"Hello, folks, I'm Kurt Weigel and welcome to Game G..."
Ui, desculpem, esse é outro gajo!
Em dois posts de uma thread deste site (estes - e cuidado se a forem visitar, é uma thread sem quaisquer travões quando à linguagem empregue e cujo politicamente correcto só prima pela ausência) veio a questão se as descrições de actual play nos fóruns de RPG deverão concentrar-se sobre o que se passou na sessão em termos narrativos - isto é, que personagem fez o quê, como se comportou, que disse, quais as consequências das suas acções, quais as suas acções, o mesmo para os NPCs, um pouco como um conto (qualidade literária à parte) - ou se se devia concentrar mais nas mecânicas, como foram tais e tais lançamentos, quais os poderes e as manobras empregues na situação, as tabelas usadas, enfim, concentrando-se mais no game talk de determinado jogo, ou mesmo em termos convencionais usados para a descrição mecânica dos jogos.
Para dar a minha opinião, é preciso esclarecer o que eu acho que é um RPG. Para mim, grosso modo, é uma actividade social que me permite, como jogador, a) ser outra pessoa b) noutro lugar e c) divertir-me com isso. Como GM, d) facilitar o a) e o b) dos meus jogadores, e e) conseguir o c) também. Nesta minha visão, as mecânicas entram especialmente em d), talvez um pouco em c) (há regras muito divertidas). Mas aplico o grosso do c) ao facto de se estar a contar uma história sobre a passagem de a) por b), criando assim uma história.
Suponho que, por isso, aquilo que gosto de ler numa actual play sejam as aventuras dos protagonistas, ou seja, da party. Porque faz parte do que me atrái quando estou a jogar, em estar a viver, por intermédio da minha personagem, uma história ficcional, partilhada por outras pessoas, e as respectivas personagens. Como o que me excitou a adrenalina numa sessão foi a acção, a histópria, a interacção, é isso que quero ler. Quando as mecânicas atrapalham muito essa narrativa, geralmente perco o interesse. É como um filme com os efeitos especiais todos maus e óbvios, ou um espectáculo de marionetas onde pouco se visse dos bonecos mas mais se via os fios e os truques de mão do titereiro. Ou uma operação plástica que, em vez de esconder, puzesse todas as cicatrizes à vista para demonstrar a técnica e a perícia do cirurgião.
Mas, bom, isto sou eu que vejo uma campanha como uma narrativa, e acho que o interesse está em seguir a crónica dos PCs. Mas, embora não goste, concebo que um actual play seja não tanto o filme ou a história em si - isso é mas é a sessão e a campanha - mas mais uma espécie de "making of" da sessão, em que se demonstra o que se passou atráves da descrição das mecâncias e completamente "out of character" e "out of world". Que se descreva detalhadamente o que aconteceu em termos mecânicos, que tecnica, poder ou manobra se usou em que situação. Outra metáfora seria, como a descrição de um jogo de xadrez, mostrando as manobras dos jogadores com uma linguagem técnica, que tem a vantagem de ser muito mais rigorosa. Tem, a meu ver, a desvantagem de ser extremamente enfadonha e me dar sono muito depressa.
Acho que ainda não escrevi nenhum actual play a sério, mas se (ou quando) o fizer, tenho a certeza que o farei como uma narrativa, mas interpondo aqui e ali pequenas notas sobre qual foi a mecânica utilizada, e a razão mecânica ( se a houver) porque isto ocorreu assim e assado.
Agora, o que me interessa é: que se pensa disto por aqui? E atenção, já não estamos na Amiga da Onça ...
Zé