Dinamizar D&D RPG por Terras Lusas?

Pessoas,

 

Recentemente, nos Estados Unidos, decorreu mais um GenCon, onde milhares de jogadores como nós se juntaram para jogar, jogar, jogar e jogar.

Por outro lado, em Portugal, o “vazio” é cada vez maior – recordo o tópico “Onde anda o RPG em Portugal”, de há cerca de um ano:

https://www.abreojogo.com/forum/rpg_geral/2007/04/onde_anda_roleplay_em_portugal

Existe alguma luz ao fundo do túnel – notei por exemplo o JMariano, no tópico do LeiriaCon a pedir autorização para jogar um bocadinho de D&D 4.0.

O que me motivou a sentar e escrever este tópico foi o meu assumido vício por D&D. Leio avidamente meia dúzia de blogs estrangeiros de pessoal que partilha esta minha “tóxico-dependência” (somente aqueles que têm algo de jeito para partilhar, e não as imbecilidades da “guerra de edições” e afins). É interessante ver comunidades inteiras a discutir ideias e partilhar experiências – muitas delas em redor da nova série “Pathfinder”, que está a fazer um grande sucesso lá fora. Toda a gente fala das suas experiências, e dá sugestões de como melhorar um ou outro módulo, ou tornar um NPC mais interessante.

 

Ora, por Terras Lusas, parece-me (do pouco feedback que consigo apanhar na net) que os poucos jogadores de D&D que existem, têm os seus “core groups” criados ao longo dos anos, e raramente têm disponibilidade para pensar em algo mais do que os seus núcleos. Aqui falo também por experiência própria. No entanto, quase todos nós já andamos na casa dos vinte e muitos/trintas, e já não temos a facilidade de outros tempos para agendar sessões com frequência, e acabamos por jogar uma sessão lá de mês-a-mês, e pouco mais. Se já existem poucas oportunidades para dinamizar as campanhas “de qualidade”, menos oportunidades existirão certamente para experimentar uma ou outra aventura solta e/ou ideia diferente.

 

A maioria da malta acaba por se resignar, até porque não dispomos de uma rede de lojas e/ou outros veículos de comunicação/interacção. Pela parte que me toca, eu gostaria de experimentar e conhecer outras pessoas que também gostem de D&D e que procurem sempre que possível “avivar” o jogo. Existem imensas barreiras à “comunicação” entre grupos/indivíduos – nomeadamente geográfica, ou por debilidades na facilidade de comunicação entre pessoas, ou até porque uns jogam no setting “A”, outros no setting “B”, e por aí fora.

 

Mas, sofrendo eu de uma “esquizofrenia entrópica” patológica que me leva sempre a criar mais e a nunca estar quieto, tenho tentado puxar pela cabeça para procurar algo que ajude a mudar a realidade, nem que seja muito pouco.

 

Já sabemos que as raras lojas que existem não têm funcionado para agregar a comunidade. Já sabemos que as tentativas de promover encontros entre roleplayers acabam sempre com duas ou três pessoas sentadas nas cadeiras a olhar para a porta. Já sabemos que a comunidade online não funciona. Portanto... há que procurar novas ideias. Mesmo que estas venham a falhar de igual forma.

 

Inicialmente, a ideia surgiu-me para dar resposta às sessões regulares que acabam invariavelmente por ser adiadas por falta de quórum. Para evitar o trabalho de preparação das sessões “a sério”, sugeri aos meus jogadores que fosse experimentado um mundo de D&D, feito essencialmente à imagem das antigas BD de Conan. Com várias pequenas aventuras, que poderiam estar – ou não – ligadas entre si, sequenciais, ou não. E que isto fosse feito num mundo de quasi-improviso, onde mediante a necessidade se fossem criando elementos, permitindo assim jogar aquelas aventuras oficiais “prontas a jogar”, que se resolvem em uma ou duas sessões sem grande compromisso. Isto permitiria ter uma referência de base, sem ser necessário ter um setting oficial super produzido, e evitando estar apenas a jogar aventuras “no ar”, sem qualquer ponto de ligação entre elas.Aos poucos vai-se criando um setting comum que, expectavelmente, poderá ser interessante para experimentar sessões esporádicas com aventuras pré-fabricadas.

