Yspahan - crítica

receber a ideia...
"Então e agora que somos grandes jogadores de eurogames é que vamos jogar um jogo com dados?"
"Está tudo doido? Então e a aleatoriedade? Eu não sei se consigo lidar com isso..."
"Epá, e se jogássemos xadrez em vez disso? É que eu acho que o pessoal vai ficar mal."
"Xiiii, tanto dado.... porra."
os argumentos...
"(...) e não há uma única lista de jogos de Essen que não traga Yspahan."
"É um dos jogos mais aguardados do ano". "Vocês sabem bem que a Ystari não sabe fazer jogos maus..."
e o Óscar vai para...
"isto demora, no máximo, 45 minutos, depois podemos jogar outra coisa"
a anuência...
"45 minutos? Ok. Parece-me bem. Podemos experimentar."
"Por mim..."
'Bora lá..."
As trocas comerciais de Yspahan são menos negociadas que isto. Basicamente, cada jogador faz o seu trabalho, embarcando na caravana de camelos os seus produtos, enchendo os bairros à cata de pontos vitória. No fim de cada semana, sem que haja grande actividade difamatória ou concorrencial entre os comerciantes da cidade, contam-se os pontinhos amealhados. Aquilo que torna o jogo verdadeiramente estimulante é a escolha dos dados...
Tabela de Acções
Yspahan joga-se em três semanas e, no final dessas três semanas, o jogador que tiver mais pontos vitória, vence. Por turno (que equivale a dizer por dia), cada jogador lança os dados (9) e distribui-os numa tabela de acções possíveis de realizar. O grupo de dados com o valor mais baixo vem para a primeira fila, o grupo de dados mais alto vem para a última fila e, os outros grupos de dados, são ordenados de forma ascendente. Depois, o primeiro jogador, aquele que lançou os dados, escolhe um desses grupos de dados e aplica a acção daí resultante. Depois de escolhida e aplicada a acção, os dados escolhidos são retirados e o jogador seguinte escolhe um outro grupo de dados que restou e executa a respectiva acção. No sentido dos ponteiros do relógio, todos os jogadores escolhem um grupo de dados e executam as suas acções.
A vantagem de Yspahan é que, apesar de resultar muito do poder da sorte aos dados, cada grupo destes, está ligado a três acções possíveis. Ou seja, a primeira opção de cada uma das filas de dados pode ser receber ouro ou camelos ou colocar produtos nos diferentes bairros da cidade, sempre em número igual à quantidade de dados escolhidos da tabela de acções. A segunda e terceira opções a escolher são sempre, em todos os grupos de dados, movimentar o fiscal ou receber uma carta especial. Desta forma, a sorte dos dados deixa de ser tão determinante, uma vez que a maioria das acções continua disponível para os outros jogadores, ficando somente como vantagem principal o peso (quantidade de dados) dessas mesmas acções.
Cartas Especiais
Uma vez escolhida a acção da tabela, parte obrigatória do turno, cada jogador pode então, por vez, jogar o número de cartas especiais que entender e fazer construções de edifícios.
As cartas especiais do jogo revelam-se muito importantes no decorrer do jogo porque, para além de poderem ser trocadas por dados no início do turno, acrescentando mais uma opção à tabela de acções, podem servir para garantir muitas vantagens em relação aos adversários. Ou diminuir custos na construção de edifícios, ou trocar dinheiro por camelos e vice-versa, ou trocar dinheiro ou camelos por pontos vitória ou colocar mais um produto num bairro enfim, uma imensa quantidade de vantagens pessoais. E aqui também reside uma vantagem, na minha opinião. O facto destas acções especiais serem, essencialmente, para tirar partido a quem as joga, nunca prejudicar os adversários. Neste sentido podemos dizer que Yspahan é um jogo muito amigável.
Edifícios
A construção de edifícios é também uma das condições que podem determinar a vitória do jogo. Os edifícios têm custos de construção, tanto em dinheiro quanto em camelos, e servem para dar vantagens, a quem os constroi, para todo o jogo. Para além de dar estas vantagens, idênticas às já descritas nas cartas de acções especiais, permitem também, amealhar um considerável número de pontos vitória.
