Agricultor

"Preciso de saber se estás disposto a deixar o planalto."

"Deixar o planalto? Mas eu sou apenas um neófito..." - anos de conformismo e de sentimentos recalcados pelos complexos que a cultura do seu povo lhe impuseram, vinham agora à superfície... Mas Sebastião no fundo, sabia que algo mais lhe estava reservado. Ele não era "apenas um neófito" como lhe tinham informado com indiferença há anos atrás... E estava agora na altura de provar que mesmo um "neófito" podia fazer a diferença, provar-lhe a ela que ele também era especial, provar a si próprio que era capaz de mais:

"Eu vou. Eu ajudo-te Cayla. Sabes que sempre pudeste contar comigo. Diz-me como te posso ajudar."

Ela explica-te as suas preocupações. Ao que parece, em Emerson utilizam um sistema chamado democracia para decidir situações que se crêem ser importantes para a cidade. Segundo conseguiu absorver desse conceito:

"Todos os cidadãos exprimem a sua opinião por intermédio duma cruz num papel e, depois de contadas todas as cruzes, eles ficam a saber qual o desejo da maioria das pessoas e agem em conformidade." — encolhe os ombros.

"O que eu receio — continua — é que, de algum modo, o grupo com quem eu costumava cooperar tente influenciar o resultado final deste processo a que chamam de referendo.

Parece-te coisa séria. Se um simples grupo consegue assustar uma Primogénita a este ponto, apenas imaginas o dano que eles consigam desferir em Emerson, cujos habitantes comem carne e não são puros aos olhos d'O Primeiro Pai.

Cayla continua: "Tião, preciso que vás até ao Alto Crescente e te infiltres nas minas de sal para tentar perceber a dimensão da acção dos Primos Gama." — é a primeira vez que ela chama o grupo pelo seu nome, mas tu já o tinhas ouvido antes. Sabes apenas que eles defendem a criação de uma oitava progenitura, mas os seus motivos têm sido abafados pelo Varão.

"O Alto Crescente..." - Sebastião já tinha imaginado um dia sair do Planalto, mas nunca pensou que esse dia alguma vez fosse chegar. Após uma breve pausa, ele percebe que fará tudo para não desiludir a confiança que Cayla lhe depositou ao vir falar com ele: "Então o teu plano é que eu tente, como neófito, arranjar trabalho nas minas? E assim reunir informações sobre os Primos Gama...?"

[OOC: Roll de Sense Motive]

"Sim, Tião. Isso mesmo." — responde, aliviada. "Mas não quero que te envolvas directamente contra eles. Não sei até que ponto estão dispostos a ir... não te quero perder outra vez, Tião."

[Ela parece estar a ser sincera. Não tens razões para duvidar dela.]

Depois disso ela afasta-se, mas não sem te dizer que deu instruções a um dos Filhos da sua progenitura para te acompanhar até local seguro. Ele ficou de ir ter contigo à saída noroeste do planalto, ao nascer-do-dia. E ficou também de puxar conversa contigo sobre a tua plantação, "para que saibas que vem da minha parte".

Depois de me despedir de Cayla, passo mais algum tempo no lago a meditar sobre aquele encontro inesperado e sobre a tarefa que me foi incumbida… Depois regresso a casa e tento dormir um pouco antes que o dia nasça. Ao nascer-do-dia, pego na minha mochila que ainda tem o farnel da noite anterior, e pondo-a às costas juntamente com a foice, saio, trancando bem a minha humilde casa, para a saída noroeste do planalto…

Chegas à saída mais cedo do que o combinado. Vieste algo apressado, em parte, por estares ávido de aventura e, por outro lado, porque te sentias observado...

Pouco tempo depois surge um outro indivíduo que parece evitar olhar para ti ao início, parecendo esperar alguém. Apenas olha um par de vezes em volta e, apesar do teu ar sobressaltado, logo desce até onde te encontras:

"Então e as alcachofras desta estação? Já estão maduras ou quê!?"

Intrigado, Sebastião lembrava-se das palavras de Cayla "ele irá perguntar-te pela tua plantação... para que saibas que vem da minha parte..."

"O senhor gosta de alcachofras?" - certificava-se Sebastião em relação a este estranho enquanto pensava para si mesmo - "A Cayla não se enganaria desta forma... ela sabe perfeitamente que eu planto Alfarrobas..."

Algo parecia-lhe errado...

[OOC: Olho em volta à procura de algo estranho - Spot, Tento perceber o que este estranho quer - Sense Motive ]

"Sim, uma boa alcachofra apollinari com limão e..." — rebolam-lhe os olhos e caiem-lhe os joelhos ao chão (seguidos do resto do corpo). <T'RA-TUM>

Tinhas visto o vulto que surgira por detrás do teu interlocutor com tempo suficiente de o avisar de que iria ser surpreendido mas, como o de lá te olhou com ar sereno e o de cá soava a impostor, deixaste-o soprar na zarabatana.

O homem apoia-se no longo tubo como se dum cajado se tratasse e aproxima-se, dizendo simplesmente:

"Vagens violáceas à luz do bi-luar."

Sebastião, embora sabendo que agora estava em segurança, não podia deixar de transparecer o choque e agaixou-se perante o corpo caído à sua frente, verificando os seus sinais vitais:

"Você não o matou, pois não?! Quem é que ele era?"

O homem desce até onde te encontras e, apoiando-se no "cajado", baixa-se sobre o outro tipo, tirando-lhe o dardo da espátula. É mais velho do que te parecia ser.

"Não se preocupe, Sebastião. Daqui por uns minutos ele já acorda. E apesar de ainda ficar com os músculos da cara dormentes durante um pedaço, facilmente conseguirá perceber o que se terá passado."

E, dito isto, desce o resto dos degraus da saída, convidando-te a segui-lo:

"Venha. Eu vim a olhar por si desde sua casa. Mas isso não quer dizer que aqui o nosso 'primo' não tenha mais ninguém no encalço dele."

Mais descansado, Sebastião procura algo no corpo inerte do indíviduo que lhe possa ser de uso... procurando também por sinais na pele do homem que o pudessem identificar perante outros membros dos "Primos Gama"

"Não se assuste, não sou nenhum ladrão, mas este homem pode ter com ele informação que nos pode ser útil..."

Após esta busca, levanta-se e segue o estranho guia...

"Então não se está mesmo a ver?" — leva a mão ao próprio cachaço, como que a dizer para procurares nessa zona.

E, com efeito, notas que ele traz o cabelo amarrado num puxo.

"Todos os 'primos' usam o cabelo assim. Andam mais arrojados nos últimos tempos..."

E mais reparas, que tem um envelope dentro da casaca e uma bolsa com uma gosma qualquer, de cheiro forte.

Após guardar o envelope e a bolsa na sua mochila, Sebastião pensa se não será cruel demais, cortar-lhe o cabelo com a sua foice...

[OOC: O cabelo do 'primo' é da mesma cor que o meu? Será que seria de algum uso guardar o puxo de cabelo do homem?]

"Acha que devemos cortar-lhe o puxo de cabelo?"- pergunto - "Senão, vamos sair daqui rapidamente. Ele pode realmente ter trazido amigos..."

Ele, apesar de se apoiar no 'cajado', caminha muito rápido e já vai a uns bons 20 metros de distância. Mal te ouve e mal te responde, continuando a afastar-se.

Então lá lhe cortas o tufo de cabelo, mantendo-o amarrado. Rasgas-lhe um bolso para o embrulhares, e logo segues caminho até junto do... errr, não lhe conheces o nome.

Ao alcançar o velho, Sebastião tenta meter conversa:

"Embora não nos tenhamos apresentado, penso que já saberá o meu nome e algo mais. Já eu, não sei nada sobre si, senhor..." - e fica esperando uma resposta, enquanto o segue...

"Essas coisas da política... nunca segui muito atentamente se não influenciasse directamente as minhas plantações..." - admitia Sebastião. "Mas se Cayla me veio pedir ajuda, é porque estes Primos Gama a preocupam verdadeiramente... E tudo o que eu puder fazer para a ajudar... farei." concluiu Sebastião, guardando o seu último pensamento só para si... ("Mesmo sendo eu, apenas um... Neófito")

Vamos agora examinar os espólios do nosso encontro com o "primo"

"O meu nome é Tull.

Tenho sido o protector pessoal da Cayla desde que ela encabeçou a segunda primogenitura. Antes disso tinha sido seu mestre na creche.

Como vês, Tião - se me permites tratar-te pelo nome que ela te dá - são poucos aqueles em quem Cayla deposita confiança.

Por isso, concentremo-nos na nossa missão. Ainda temos um dia de caminhada à nossa frente."

"Porquê ela?" - a pergunta surgia após um longo momento de silêncio durante uma caminhada que já se tornava cansativa para Sebastião... caminhada essa que só tinha servido para lhe surgirem ainda mais perguntas e menos respostas. - "O que faz de Cayla a primogénita? O que vos fez achar que ela precisava sair do planalto?"

Quando parassem para descansar, Sebastião iria analisar, pedindo ajuda a Tull, os objectos que tinham obtido do 'primo'.

Enquanto caminham ele vai lançando alguma luz nas questões que te assombram:

"Percebo. Tu nunca deixaste de ser um Neófito, por isso estas questões políticas nunca te disseram muito...

Pois bem, como sabes podemos atingir vários níveis de plenitude aos olhos d'O Primeiro Pai: Neófito, Filho, Varão e Primogénito.

Neófitos, tal como tu, são todos aqueles que, depois de serem educados numa das sete creches, não passaram o teste da Terceira Unção. Só os que passarem o teste serão tidos como Filhos e só eles farão parte das sete primogenituras, tendo aptências para mestrar nas creches respectivas.

Mas o treino para atingir a harmonia perfeita não pára aí. Com o tempo, com muita humildade e paz interior, poderão vir a tornar-se Filhos Varões, que são os mestres de cada uma das sete primogenituras.

A encabeçar cada primogenitura está um Filho Primogénito que, todos sete, escolhem de entre si o representante máximo da nossa comunidade, o Varão Alpha."

E mais te diz que não vão parar para descansar, "Pelo menos enquanto não chegarmos à segurança das galerias." — aponta para o desenho que as nuvens vão adoptando, junto ao horizonte.