"tu encaras o PRAZER como sendo inconciliável com as outras coisas que eu refiro"
De forma alguma. Inconciliáveis? Não. O que eu penso é que as coisas que tu referes são marginais, secundárias e eventualmente distraiem do objectivo primário do roleplay: o prazer de viver um vida virtual.
"Interagir com os produtos da imaginação... Pá, se isto não é VIVER uma fantasia ou experiência ficcional então não sei?"
Não é. Uma pessoa pode interagir com os produtos da sua imaginação sem estar a fazer roleplay. Em alguns casos isso pode mesmo decorrer de uma patologia.
"Basicamente o que tu queres fazer é impedir que se analise cientificamente os componentes daquilo que é fazer roleplay, porque para ti é tudo junto e algo que é mais do que apenas a simples soma das suas parcelas"
Mais uma vez, de forma alguma. Há muitos anos que me dedico a analisar as componentes do roleplay (sem pretensões a ciência...). Faço-o praticamente desde que jogo. No caso concreto da internet, desde 95 que participo em fóruns de discussão (primeiro em listas de discussão; a partir do final de 96 fundamentalmente na RPGnet que quase vi nascer; um fórum que nunca me convenceu e que também praticamente vi nascer chama-se Forge...). O que eu penso é que a análise que distingue as componentes por ti referidas passa ao lado das componentes do roleplay e centra-se em coisas secundárias e acessórias, tudo isto por partir das metáforas erradas. Apenas isto. O problema não é que o roleplay seja os elementos por ti referidos mais a sinergia entre eles. Não, o problema é que os elementos por ti referidos não caracterizam o roleplay nem lhe são necessários. Podem estar presentes e até contribuirem para ele, é claro, e se isso suceder melhor.
"Sou sempre bastante adverso a que se invoquem "Bestas Sagradas" como argumento no meio de uma discussão entre colegas acerca de algo que todos conhecem e de que gostam"
Mais uma vez estás enganado. A questão não é de se invocarem bestas sagradas. É antes a de ser feita um afirmação genérica sobre os jogadores de "antes" e de demonstrar que esta está errada e não é fundamentada. Invocar-se a ignorância porque se confunde o conhecimento com "bestas sagradas" é pouco engenhoso.
"é também um autor do seu personagem e da história em que está envolvido, então estás a ser contraditório"
Eu não estou a ser contraditório, tu é que não percebes o argumento. Para o perceberes é talvez útil invocar o conceito de história. História não é o facto, não é o que acontece. História é a memória do que acontece. Um jogo centrado em histórias é um jogo que tomo como seu motivo memórias, reais ou ficcionadas. Ora isso não é roleplay. Roleplay não é a construção de memórias, roleplay é vivência. Que essa vivência possa motivar memórias e que estas memórias possam ser interessantíssimas é algo que não se pode excluir. Mas a construção da memória de uma sessão de roleplay não é roleplay nem é algo que esteja necessariamente implícito no roleplay. Afinal, roleplay não é replay.
"A verdade é esta: o DM e os outros jogadores acabam por ser co-autores da estória que vivem, que experienciam"
Como qualquer pessoa, eu sou autor da minha história, da minha vida. Mas não a vivo como uma história e não vivo como se estivesse a construir a história da minha vida. Posso um dia escrever a mesma em termos de memórias ou de autobiografia. Mas não confundo a escrita das memórias ou da biografia com a vida ela mesma. Ora o roleplay é para mim viver vidas virtuais. Nesse sentido a sua relação com a história dessas vidas virtuais é a mesma que eu mantenho na minha vida com a história desta.
"das duas uma: ou admites que o jogador de roleplay acaba por ser co-AUTOR da estória ou não admites... E aí, quem são os responsáveis pela autoria da estória, se não é (e nunca ninguém o disse em 70 e 80) o DM o único?"
Continuas a confundir as coisas. O roleplay é aquilo que acontece à volta da mesa. Nesse momento não há história, há vivência. Depois pode ser escrita a história da sessão de jogo. Isso pode ser feito pelos participantes, por um destes ou por alguém que nem sequer participou na sessão de jogo. Na maior parte das vezes o que fica é a memória da sessão de jogo nas mentes dos jogadores. Cada um tem a sua história pessoal da sessão - mas essas histórias não são a sessão de jogo e não são roleplay.
Quanto ao MJ, a sua função no jogo não é construir uma história. A história, a memória, tende a ser do domínio do narrativo. O MJ pode ter de historiar o contexto, o mundo de jogo, pois nós funcionamos psicologicamente em termos narrativos. Mas no agora, no presente do universo de jogo em que os jogadores evoluem e jogam, a função do MJ não é narrativa, é descritiva. Ele descreve um contexto onde os participantes tomam decisões e agem, sejam os PCs sejam os NPCs.
"eu até sorrio só de pensar na tua indignação com este "vivessecar" do roleplay"
Por favor não me metas na boca coisas que eu não disse. É a melhor maneira de se criarem malentendidos e discussões inúteis. Eu ando a "vivissecar" o roleplay há anos em fórums públicos. Por exemplo, vai à página das colunas da RPGnet e procura as 3 ou 4 que eu lá tive desde 1999. A questão não é de eu não gostar de analisar o roleplay - eu gosto e muito - a questão é que para mim há análises que são erradas, tangenciais ou improdutivas. Esse é o caso daquela - que não é tua - de que te tornaste arauto.