias, pelo que estas têm só aquilo que sabem que vão vender à partida.
Quanto aos quiosques, não só estes estão entupidos de encartes de jornal, como há o factor psicológico: tu tinhas confiança para gastar 40 euros a comprar um produto estranho a uma idosa desdentada e semi-analfabeta dentro de um quiosque de vão de escada a cheirar a cão?

Não digo que seja inviável vender RPGs em Portugal, mas isso passaria por uma estratégia concertada de promoção e divulgação e não apenas de pôr uns livros em português nuns quiosques.
Por exemplo, ter um portal a explicar o que são RPGs, a facultar regras e aventuras gratuitas, a promover sessões de demonstração de RPGs para principiantes, etc.

Mas não de insucesso escolar pois agora passa tudo até ao 9º ano!!!*

    • não é bem assim, na realidade o trabalhão que dá aos profs chumbar um aluno é tanto que só em última instância é que estes o fazem, em vez de queimarem parte das férias de Verão em reuniões por causa dos chumbos!! Welcome to Portugal!! LOL

Manuel Pombeiro
a.k.a.Firepigeon
LUDO ERGO SUM

Basicamente teria de se convencer a FNAC a apostar numa coisa dessas ("O primeiro RPG poprtuguês" e esperar que aparecessem daqueles compradores que levam tudo o que seja estranho. Duvido é que a FNAC se arriscasse a uma coisa dessas.

A FNAC já vendeu RPGs, maioritariamente Vampire The Masquerade se a memória não me falha.

Provavelmente o fraco lucro fê-los mudar de ideias.

"the drunks of the Red-Piss Legion refuse to be vanquished"

E D&D. A FNAC do chiado ainda tem lá os manuais base, escondidos num canto…

Evil never dies, it just waits to be reborn…

Há uns anos atrás a Valentim de Carvalho do Shoping Cidade do Porto também vendia DD; um amigo meu comprou a maioria do material, mas eles nunca puseram mais nada à venda.

Efectivamente devem existir menos de 1500 jogadores de RPG em Portugal, estão normalmente distribuídos pelos grandes centros urbanos (que o diga o Tirolês que anda por Ponte de Lima sem ter grupo) e são normalmente estudantes do secundários, universitários ou jovens profissionais (o Jmendes é uma das excepções, :P ).

O desafio começa logo na criação ou escolha do produto. Que produto (totalmente em Português) era capaz de aliciar a maioria dos jogadores já existentes e atrair novos jogadores? Porque mesmo que se traduza um produto já estabelecido este tem que oferecer algo igualmente valioso aos jogadores regulares quando com os produtos que eles já importam. Aos novos jogadores têm que oferecer um alternativa boa a todos os tipos de entretenimentos que já possuem. A uma empresa/editora que se meta nisso tem que lhe trazer alguma compensação financeira.

A parte da concretização não é o mais difícil, incluindo o suporte on-line e off-line, a impressão e a distribuição, desde que haja algum investimento. Com um bom produto arranja-se investimento, pois pode dar algum lucro explosivo inesperado como aconteceu no Brazil com os RPGs mas em mais pequena escala.

Os outros mercados além do nosso país são uma forte hipótese num mundo cada vez mais globalizado mas se não for um produto original o mais provável é já alguém o ter traduzido e publicado.

Mas esta discussão já está a escapar um bocado ao tema e ainda por cima por minha causa. Alguém quer abrir um novo tópico acerca disto?

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Sim e não só. A hipótese mais exequível passa por Print on Demand (ou seja o sistema do "imprimi-se apenas as cópias de que se precisa vender". Basta ires ao site da Lulu Press, aqui, uma empresa de PoD que não só te imprime o livro, como o disponibiliza no próprio site para venda sem teres de pagar nada. Das vendas dos livros é retirada uma pequena comissão pela empresa e o resto do lucro é para o autor. Tem alguns inconvenientes: é na internet, o site não tem interface em PT, e o centro de impressão mais próximo é na Espanha (o que pelo menos não passa pela alfândega, acho).

Existe uma empresa espanhola de PoD, a Publidisa, site aqui, sediada em Portugal, que o tal colaborador indicou com sendo profissional e acessível. Mas esta requere investimento base para a impressão.

A questão é: será que o interesse em comprar/publicar um RPG PT não é só dos que são capazes de contribuir para esta conversa?

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Xa-me mudar para modo Economista.

