A Thread da Discórdia (era "De regresso às bases")

Esta thread serve para albergar uma linha de conversa que teve origem num aparte noutra thread. Os posts que encontram em baixo vieram movidos de lá. Começou como um pequeno puxão de orelhas pessoal de amigo para amigo, apesar desse mau começo deu origem a um bom post, e depois acho que foi a descambar por aí fora até lhe termos pormos travão. Para não perturbar mais o fluir do resto da conversa, moveu-se isto para aqui.

Não me ouves tecer elogios rasgados ao que eu jogo porque:

1- Já não jogo há demasiado tempo, pelos motivos que abaixo explicarei

2- Porque acho que são os outros que têm de avaliar o que nós fazemos e nunca nós próprios apelidarmos o que fazemos de “fabuloso”, “ultra-cool” e “in the zone”, para usar apenas algumas das expressões que já tenho lido… Para alguém saber avaliar-se a si próprio é preciso muito auto-controlo e modéstia. Modéstia na comunidade de role players é um bem escasso.

3- Quando eu uso as expressões “na minha opinião” e “suspeito eu” estou claramente a ler o futuro nas entranhas dos animais, ou whatever, é assim? Acho que não, estou a demonstrar o meu cinismo - e neste caso cinismo bem fundamentado. Campanhas que produzem 3 ou 4 sessões de jogo, se o vento estiver a favor, não me parecem as mais propícias a criar momentos inesquecíveis que têm de entrar para os anais (bela palavra) do role play. Mas posso estar enganado. Daí o “suponhamos”

Voltando ao ponto 1, porque é eu já não jogo tanto? Mais umas alíneas:
a) Falta-me tempo. Neste ponto, a culpa não é de mais ninguém, só minha e do meu patronato.
b) Falta-me inspiração. Novamente mea culpa
c) Uma certa e determinada discussão na minha casa sobre a Teoria Bla Bla Bla (nem vale a mencionar o quê) foi a gota de água que encheu o copo de água de um dos meus melhores jogadores que, hoje em dia, nem quer pronunciar a expressao RPG.
d) Eu não acho que me querem matar (não entremos em dramatismos), mas mataram-me a paciência para jogar RPGs com tanta conversa arrogante e tanta hipocrisia. Até agora tenho-me mantido sempre politicamente correcto, mas que se lixe o politicamente correcto. Não, eu não sou um dos que se acham perseguidos por este ou aquele fastasma, REALMENTE, sem sombra de dúvida, muitas das threads que li aqui no Abre o Jogo, discussões que assisti ao vivo sugaram-me a vontade de jogar e hoje em dia, mesmo que insistam para que eu jogue (e mesmo que sejam os tais que “eu acho que me querem matar”), eu tenho pouca vontade. Até porque sei que se eu realmente avançar e aparecerem nas minhas sessões é porque não houve nessa semana nenhum jogo de PTA/ MLwM/ Capes/ DitV…

Pergunta final: imagina que a comunidade de cinéfilos é uma coisa muito restrita e não como é na realidade. E imagina que no pricipal site de cinéfilos do país está a tornar-se moda o género do musical. Vamos supor que detestas musicais e que te bates a tentar explicar a todos os outros membros por que motivos não gostas de musicais (mas toda a gente te bate na cabeça de forma paternalistas e te diz que isso é porque não “sabes o que eu sei”, “onde tu estás já eu estive” e mandam-te ler a Teoria Completa Sobre os Musicais, o Universo e Tudo). E mesmo que insistas e que valorizes os outros géneros, ninguém te liga nenhuma e dizem-te que gostar de terror é o mesmo que “comer lápis de cor” com ketchup… Ao fim de um tempo torna-se… Frustrante… No mínimo…

Foi um desabafo também e bastante resumido, mas não me apetece escrever muito e ninguém está interessado em ler…

Não, não, não percebeste. Eu estava a dizer que os mesmos jogadores que fazem os tais elogios que achas dúbios fizeram os mesmos elogios ao teu jogo do meetup (e um deles, eu, a metade do que já mestraste). Perguntava eu se esses elogios também são produto de mentes drogadas, alucinadas ou o que for?