Acabei de abrir um tópico no nosso blog de campanha, para ver se as ideias surgem. Quem as tiver, é bem-vindo a partilhá-las: https://balazanar.blogspot.com/2008/09/d-aventura-sem-compromisso.html

Não contente com apenas isto, comecei a pensar na potencialidade de estender este conceito a mais pessoal, de outras comunidades nacionais – que são poucas, mas devem existir – que possam de tempos a tempos juntar pessoas diferentes para experimentar D&D casualmente sem qualquer compromisso sério, e que com as suas experiências possam contribuir para a construção de um mundo em conjunto. Criava-se um site específico para a ideia, muito simples, para ir englobando os elementos criados, e eventualmente um blog ou fórum para discutir as experiências do jogo. Até se podiam integrar elementos como existem em World of Warcraft, onde há quests oficiais que podem ser jogadas por vários grupos diferentes, e depois discutir os resultados de cada um. Ou até pode haver uma aventura que termine mal para um grupo de jogadores de Lisboa, acabando com eles todos aprisionados pelo tirano necromancer, e mais tarde um grupo do Barreiro fazer essa aventura, e acabar por soltar os prisioneiros.Assim, tanto haveria espaço para jogar mini-aventuras oficiais, como para desenvolver mini-aventuras homebrewed, como, quem sabe, para um ou outro mega-evento que envolva vários grupos a perseguir o mesmo objectivo/tema, um pouco à semelhança do que a Paizo fez no GenCon com os drows, tendo 20 e tal DM e centenas de jogadores envolvidos em algo em comum.

Com sorte, isto ajuda a incentivar a comunicação entre os viciados nacionais de D&D, resulta nalgumas experiências giras, tanto serve para D&D 4.0, como 3.5 como AD&D 2, e – num mundo utópico – acaba de vez com a letargia nacional no que toca a D&D (toca a tudo o que é RPG, mas eu só tenho proximidade com D&D). Com isto tudo, não sei se consegui passar alguma ideia conexa... Tenho o mau hábito de escrever demais, e no meio da esquizofrenia acabo por falar de tantas coisas em simultâneo que acabo por nem eu perceber metade do que quero dizer...

Em suma, alguém acha que esta ideia seria interessante/viável/útil?Ou o melhor é ir a correr à farmácia comprar medicamentos anti-alucinações?

Não creio que vás longe com a tua iniciativa, descupla a franqueza.

O mercado de rpg é entre nós muito atomizado com pequenos e pequeníssimos grupos a jogarem jogos diferentes. Porque iriam os jogadores de jogo X mudar para DD4? O DD4 nem é uma grande escolha. Eu até lhe acho piada mas é demasiado complicado para uma realidade tão microscópica como o mundo rpg português. Mesmo entre os jogadores de DD é difícil encontrar uma abordagem mobilizadora, como tu apontas.

Afinal o que queres, promover o DD ou promover o rpg de fantasia ou mesmo o rpg em geral? Se o teu objectivo é este então temos tema de conversa.

A promoção do rpg em Portugal exige um passo essencial: a publicação de um rpg em português. Há aqui duas vias possíveis, a publicação de um rpg português, concebido por portugueses e com qualidade... mas onde está ele? Eu talvez o faça... um dia. E já lá vão duas décadas a pensar no assunto. Não, não é para amanhã. Estou certo que há por aí outros maduros com a mesma ideia.

A outra opção é traduzir para pt um jogo estrangeiro. Mas qual? Interessa um jogo com sucesso e editado por uma empresa que deu provas de «resilience». Não são muitas. Um jogo simples e fácil de entrar por quem nunca jogou rpg e começa por uma mera curiosidade - fica de fora o DD e o WoD. Uma empresa que não queira muitos € no dia 0 - fica de fora a WotC e a WW. Uma empresa que não queira ter um controlo editorial de betão - fica de fora a WotC e a WW. Mas se tirarmos estas, o que resta?

A minha aposta é uma mas eu sou biased: BRP da Chaosium. Estes tipos estão por aí há 3 décadas e tiveram forças para procurar renascer. Têm um sistema mais que testado e com uma versão nova. Pequeno senão, esta versão são 400 páginas em inglês o que deve dar entre 450 e 500 em pt.

O que fazer? Negociar com a Chaosium uma edição em português mas aligeirada. Uma versão que deixe de fora a maior parte das opções por forma a ficarmos com um tomo dumas 250 pp. Nota, pode ser outro jogo mas a maior parte dos sistemas de sucesso de agora (Savage Worlds, pe) ainda não demonstraram a capacidade de sobrevivência do BRP pelo que eu apostaria neste à cautela. Mas eu sou «biased»... Ou então ir-se para algo com décadas e simples, algo tipo Tunnels & Trolls. Eu até gostava.

E além do sistema é necessário um universo de jogo. Aqui até se podem negociar os direitos de ficção portuguesa, porque esta existe.

Mesmo assim para ter sucesso esse jogo precisa do apoio dos jogadores existentes. Estarias disposto a sacrificar o DD a favor de um outro sistema publicado em pt?

Sérgio Mascarenhas

Sérgio,

Concordo com practicamente tudo o que dizes. Temos uma comunidade demasiado fragmentada e isolada nos seus próprios grupos para querer expandir-se numa comunidade Portuguesa universal. Não temos, nem nunca teremos o mercado, por exemplo, da França (para falar de um país mais próximo) que publica os seus próprios roleplays e onde um jogo novo pode e consegue competir com os gigantes da indústria (por exemplo, Qin é o terceiro jogo mais popular em França e tem um tema que não é do agrado de todos).

Discordo, no entanto, do sistema BRP como sistema de entrada para novos jogadores, não porque não goste dele (na verdade, está entre os três primeiros sistemas da minha lista de favoritos) mas porque tem essa grande desvantagem das 400 páginas. Considero que tens razão quanto aos novos sistemas como o Savage Worlds que ainda têm que provar que se aguentam décadas na indústria.

Voltando um pouco à ideia inicial: um projecto conjunto de vários grupos a criar um setting é um pouco megalómano (na minha opinião) no triste país em que vivemos. Não vi até agora, apesar de todas as conversas que se têm gerado aqui, um pólo dinamizador que permita prever que qualquer coisa desse tipo alguma vez venha a ver a luz do dia.

As ideias são boas e tenho visto isso nos EUA mas comparando o número de pessoas que por lá joga com as pessoas que por cá jogam... Para além de que os Americanos têm uma cultura de jogo diferente da nossa: eles saem, eles coordenam-se, existem convenções a nível nacional, etc. Entretanto, pode ser que o Sérgio qualquer dia avance com esse sistema. Laughing


“I am naught but a wanderer, a landless man, but a friend to all in need.” - Solomon Kane, (Red Shadows, Robert E. Howard)

Bem, eu nunca consideraria o BRP na sua versão actual. Como disse, teria de ser uma versão «ligeira». Se a Chaosium não aceitasse a ideia, é sempre possível ir a França falar com quem tem os direitos do Basic, um jogo BRP de introdução aos rpgs muito bem concebido. Pode ser que por essa via se conseguisse editar aqui um jogo BRP sem ser o BRP da Chaosium.

Uma alternativa é avançar-se antes para um jogo de um criador independente, sobretudo daqueles que editam jogos grátis. Por exemplo, o meu amigo Olivier Legrand tem jogos para todos os gostos e estou certo de que cederia os direitos para versões portuguesas, inclusive para venda.

Quanto à criação conjunta de um setting, concordo integralmente contigo, além de que não sou propriamente fan do modelo de criação «distribuída». Os bons produtos têm ideias fortes por detrás e isso significa normalmente uma forte direcção de uma mente ou de um conjunto pequeno de mentes muito sintonizadas.

Além de que criar um setting para DD não leva a sítio nenhum. Se for para ser editado comercialmente, lá vem o subir da montanha de conseguir os direitos da WotC. Mas editar um setting em pt para um jogo em inglês é... estranho, no mínimo.

Sérgio Mascarenhas

Se eu fosse tradutor de francês, traduzia o jogo de Dune de RPG do Legrande de graça, acredita! É o que dá ser dunófilo.

Em inglês desse autor só temos o Mazes & Minotaurs e a sua natureza satírica escapa um pouco à intenção de que se fala.

Mas lá está, o Legrand mostra que se pode publicar montes de jogos e publicá-los na net com boa qualidade e layouts e apelatividade decentes. Reflexo do mercado francês?

Existem muitos pequenos criadores que facilmente cedem os direitos dos jogos mas aos seus jogos falta-lhes reconhecimento de marca o que não é necessariamente mau já que os jogadores em potencial de RPG em Portugal são muitos mais do que os reais e fragmentados e esses já têm demasiada lealdade a esta e aquela companhia para abraçarem um jogo novo.

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Acerca do licenciamento do sistema de D&D 4ª ed. ser quase impossível. Bem é difícil mas não tanto.

Já não existe a licença aberta para se criar um novo jogo em PT (essa ficou parada na edição 3.5) mas existe sempre a hipótese de se criar um universo para 4ª… agora a polémica… brasileira que vai sair daqui a alguns meses!

Eu sei, eu sei. “Blargh, brasilês?! Não compro!” Bem os Brasileiros falam português e de certo ficavam curiosos com a coisa. O grande problema é não se vender nada de Devir Brasileira em Portugal (compreensível) e nem sequer se tentar (só vi coisas da White Wolf em PT e da 1ª edição dos jogos e na Devir Arena recusaram-se a enconmendar-me um D&d em Português para oferecer a um primo mais novo). Enfim, fica a ideia.

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Parece-me que te focas mesmo nos D&D e que não há confusões quanto a isso. É engraçado que fales que não existem muitos grupos de D&D porque o pessoal que joga outras coisas diz que só existem jogadores de D&D e ninguém quer jogar ao seus RPGs de eleição. :smiley:

Quando li o teu post fiquei curioso com o que ias propôr, continuei a ler e depois esbarrei na ideia do universo. Sabes para mim o essencial não é o universo conjunto, apesar de perceber a tua ideia de agregar o pessoal debaixo de um mesmo universo e isso vai no sentido do que falei sobre um universo PT publicado para a D&D 4ª ed. brasileira.

Para mim era essencial haver uma iniciativa de organização e construção de materiais de jogo acessíveis (em PT de preferência e não precisam de ser monstrosidades) para se pôr gente a jogar. Isso aliado a um grupo de gente disposta a pô-los em prática nesses eventos de jogos que se vão consolidando pelo país e noutros que fossem tematicamente relacionados. Hey, e até pode ser nesse universo comum, apesar de que existirão sempre universos melhores do que esse, pois existem gente com muito prática e experiência a trabalhar neles desde o início do hobby.

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

De facto, este é um tópico cíclico que costuma dar pano para mangas. O Psygnosed está a falar de iniciativas a jusante, o pessoal parece preferir discutir a montante e acumulam-se aqui vários assuntos diferentes.

Mesmo que não seja para partilhar um setting nacional - e, ao contrário do que o smascrns disse, o Psygnosed explicou que integrava qualquer versão de D&D - já seria bom haver mais comunicação entre as diferentes pessoas que jogam, sim. A verdade é que, nos RPGs, toda a gente tem experiências muito diferentes e só quem gostar muito particularmente do hobby é que está interessado em saber o que os outros andam a fazer.

Boa, então sou um amante do hobby! :smiley:

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

De facto, ainda fico atónito com a quantidade de problemas que nós, Portugueses, conseguimos arranjar só para complicar o que é simples, e arranjar vinte mil entraves a tudo e mais alguma coisa...

Se calhar é por esta razão que os outros países chegam a algum lado e nós nunca saímos da lamaceira.

É impressionante como todas as tentativas de "comunicação" nesta pseudo-comunidade acabam invariavelmente por se resumir ao "o jogo A é melhor que o jogo B, mas eu só jogo o C, mas realidade o que era bom era o D".

Em lado algum eu falei em comparar jogos. Em lado algum eu me pus a comparar falhas da empresa A ou da empresa B. Em lado algum eu compliquei.

Fiz algo tão simples como: "eu gosto de D&D... acham que era giro trocar algumas experiências de D&D a nível nacional" ?

Só isso. Nada mais. Nunca joguei qualquer jogo da White Wolf, não faço ideia o que é o Chaosium, não faço ideia quem seja o Olivier Legrand, e a minha experiência com Boardgames resume-se a Monopólio quando era miúdo.

Qual era a minha intenção ao abrir este tópico? Tendo em conta a dificuldade que há em manter sessões regulares entre malta pós-universitária, e havendo uma total e agonizante falta de comunicação entre a pseudo-comunidade de jogadores de D&D neste país, pensei: "Bom... se calhar, era giro partilhar esta ideia que eu estou a tentar desenvolver com outras pessoas que partilhem o gosto por D&D... Toda a gente tem o seu grupo e a sua campanha, e provavelmente a comunicação é dificultada pelo facto de uns jogadorem em Forgotten, outros em Eberron e outros em homebrew... se calhar era possível inventar um mini-setting, simples, criado à medida que fosse necessário por várias pessoas que - repito - partilhassem um gosto por D&D, e que se calhar fazem sessões soltas e esporádicas, fora das campanhas principais..."

Não era minha intenção comprar o RPG 123 com o RPG 456.

Não era minha intenção criar um RPG novo.

Não era minha intenção traduzir o RPG 123 ou o RPG 456 para Português.

Não era minha intenção saber se 4.0 é melhor que 3.5 e pior que 2.0 ou 1.0.

Não era minha intenção criar um setting inteiro, super desenvolvido, caracterizado até à exaustão e o raio-que-me-parta.

...

A minha intenção? "Epá... até temos aqui o Keep of the Shadowfell (ou qualquer outra porcaria que sirva)... vamos jogá-lo no setting tuga, enquanto quest pontual, e trocar comentários com outras pessoas que também o tenham feito?"

Mas... voilá, Portugal e Portugueses...

Em última análise a culpa a minha, porque sou suficientemente burro para ao fim de 27 anos continuar a cair nas mesmas poças. Já quando tentei sugerir algo "tão complicado" como "Será que se fazia uma simples fãzine entre a malta que joga? Só para saber quem joga onde e o quê?" Foi logo o "end of all things" e não se podia fazer a fãzine, porque havia 726382003 problemas, e não havia um designer gráfico profissional e não se podia escrever A sem ofender B, nem fazer X sem olhar para Y...

É curioso como nos outros países as coisas primeiro fazem-se e depois melhoram-se, enquanto "nós por cá" não fazemos, deitamos abaixo o que ainda não foi feito, o criticamos o que alguém tenta fazer.

Já nos meus tempos de Legend of The Five Rings a coisa era a mesma...

Bom, e vou mas é calar-me, e voltar ao "sítio confortável do vazio, do silêncio e da ausência total de sugestões para seja o que for que exija algo mais do que escrever três linhas com muitos "k" e muitos "x"

Sinceramente... é desmotivante ser Português. Já sei que estou em "rant mode", mas o que vejo neste fórum/site/coisa todos os dias é um bocado um espelho do que nos rodeia... somos o país em silêncio a observar o que os outros fazem lá fora, e secretamente a invejar.

Poderíamos ser tão melhores do que somos...

"That's all folks"... bora lá todos voltar aos nossos grupos escondidos sem falar com mais ninguém.

Desculpem lá o sarcasmo e os comentários inconvenientes. Não queria começar outra troca de "cordiais galardões", mas paciência...

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"Blog" https://balazanar.blogspot.com/ "D&D" https://jrc589.googlepages.com/

A dificuldade com o rpg é que obedece a um princípio de «integração vertical», quer dizer, não podemos isolar o jusante do montante pois ambos têm de estar presentes no jogo. E a eles junta-se um terceiro elemento, a concreta implementação de sistema e universo que varia de grupo para grupo.

Ora em termos de mercado as coisas começam a montante, no sistema. Avançar com a criação de um universo português para um sistema estrangeiro não vai longe. O que interessa é dispor de um sistema em português e depois aplicá-lo a universos de ficção facilmente acessíveis em Portugal.

Em qualquer dos casos, é a necessária «integração vertical» na mesa de jogo que dificulta ou impossibilita a acção comum. Cada grupo é diferente, quer porque usam sistemas diferentes, quer porque usam universos de jogo diferentes, quer porque os implementam de maneiras diferentes.

Sérgio Mascarenhas

Devo dizer que sou daqueles que têm dificuldade em engolir as traduções brasileiras. Sou-o de há muito. Disse-o há uns 10 anos numa lista de discussão de rpr em pt em que participava um brasileiro e ele ficou algo ofendido (tanto mais que ele residia em Portugal), paciência. Os rpg são jogos assentes na lingua e por isso as mais pequenas variantes ortográficas ou vocabulares ganham uma dimensão imensa. O mesmo sucede, aliás, com tudo o que respeita a linguagem técnica, é por isso que se não vende em Portugal versões brasileiras de software - pelo menos do essencial.

É claro que se a tradução brasileira for excelente e de qualidade literária... mas que tradução de jogos é que é excelente e de qualidade literária?

Quanto an DD em pt de Portugal, eu tenho lá dentro a caixa vermelha publicada pela SocTip. Gato escaldado de água fria tem medo.

Sérgio Mascarenhas

Boa sorte e felicidades na iniciativa que te move. Cá estaremos para “invejar” tudo o que de bom advir daí. ;D

P.S.: Já agora, este site não é de todo representativo de todos os jogadores de RPG de Portugal nem as pessoas que responderam ao teu topico até agora. As ideias são livres e as opiniões das pessoas diferem muito numa discussão pública. Dado tempo alguém que possa te ajudar directamente nessa iniciatica haverá de responder e senão for neste site será noutro ou por outros meios.