A Caravana de Yspahan
A caravana de Yspahan revela-se como uma forma de pontuação que pode ser uma alternativa importante para a conquista de pontos vitória, desde que não se jogue sozinho para esse objectivo.
A caravana é constituída por três filas de quatro camelos e tem de ser preenchida por ordem. Em cada camelo da primeira fila há 2 pontos vitória, um ponto vitória em cada um da segunda fila e nenhum ponto vitória nos restantes quatro camelos da fila de cima. Obviamente, os primeiros produtos a serem enviados para a caravana, são aqueles que serão mais premiados.
Associado a isto, no final de cada semana, o número de cubos que cada jogador tem na caravana, é multiplicado pelo número da fila em que está o seu cubo mais recente. Por exemplo, se um jogador tiver um cubo na fila de baixo e um na fila de cima, recebe 6 pontos vitória (2 cubos x 3 fila). Neste sentido, e como os cubos que vão para a caravana ficam lá até esta ser completamete preenchida, convém apostar nesta solução controlando bem o stock de cubos, pois estes podem vir a ser necessários noutras acções do jogo. Se mais que um jogador mostrar interesse na caravana, esta pode revelar-se como uma boa aposta, mas se alguém estiver a solo, o custo benefício pode ser desfavorável.
O Fiscal e a Caravana
Os cubos vão para a caravana sempre que o fiscal se encontrar em frente a uma loja preenchida. Neste caso, se o jogador do cubo em causa pretender, porque retira mais benefíos para a sua estratégia, pode optar por, ao invés de retirar o cubo da loja, retirá-lo do seu stock pessoal, pagando para isso um camelo. E esta é a única parte não amigável de Yspahan. Reparando que um jogador, sem camelos, tem um bairro totalmente preenchido e que, no final da semana vai receber, por exemplo, oito pontos vitória, alguém adversário pode deslocar o fiscal para uma dessas lojas e obrigar a esvaziá-la enviando o cubo para a caravana, prejudicando com isto, o jogador em causa.
Jogar, sim ou não?
Yspahan é um jogo muito divertido, muito amigável (ninguém se chateia a jogá-lo), e com um factor tempo/diversão excelente. Jogado em cerca de 45 minutos é um óptimo jogo para final de noite, em que os neurónios já não respondem como antigamente, e em que a fase de maior pressão já está ultrapassada por outro colosso menos amigável que tenha poisado sobre a mesa.
A Ystari voltou a acertar, sobretudo pela forma original como propõe a tabela de acções a executar e a elegância dos mecanismos de pontuação. Tudo no jogo é muito bem arrumadinho, os componentes são de óptima qualidade e a simplicidade de processos tornam o jogo muito apreciado por todos.
A interacção não é muito óbvia, apesar das escolhas das acções iniciais serem determinantes para todos os jogadores e a movimentação do fiscal poder influenciar de forma drástica a estratégia de um adversário.
Jogar, sim.
Materyal: 2,5/3 Ynteracção: 1/3 Mecânyca: 3/3 Tema: 1,5/3 Estratégya: 2/3 Tempo/Dyversão: 3/3 Regras: 2/2 Classyfycação: 15/20
Paulo Soledade

Finalmente um jogo com dados!!! E afinal os dados não determinam tudo!!! Básicamente o que acontece com todos os bons jogos, sejam wargames ou não, os dados estão integrados na estratégia. Um factor que se me arrepia é o facto de se pensar que dados equivale a total falta de controlo do jogo.

Manuel Pombeiro
a.k.a.Firepigeon
LUDO ERGO SUM

Se queres um jogo só sobre dados, tens sempre o Railroad Dice 1 e 2.


“You can not escape me!” he roared. “Lead me into a trap and I’ll pile the heads of your kinsmen at your feet! Hide from me and I’ll tear apart the mountains to find you! I’ll follow you to hell!”

Gosto mais do Dragon Dice!! Muito porreiro

Manuel Pombeiro
a.k.a.Firepigeon
LUDO ERGO SUM