Bah, isso não é frustante. Não, frustante é a pessoa que está a explicar-te a razão porque detesta os musicais dizer-te parvoíces do género “filmes musicais não têm estória”, “nem sequer há actores em filmes musicais”, etc, porque essa pessoa pensa que um musical é algo como o pedaço de um concerto ao vivo dos Rammstein que viu no outro dia na Sic Radical. Isso é que é frustante. Especialmente quando dura há n anos e já foi explicado, re-explicado, discutido, rediscutido, de todas as maneiras possíveis e imaginárias.

Vá lá, Ricardo, não vais expulsar agora o Miguel, pois não? Essa era fácil demais.

Verbus

So I bless you with my curse
And encourage your endeavour
You'll be better when you're worse
You must die to live forever

- Jim Steinman - Dance of the Vampires -

Ah, o Abre o Jogo do antigamente. Juro que já estava com saudades. Laughing


"You think I'm old and feeble, do you? Well, face my Flying Windmill Kick, asshole!"

Bom, calma, eu nu nunca falei de mentes drogadas nem alucindas, nenm nada que se parecesse. Se alguém falou nisso não fui eu. Que mencionei um possível exagero, e verdade. Assim como se alguém elogiou metade de uma sessão que eu mestreei num meetup (tirando tu que já jogaste comigo 3 mil vezes!) também incorre no mesmo pecado por excesso, uma vez que apenas experimentou uma pequena amostra.

Eu compreendo que aches frustrante o meu ponto de vista. Compreendo perfeitamente. Mas só o aceitarei completamente quando considerares que quem defende o meu ponto de vista (e aparentemente são cada vez menos, ou cada vez menos representivos) também sofre a sua dose de frustração!Especialmente quando há pessoal, que ano após ano, continua com as mesmas provocações, às quais eu (e outros) não podemos responder à letra por receito de sermos considerados Torquemadas do role play!

E eu ainda nem sequer tinha entrado na discussão.

–~~–

Não te metas comigo, camarada; tenho n avisos à navegação, alguns deles em público, e não tenho medo de os usar.

Ainda faltam as discussões entre malta que conhece teoria sobre a 5ª pata da formiga. Eram bem divertidas, principalmente as extrapolações mirabolantes (exemplo fictício exagerado: qualquer jogo com GM é um jogo em que os jogadores são escravos mentecaptos da corrupta sociedade capitalista!) Estavam cheias de exageros retóricos à portuguesa, bem melhores que as discussões da Forge políticamente correctíssimas, e via-se que na maior parte não eram sentidos quando a malta postava em partes mais calmas :slight_smile:

Infelizmente, parece que já ninguém lê que chegue para conseguir discutir isso, eu concerteza que não consigo :cry:

Lamento não te poder ajudar nesse sentido! De resto posso armar barulho sem qualqur base teórica…

Olha, e se não tentasses ajudar à festa, uh? Eu escrevi o que escrevi e nada mais, obrigado; interpretações fantásticas de coisas simples são o único problema que tem havido por aqui e pelo seu precursor.

Se era piada, peço desculpa. Esqueceste-te dos smileys. :slight_smile:

Não concordo com esse só, acho que têm havido factos também a ajudar às fantasias, mas enfim, também já não me apetece discutir mais o assunto, tenho uma tolerância baixa aos debates em fóruns!

Yes, Massah! Shutting up, Massah! Ol’Tom a’knows that if Ol’Tom a’speakin’, Ol’Tom gets a’whuppin’!

Ol’Tom

abana a cabeça

Só tu, LOL. :slight_smile:

Eu admito que estive passado dos carretos e a minha última intervenção foi a passadice a falar e não o que eu pensava.

O que é certo é que, ontem, a leitura desta thread me trouxe uma grande alegria e cheguei a fazer as pazes com a comunidade do RPG em Portugal. Efectivamente, este estilo de conversa era o que fazia falta neste site. Discussões, sem dúvida pessoais, sobre o que é o RPG, pela gente que o pratica, há mais ou menos tempo, uma partilha saudável de pontos de vista. Nem todos concordaremos com tudo o que aqui se diz, mas nenhum de nós, até certa altura, se manifestou contra a validade do que foi dito pelos outros.

Há uma certa amargura entre alguns (muito poucos, creio eu, em que eu me incluo) membros desta comunidade acerca de certas atitudes tomadas no passado, de certas chamadas teorias, e da sobrevalorização dessas, e dos jogos feitos (creio eu e trata-se de opinião muito pessoal) como tese demonstrativa das mesmas. Cremos mesmo, às vezes, que a nossa maneira de ver e encarar o RPG está em perigo de extinção.

A grande alegria que tive nesta thread foi de verificar o quão enganado estava nesse particular. De verificar que ainda há pessoas que gostam de, por umas horas, uma vez por semana ou de 15 em 15 dias, ser outra pessoa noutro mundo. Que gostam de estar na pele de outros, de serem um veículo para a vida de outra pessoa que é a sua personagem. Que entendem que um GM é necessário para haver uma base objectiva e inteligente para a susstentação do mundo imaginário, onde evoluem as Outras Pessoas que são os PCs.

Vou-vos contar uma experiência que tive ao jogar Weapons of the Gods com o grupo do Dwarin, uma experiência muito pessoal e iluminadora. Criei a minha personagem, Wong Fei-Hsien, estudante de kung-fu numa academia e filho de um médico que vivia na capital de outro reino. O pai era extremamente severo e exigente, e ensinou-lhe os seus conhecimentos de medicina, como era prática na China feudal. A figura do pai era, assim, extremamente importante para o Wong. Eu joguei o Wong como um rapaz dividido entre a sua natureza alegre e foliona e o dever filial que deve ao pai. Puz o Wong sempre a contar piadas e a manter um ar bem disposto. Mas o que passou ao GM we aos outros jogadores não foi o bem disposto nem as piadas, mas o quão diligente ele era para com os mestres e o amigo que era dos colegas, e até que era um rapaz sério. Eu fiquei um pouco passado, até que fiz uma descoberta: O WONG TINHA SUBCONSCIENTE! Sem eu saber, estava a jogar um rapaz mais retraído, porque tinha o pai sempre a olhar-lhe por cima do ombro, e EU, O JOGADOR, SÓ ME APERCEBI DISSO DEPOIS - ao analisar o comportamento da personagem, e como ele era visto.

Quando nos envolvemos muito com as figuras ficcionais que criamos, elas acabam - MESMO - por ter vida própria, bastante independente dos próprios jogadores. Há escritores em todo o mundo que têm relatado o mesmo fenómeno com as personagens e eventos que escrevem. O meu amigo Tunas referiu algo parecido em relação a uma campanha de Warhammer de longa duração que jogámos juntos.

Este nível de envolvência, quer com a personagem que estou a joger/representar/"ser", quer com o universo imaginário onde ela evolui, é o que eu procuro quando jogo RPG. É uma experiência quase mística, evidentemente mágica, e mais possível e atingível do que possa parecer à primeira vista. Isso requer uma envolvencia muito grande entre o jogador e a sua personagem, e com o seu universo. Não sei se será possível se o jogador tiver também funções de "criação" para além da vivência da sua personagem (E atenção, isto não deve ser visto como uma crítica, mas como uma expressão honesta da minha ignorância. Tendo lido muitos jogos onde os jogadores têm muito mais poderes de "criação", de facto nunca joguei nenhum - knowing the path and walking the path, se é que me faço entender).

Assim, podíamos todos pôr de lado as nossas agendas e amarguras, e falarmos de RPG, porque o jogamos, que queremos encontrar, que é que já encontrámos, porque jogamos um jogo apenas uma vez e outros repetidamente. Suponho que foi para isso que o Ricardo construiu este site e não para desenterrarmos os vários machados que possamos ter por aí (contra mim falo - tenho uns poucos a afiar contra muita coisa).

Já me alonguei demais e tenho de ir trabalhar. A ver se esta thread continua no espírito em que começou.

Verbus

So I bless you with my curse
And encourage your endeavour
You'll be better when you're worse
You must die to live forever

- Jim Steinman - Dance of the Vampires -

Concordo em absoluto! Todas as visões são válidas de parte a parte e nenhuma delas são exclusivas. Devia-se colar parte do teu post no topo de todos os threads para o pessoal não se esquecer disso. E “o resto são batatas…”

P.S.: Não se privem de continuar a discussão por favor, estava a ser bastante interessante!

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Como é que era aquela expressão? Concordo em género, número e qualquer coisa mais?

PS - Perdão pela inconstãncia do site esta manhã, mas estava a tentar actualizar uns ficheiros e de alguma maneira conseguiam um ou outro conseguia sair sempre corrompido e estragar a pintura.

E sim…

Sim, claro que é possível. Não quero parecer um pregador, mas… não sei como dizer isto sem ser assim. Há quantos anos ando eu a escrever/dizer isso? Há vários antes sequer deste site existir ou de eu saber o que era a Forge, é há quantos anos. Mais n pessoas têm a mesma experiência. Não quer dizer que seja algo de universal para toda a gente, obviamente, ou que seja a melhor e mais consistente das maneiras - deixo isso ao critério e ao gosto de cada um, é o que funciona melhor para mim - mas que é possível e acontece todos os dias não devia haver qualquer dúvida… excepto se querem chamar mentirosos descarados a mim e a uma série de pessoas. Vamos lá ver, eu comecei como um escritor, é estupidamente fácil para mim estar na cabeça de um personagem e poder controlar coisas em seu redor. Enfim… com tantos testemunhos que mais provas é preciso? Um estudo científico com análise de padrões das ondas cerebrais?

A frustação surge quando me vêm dizer pela trilionésima cagagésima vez que não, que é impossível, que eu é que não sei o que é viver o que um personagem vive ou que não sei jogar, ou que isto não é um RPG mas uma porcaria adulterada qualquer. Agora os outros é que sabem melhor do que eu o que eu vivo e sinto quando estou envolvido numa sessão de jogo feita de propósito para me envolver em vez de consistir apenas em palha genérica? Raios, como descreveste sobre o Weapon of the Gods, o tu descobrires coisas que não sabias sobre o próprio personagem que criaste é exactamente a coisa em particular que eu mais adoro nos jogos… é por causa dela que jogo como jogo, que prefiro jogos assim, e jogos assado me aborrecem de morte.

Anyway, já me alonguei de mais. Como tu, eheh. Acho que fazemos todos isso quando temos uma paixão verdadeira pelo assunto, é só. Bom, era isto que eu queria dizer… também pela trilionésima cagagésima vez. :slight_smile:
Novamente, o teu post rocka completamente, Zé! Gostei muito de ler, e espero que nos mantenhas a todos na direcção certa. :slight_smile:

[quote=Verbus]ainda há pessoas que gostam de, por umas horas, uma vez por semana ou de 15 em 15 dias, ser outra pessoa noutro mundo[/quote]Eu estava a escrever uma resposta ao Verbus, mas tornou-se demasiado longa, por isso fiz dela um tópico no meu blogue.

[quote=ricmadeira]E sim…

Sim, claro que é possível. [/quote]

Er… Mas o ponto chave aqui era que a imersão é muito complicado se o jogador tiver funções de criação. Algo com o qual concordo completamente, e que estragou o PtA como jogador a mim e a muitos que jogaram comigo (mas por exemplo como GM já achei o PtA muito giro :slight_smile:

EDIT - o pastel do Rick responde a isto mesmo, vão ver!

Qual ponto chave? Ele perguntou se é possível, claro que é. Complicado ou não, que interessa isso?

Além de que “complicado” está no olho de quem vê, ou melhor no cérebro de quem joga… eu acho complicado quando o jogo “pára” todo para ir resolver round a round, acção a acção, durante uma hora ou duas uma cena de combate que demora um minuto de tempo real, ou quando tenho à frente uma folha de personagem que parece saída de um excel e preciso de andar a consultar o livro para ver quais são as limitações e as extensões do que posso fazer, quando o que quero fazer não encaixa no sistema rígido do jogo, etc, etc, etc. Dêm-me PTA em qualquer dia da semana. :slight_smile:

Também ninguém se queixa que quebra a imersão para todo o sempre quando tem de ir á casa de banho fazer xixi, ou quando pega no copo para se servir da coca-cola e beber mais um gole, ou quando o jogo pára para se discutir uma das muitas regras que rege o combate, ou quando o jogo pára para se rolar as iniciativas de toda a gente… para mim, no meu consciente pessoal, não há qualquer diferença entre isso e “parar” para pedir uma cena ou estabelecer um stake… até acho os últimos mais imersivos no jogo em si. É tudo uma questão de como escolhem ver as coisas, ou de como estão habituados a senti-las.