"Se alguma vez sou coerente, é apenas como incoerência saída da incoerência." Fernando Pessoa

Se eu pensasse como tu achas que a maioria de nós pensa, não me tinha dedicado nos últimos tempos a juntar um grupo de pessoal do mais diverso que pode haver. Eles andam aqui e não me deixam mentir: um de Lisboa que conheci há 2 anos, um outro de Lisboa que conheci há 1 mês e um outro de Parede que conheci hoje! Deu-me trabalho mas consegui descobrí-los o que significa que anda por aí muita gente isolada que quer jogar e não sabe como. O problema é que demorei 2 anos a arranjar este grupo, agora imagina montar em Portugal uma iniciativa que junte dezenas de pessoas.

O Mariano tentou organizar as Quintas dos Roleplays e ninguém se mexeu. Duvido muito que andando com um megafone na rua fosse mais eficaz. Nem tão pouco recorrer a outros fóruns. Junta a isto o facto de cada campanha de cada grupo ser uma coisa pessoal e personalizada. Nem pensar em mexer na minha campanha. Não vou falar dos roleplays que jogo (não jogo D&D) mas como este fórum trata de D&D, respondo nesses termos: se eu me envolvesse numa campanha de D&D com os meus jogadores, não queria que o grupo A, B ou C me viesse de fora e matasse o NPC X ou Y. A campanha é um acto criativo entre mim e os meus jogadores e não entre mim e o resto de Portugal. E podes responder-me "mas não tens que aceitar como oficial o que outro grupo faz com o setting partilhado." Nesse caso, para quê partilhar o setting em primeiro lugar?

Isto é uma questão complicada, sem dúvida, e não quero retirar qualidades às tuas motivações mas, como já disse o Mariano, o Abre o Jogo não é representativo da nossa comunidade (conheço muitos grupos que nem põem cá os pés ou sabem mesmo da existência deste site). Para chegar a muitos e mudar essas mentalidades é preciso outra estratégia. Infelizmente, não sei qual é até porque tenho a felicidade de infelizmente jogar jogos que não são "populares" em Portugal.


"I am naught but a wanderer, a landless man, but a friend to all in need.” - Solomon Kane, (Red Shadows, Robert E. Howard)

Eu ainda não tinha respondido porque, no decorrer da conversa, ainda não tinha percebido se era sobre D&D ou RPG no geral. Ainda bem que voltaram a focar no assunto principal (D&D).

Concordo com os pontos que o Dwarin e o Sérgio levantaram, uma campanha tem toda essa envolvência e duvido que muita gente queira fazer parte desse esforço, ou que até ganhe alguma coisa isso tendo em conta o investimento.

Dito isto, algumas das ideias que levantaste parecem-me muito boas. Por exemplo criar um wiki (ou algo parecido) onde os GMs e/ou grupos pudessem expor as suas aventuras, NPCs, cidades, masmorras, artefactos, etc. e deste modo criar um ponto de partilha e disponibilização de material para D&D em português que os GMs e/ou grupos depois podem adaptar ao universo da sua campanha.

Não te parece um projecto mais viável?

Nota @ Psygnnosed: Como criador do tópico, é da tua responsabilidade manter os assuntos das respostas dentro do que tu queres discutir com o mesmo da maneira mais civil possível, se mesmo assim não der comunicas à administração. Não era necessário exaltares-te daquela maneira. Acredito que tem te respondeu o fez com a melhor das intenções.

Nota @ todos os outros: Como comentadores de um tópico é da vossa responsabilidade manterem o assunto das vossas respostas dentro do assunto do tópico, se não têm a certeza de qual este é perguntem ao criador. Não é necessário estarmos todos a dar boas ideias e gastar o nosso latim sobre um assunto quando não é dele que se está a falar.

Acho que todos podemos evitar este tipo confusões.

"the drunks of the Red-Piss L1egion refuse to be vanquished"

Comecemos pelos «cordiais galardões». Há 20 anos tu tinhas 7 e estavas a aprender a ler. Há 20 anos eu e um grupo de maduros formámos um clube dedicado aos rpgs, chamámos-lhe A Torre do Necromante. Há algumas semanas alguém me disse, quando soube que eu estive ligado ao clube, me disse, «o quê, tu estiveste ligado à mítica Torre do Necromante?». Eu fiquei banzado com aquele «mítica».

A Torre teve um fanzine, durou três numeros. Há 20 anos não haviam computadores, programas de DTP, internet, etc. e tal. Para produzir um fanzine escrevia-se em máquina de escrever... quando se tinha acesso a uma. Já viste uma máquina de escrever? Já escreveste numa? Depois fotocopiava-se o fanzine porque felizmente já havia fotocópias.

Há 20 anos jogávamos jogos que nos chegavam a contagotas trazidos pelos raros privilegiados que conseguiam ir ao estrangeiro, ou que tinham amigos ou familiares que íam ao estrangeiro. Ou então importavam-se a preços impossíveis e esperava-se que chegassem um dia, passados muitos meses. Não havia então internet nem compras pela net. Há 20 anos não podíamos ir à Fnac comprar o DD, entre outras pela simples razão de que não havia Fnac. Não se podia ir à Runadrake pois não havia lojas especializadas.

Apesar disso formámos clubes e editámos fanzines. Houve tentativas de publicação de jogos em jornais. Fizemos o que pudémos pela divulgação do hobi.

Sim, é altura de trocarmos cordiais galardões. Se há coisa que eu não suporto é essa dos «portugueses». Os portugueses são como toda a outra gente. E como todos, falam sem saber o que estão a dizer - como é o teu caso.

Eu não me desmotivei dos rpgs por ser português. Nem disso nem de nada na vida. Só continuo a não conseguir suportar portugueses que se atiram ao «ser português», e não é pouco.

Se tens inveja, problema teu. Eu não tenho. Eu sei bem o que se passou nos 25 anos que levo de hobi nos EUA, França, Espanha, UK, Itália, etc. Em todos estes países o rpg teve altos e baixos. Em alguns deles não pegou ou praticamente não descolou - caso da Espanha. Noutros teve bons começos e medíocres saídas - caso da Itália. Noutros vai em ondas - caso dos USA e França.

Portugal tem o mercado de rpg que pode ter. Somos um país pequeno, com poucas tradições de jogo - os nossos entertenimentos tradicionais não são estes - e limitado pelas condições económicas da tradução e edição. Quem fala dos «portugueses» normalmente diz enormes dislates porque no fundo não conhece os portugueses.

No caso concreto dos rpgs se conhecesse os portugueses até estaria satisfeito com o que se passa no nosso país. Hoje vendem-se jogos em Portugal! Hoje há sítios onde as pessoas se podem encontrar. Hoje há canais de comunicação.

As minhas observações assentam em 25 anos de hobi, atentos, intervenientes e construtivos. Nunca me dediquei à crítica balofa do «lá estão os portugueses».

O teu hobi é o DD? Óptimo. Não é o meu, o meu é o rpg. Vive com isso. Observei que o caminho que propões para divulgar o DD não leva a nada. Vive com isso. Observei-o porque conheço duas décadas de tentativas de divulgação do DD no nosso país que não foram longe. Vive com isso.

E deixa-te de sugestões. De boas intenções está o inferno cheio. Queres que as coisas aconteçam? Faz por isso. Queres um fanzine? Não lances a ideia, faz o fanzine e divulga-o. Queres um universo de jogo acessível a todos? Não lances a ideia, faz a coisa.

Como disse, há 20 anos era lixado, hoje é só rir. Faz-se tudo no computador, tudo. em 1985 mais ano menos ano nem se conseguia imaginar tal, ou só se imaginava num cenário de ficção científica do Traveller.

Em resumo, para de lançar ideias para o ar, FAZ.

Sérgio Mascarenhas

[quote=Psygnnosed]

De facto, ainda fico atónito com a quantidade de problemas que nós, Portugueses, conseguimos arranjar só para complicar o que é simples, e arranjar vinte mil entraves a tudo e mais alguma coisa…

Se calhar é por esta razão que os outros países chegam a algum lado e nós nunca saímos da lamaceira.

É impressionante como todas as tentativas de "comunicação" nesta pseudo-comunidade acabam invariavelmente por se resumir ao "o jogo A é melhor que o jogo B, mas eu só jogo o C, mas realidade o que era bom era o D".[/quote]

Tenho pena mas infelizmente isto é verdade…Portugal nunca irá a lado nenhum no mundo do RPGs…porque tudo o que se faça é sempre rejeitado e isso tem a ver com a mentalidade das pessoas, visto que lá fora, nomeadamente EUA, as pessoas têm uma mente mais aberta a este tipo de jogo, dai o facto de se juntarem aos milhares e terem a força que têm neste ambiente…eu tentei de tudo para criar grupos cá em Portugal até que por fim farto de fazer figura de parvo e ainda ser gozado por pessoas que deviam estar caladas, criei uma comunidade com o meu grupo e espero vê-la crescer e neste caso divulgar o setting de Warhammer Fantasy Roleplay Smile

"Two things are wanted by a true man, danger and play. Therefore, he seeks a woman as the most dangerous toy." Friedrich Nietzche

Em primeiro lugar, o que eu aprendi há muito é que não adianta esbracejar. Disto isto, vou cingir-me ao tópico de D&D mas primeir vou tentar explicar-te porque é que aqui no Abre o Jogo é irrelevante limitar um tópico apenas a um sistema: mais de metade dos utilizadores QUE PARTICIPAM nestes fóruns não jogam D&D. Se vieste aqui à procura de um núcleo de jogadores de D&D, desengana-te porque aqui joga-se de tudo um pouco. Por isso, é difícil a quem responde cingir-se ao sistema porque não jogam esse sistema.

Mas voltando ao tópico de D&D, se achas que um setting partilhado teria pernas para voar, força. Cria um site (hoje em dia cria-se um em 10 minutos) ou um wiki dedicado a isso. Chama os jogadores daqui para lá (conheço alguns que jogam D&D e que poderiam estar interessados em participar). Define os critérios de partilha do site. Divide o site por secções (uma para contribuições de aventuras outro para contribuições de objectos mágicos, outra para contribuições de regiões, etc.) O que quero dizer com isto é, cria TU o site e começa qualquer coisa. Pode ser que arranque, pode ser que não mas pelo menos fizeste alguma coisa por isso.

Só ainda não percebi uma coisa com dinamização do D&D. Queres mais jogadores ou queres apenas juntar uma comunidade Portuguese num só ponto para partilha de ideias? Podes criar fóruns (que também se criam rapidamente) e começar a publicar tópicos teus. Chama as pessoas para lá. Verás que muita gente quer partilhar as suas ideias.

Mais ainda, não te cinjas a D&D como sistema. Fantasia. Qualquer objecto mágico de fantasia ou criatura pode ser adaptado a um sistema específico mas assim o site/fórums abrangeriam pessoas que jogam outros sistemas de fantasia. Há mil e uma ideias e até as tuas poderão ter pernas para andar. Começa algo, os outros seguirão. Se não resultar, pelo menos tentaste, o que é mais do que se pode dizer dos "muitos Portugueses" que tu criticas. Laughing


“I am naught but a wanderer, a landless man, but a friend to all in need.” - Solomon Kane, (Red Shadows, Robert E. Howard)

Sou novo por aqui - de facto acabo de chegar. Nem sabia que isto existia... Como o encontrei não interessa - envolve o google e busca de coisas mais ou menos relacionadas...

Queria só dizer que *acho* que já existe um sistema de RPG português. É sistema d100, bastante simples, e ao qual é fácil de se adicionar conteudo. Chama-se Druidas do Eclipse, e só me lembrei dele por o Sérgio mencionar a Torre do Necromante - porque o sistema é dessa altura. Veio num jornal qualquer que o meu pai tinha guardado e, na segunda ou terceira parte, tinha uma sidebox que mencionava, exactamente, a existência da Torre.

Infelizmente, não sei por onde param os meus fascículos, porque o sistema até me parecia engraçado... pode ser que o Sérgio tenha alguma cópia (nudge nudge wink wink, know what I mean, know what I mean)?

É verdade, sim senhor. Saiu no defunto Diário Popular em fascículos semanais (uma página ao Sábado) em 1984 ou 1985. Na altura tinha eu 13-14 anos pelo que fiquei fascinado com essa coisa de roleplays. Por isso, posso dizer que o meu primeiro contacto com roleplays foi com um RPG Português. Lembro-me vagamento do autor dos ditos artigos mencionar que este hobby era muito popular lá fora, nomeada nos States, e que queria mostrar aos Português um pouco do que era isso dos rpgs. Incluia, se não estou em erro, um mapa de um dungeon, etc. Um colega meu até colou as páginas numa sebenta ficando assim um manual rudimentar.

/nostalgia on

Não sei como o sistema se jogaria nos dias que correm e depois de tanta água debaixo da ponte, mas usava-o principalmente para recriar O Senhor dos Anéis (os jogadores tinham que levar o anel e fugir dos Nazgul).

/nostalgia off.


“I am naught but a wanderer, a landless man, but a friend to all in need.” - Solomon Kane, (Red Shadows, Robert E. Howard)