As empresas com grandes montantes de capital disponivel normalmente respondem à tua pergunta fazendo um estudo de mercado.

O que é impossivel para nós fazermos, pois um estudo de mercado requer um grande, enorme, investimento.

Não há realmente uma maneira segura de responder à tua pergunta. A minha sugestão, que é subjectiva embora tenha os seus fundamentos levemente válidos, seria descobrires o que uma pessoa que nunca tenha ouvido falar de pensa sobre a ideia de jogar RPGs. Como fazer isso? Abordas estranhos na rua e perguntas. Basicamente é uma espécie de mini-estatistica subjectiva pois é dificil, desta maneira, arranjar um número de pessoas com gostos e necessidades diferentes. Mas, ficavas com uma melhor ideia do que agora se o RPG faria sucesso ou não.

Claro, esta sugestão é subjectiva e nenhum economista faria isso, mas para este caso onde não há capital para investir num estudo de mercado, poderá ser a melhor solução que se pode arranjar em cima da hora.


“You can not escape me!” he roared. “Lead me into a trap and I’ll pile the heads of your kinsmen at your feet! Hide from me and I’ll tear apart the mountains to find you! I’ll follow you to hell!”

A hipótese de ter um RPG comercial e ter sucesso é simples: basta ter gente em quantidade suficiente a jogar.
Em termos genéricos, para qualquer produto: basta que haja um número mínimo de consumidores para um produtor ser comercial (i.e. lucrativo).

Porque é que o Magic teve sucesso a certa altura? Porque houve uns carolas que ouviram falar, compraram e foram jogar para a escola. Os colegas viram, pediram para jogar, jogaram ficaram viciados, foram comprar o seu baralho.
É assim que a coisa funciona.

O problema é que os RPGs têm muitos factores contra a sua viabilidade comercial, mesmo a nível internacional:

  • muita concorrência (jogos online, jogos de computador, filmes, etc.)

  • muito investimento temporal (comprar os livros, ler os livros, criar as aventuras, criar as personagens, arranjar um grupo, conciliar interesses de estilos e jogos, marcar encontros, ir aos encontros, ver se não falhou ninguém nos encontros, manter encontros regulares) com riscos de pouco retorno (jogadores que não aparecem, aventuras pouco satisfatórias, morte dos PCs, zangas entre jogadores, suplementos que nunca são usados, etc.).

  • modelo comercial pouco viável: num grupo de três ou quatro jogadores só um é que precisa de comprar os materiais. Ou seja, em 100% de utilizadores só há 25% de consumidores. É o pesadelo de qualquer marketeiro.

E esqueces-te que muito pessoal faz download da net ou fotocopia os manuais, o que ainda diminui mais os consumidores…

E eu comprei toda a minha colecção de Dark Sun na extinta Valentim de Carvalho da Baixa.

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Alguém muito sábio disse uma vez: “So, Trebek, we meet again! The game’s afoot!”

Eu fui um desses carolas que comprei Magic e ia para o secundário jogar isso no bar. Ainda me lembro das caras parvas do pessoal que passava e pensava que eramos loucos. Depois toda a gente começou a jogar e eu comecei a jogar Vampire: The Eternal Struggle. :D

Tudo razões comprovadas que inviabilizam ser um super-sucesso comercial. Daí eu achar que tem de se encontrar um novo modelo comercial para os RPGs e ter feito o desafio do RPG Trifásico no grupo dos Designers - RPG.

Mas mesmo sabendo isso tudo será que não se consegue publicar um jogo sem dar prejuízo?

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Esquecer não me esqueci, mas isso é um problema que afecta tudo agora, desde a música, filmes, jogos, livros e RPGs.

O que me esqueci foi de que os RPGs têm outro problema: qualquer pessoa pode inventar um RPG razoável, desde que tenha tempo e vontade para isso (copiam-se as regras daqui, vai-se buscar um setting ali, etc.).

(A primeira sessão de RPG que mestrei foi com uma versão adaptada do FUDGE e o setting dos livros das Aventuras Fantásticas. Correu mal, mas isso foi porque eu não tinha prática e os jogadores também não.)

Ou seja, os primeiros concorrentes da “indústria” são os próprios consumidores.

Um estudo de mercado custa dinheiro mas não é impossível. Mas que fazer primeiro? O estudo de mercado ou desenvolvimento de um produto?

O que é exactamente o Valor de Produto de um RPG para vocês?

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa