GNS e Imersionismo

Malta, criei esta discussão no rpg.net que está a gerar resultados interessantes.

Discutam lá, se vos aprouver, ou postem aqui os vossos comentários.

Digo-vos, para abrir o apetite, que o Ron Edwards já lá comentou. ;)

Mas porque é que insistes em querer redefinir totalmente as definições? Para ti um leão marinho é um leão que está a viajar pelo mar, não uma foca gigante com dentes de sabre.... e então? Não é por isso que deixam de continuar a existir as ditas focas e não é por isso que os leões deixam de atravessar os oceanos de barco ou avião para irem para os zoológicos... simplesmente o que começa a acontecer é que quando alguém diz que viu um leão marinho, ninguém sabe se está a falar de uma foca, um leão, um sportinguista a tomar banho, ou uma outra qualquer definição de"leão marinho" que outra pessoa tem.

[quote=Rui]Digo-vos, para abrir o apetite, que o Ron Edwards já lá comentou. ;)[/quote]

Liar! :)

Oi, :)

Yeah, whatever...

[i]What is absquatulation? [b]For me[/b], it's (insert random personal opinion rather than formal definition here).[/i]

A minha irmã, quando era mais nova, também costumava argumentar assim. Eu descobri rapidamente que é mais ou menos impossivel ter uma conversa construtiva quando começa com as palavras "para mim" ou "em minha opinião" porque, sejamos honestos, não há nada para contrapôr. O que é que eu vou responder quando alguém diz "a minha opinião é esta"? "Não é, não senhor" não me parece muito apropriado...

Malta, se querem usar termos técnicos, aceitem as definições que existem. Se não compreendem as definições, podemos discuti-las, se quiserem, mas não vale a pena estar a mudá-las só porque nos dá jeito, até porque não dá. É tipo força centrifuga, é uma ilusão.

Se querem mesmo trabalhar com definições diferentes, das duas uma: ou criam palavras diferentes, ou criam um modelo inteiro que, por acaso, usa os mesmos termos (que foi o que o Big Model fez em relação ao Threefold Model).

De qualquer modo, se de facto queres a minha opinião, eu subscrevo completamente o lumpley, eplo menos até ao post #57 que foi o último que eu li.

Ainda por cima, confundiste o Ron Edwards com o Vincent Baker. :)

Malta, se forem ver bem os posts verão que o que eu pus lá tem pouco a ver que o que vocês escrevem! Acho que já têm tão enraizada a ideia de que eu não sei o que A ou B que imediatamente descartam qualquer pedido de informação!

Se passarem por cima desse estado vão perceber que o que escrevi era um post com dois pontos principais: 1) dava a minha ideia do que eram as coisas, pedindo correcções, e 2) pedia explicações sucintas, já que as da Forge não o são.

Se tivessem lido tudo, veriam que há lá malta que até concorda comigo, e veriam ainda que há lá malta que se oferece para me explicar o que significam os termos de maneira sucinta. E mais, há lá malta que diz que uma das definições nem sequer é canónica...

Eu não estou a querer inventar a roda (ando a repetir-me, por aqui), estou isso sim a tentar perceber como são as coisas, e como acho as definições correntes demasiado complicadas, o post era mais um pedido de ajuda que outra coisa.

Porque é que perceberam isso como um ataque?

Mas têm razão numa coisa, confundi o Ron Edwards com o Vincent Baker.

Oi, :)

Sorry, my bad.

[url=https://benlehman.thesmerf.com/?p=128]Este link[/url] tem as melhores definições de G, N e S que já li. Espero que seja elucidativo para ti também.

Uma ressalva, no entanto: quando ele diz "gain social esteem", isso deve ler-se, "deriva daqui divertimento interno, divertimento esse que pode apresentar e partilhar com as restantes pessoas à mesa".

É claro que a explicação não é completamente "sucinta", mas espero que isso não saje um problema. Pedir uma explicação mais abreviada que aquele texto para conceitos que não são inteiramente triviais não é um pedido fácil. :)

Quanto ao imersionismo, não é de todo um termo trivial. Está cheio de bagagem, sendo um termo basicamente anterior ao trabalho de teoria formal desta malta, e torna-se difícil assumir uma definição que não antagonize mais de metade de um grupo médio de role-players.

Pá, eu li tudo o que havia lá antes de comentar aqui. Logo a abrir dizes que a tua definição das coisas dizendo que "tem pouco a ver com as teorias GNS" e, em vez de pedires clarificações sobre o que são então G, N e S, pedes clarificações sobre o papel do Imersionismo nisto tudo. Um dos primeiros posters até teve de te perguntar se devia corrigir as tuas definições.

Ora ver-te oferecer definições que pouco têm a ver com que está nos artigos da Forge que mencionaste aqui que andavas a ler e com o que já se discutiu contigo várias vezes aqui e no meetup onde estiveste, e depois ainda te ver perguntar dezenas de posts mais à frente porque é que há-de ser o Narrativismo tão obececado pelas escolhas difíceis e porque é que não haveria de pode jogar Narrativismo sem ter de as fazer... Dá azo a outras interpretações, como compreenderás, portanto estou certo que nos podes perdoar aos dois. :)

Há alguma questão específica em que ainda queiras esclarecimentos?

Bom, de facto leste o 1º post, disso não há dúvidas, mas tenho dúvidas sobre se o leste todo ou não. A última frase desse post é uma pergunta sobre se meti a pata na poça ou não, mas obviamente qualquer interpretação que daí se tire é subjectiva e dependente dos óculos que se use.

E qual é o problema de Narrativismo ser jogado sem escolhas dificeis? Como digo lá também, e que me pareceu escolheste ignorar, a minha pouca experiência com o PTA assim me fez acreditar que era a maneira certa de jogar. Claro, dizer que tenho pouca experiência é querer re-escrever as teorias. :P

Como perceberás, estou moderadamente irritado com isso. Ainda para mais que várias respostas lá me fizeram entender que afinal as minhas questões até faziam algum sentido e que a minha compreensão dos temas até era boa. Mas escolheste também ignorar isso.

E como me parece que cada vez que falo nisto parece que estou a mexer numa vaca sagrada, vou ficar-me por aqui.

[quote=Rui]Bom, de facto leste o 1º post, disso não há dúvidas, mas tenho dúvidas sobre se o leste todo ou não. A última frase desse post é uma pergunta sobre se meti a pata na poça ou não, mas obviamente qualquer interpretação que daí se tire é subjectiva e dependente dos óculos que se use.[/quote]

Li tudo, sim. O meter a pata na poça pareceu-me ser relativo a se o imersionismo era ou não possível dentro do contexto do GNS, que aliás, é de (muito) longe o tema dominante de toda a discussão, portanto muito mais gente interpretou a coisa tal como eu.

[quote=Rui]E qual é o problema de Narrativismo ser jogado sem escolhas dificeis? Como digo lá também, e que me pareceu escolheste ignorar, a minha pouca experiência com o PTA assim me fez acreditar que era a maneira certa de jogar. Claro, dizer que tenho pouca experiência é querer re-escrever as teorias. :P[/quote]

O problema é que o Narrativismo é as escolhas difíceis. Qualquer definição simples ou complexa diz isso ou algo equivalente ("abordar a premissa" é um termo bonito bastante usado, por exemplo). Não há grande volta a dar-lhe.

Sobre a tua experiência PTA, e o "teu conceito" de Narrativismo, já se disse aqui muita vez que Narração Partilhada <nada a ver> Narrativismo. Leste isto aqui? Ou outros comentários como este (começa logo no título!) e até este que diz que PTA = Simulacionista? Todos foram escritos há um mês e meio como resposta directa e imediata às tuas preocupações e dúvidas.

[quote=Rui]Como perceberás, estou moderadamente irritado com isso. Ainda para mais que várias respostas lá me fizeram entender que afinal as minhas questões até faziam algum sentido e que a minha compreensão dos temas até era boa. Mas escolheste também ignorar isso.

E como me parece que cada vez que falo nisto parece que estou a mexer numa vaca sagrada, vou ficar-me por aqui.[/quote]

Não escolhi ignorar nada.

E não há razão para te irritares, nem para te calares. Há aqui muita e boa gente que já gastou e continuará alegremente a gastar muito do seu latim para te ajudar a esclarecer as tuas dúvidas sobre o que é o Big Model e o GNS. Tens é de estar disposto a ouvir o que se diz e/ou a mandar estes gajos todos com mania que são professores catedráticos falarem linguagem que se entenda ou apresentares casos concretos; ao fim de tanto tempo, e de tantos rios escritos de palavras, não deveria haver razões para não teres uma ideia do que é o Narrativismo, portanto algo está a falhar algures na comunicação.

Agora se achas que o Big Model e o seu GNS é complexo/estúpido/inútil/whatever, estás no teu direito e acho muito bem. E depois, se ainda achares que ainda precisas de uma ferramenta para te ajudar a analisar/explicar/compreender/reproduzir/whatever o que vês à mesa de jogo, talvez queiras dar uma olhada no GDS/Threefold Model, por exemplo. Não o acho nada útil, ei, mas essa é só a minha opinião pessoal e intransmissível! :)

Eu também nunca percebi toda a imensa teoria dos modelos e GNS e tal... Claro que o que percebi - imediatamente - foi que aquilo não era mim e, portanto, também não me dei ao trabalho de me esforçar para meter a informação na cabeça. Mas fiquei com a nítida ideia de que, apesar de haver muitos conceitos da sociologia e da psicologia social espalhados por toda a produção da Forge, a forma é nitidamente de textos das ciências exactas. O que me leva a crer que a maioria dos teóricos do RPG têm um background de ciências exactas e estão habituados a exprimir-se com a terminologia das ciências exactas. Ora bem, isto pode não parecer relevante, mas é, e muito. Na minha profissão, que infelizmente é o jornalismo, aprende-se que para chegar ao maior número de leitores (que inclui os iletrados que lêem o Correio da Manhã e o 24 Horas) há que escrever com clareza e concisão. Obviamente, neste caso falamos de textos teóricos e não de notícias, portanto cada um expõem as suas ideias da maneira que bem entende e ninguém tem nada a ver com isso. Não obstante, é natural que certas ideias possam não entrar com facilidade em todos os cérebros. Se o Rui for um gajo das letras ou das artes (como eu presumo que seja), talvez esta ideia tenha alguma lógica e o que ele precisa é de um explicador de teoria do role-play que resuma os tomos da Forge em linguagem corrente. Por outro lado, pode ser um bloqueio mental imposto pelas pessoas que discordam dos conceitos expostos na Forge. E se assim for, provavelmente não há nada a fazer....

Já agora, antes que me caiam em cima, isto não é um ataque à Forge, nem ao GNS, nem a nada disso!

Apesar de lêr o abre o jogo regularmente, raramente faço posts, pois sou daquela escola que acha que fazer posts só porque se pode é francamente inútil. No entanto, há algo que vejo repetido aqui vezes sem conta, principalmente pelo Rui que nunca vi ninguém contrapor...

Chamar a PTA um sistema Narrativista está errado (pelo menos se estiveres a usar o Big Model para achar a tua definição de Narrativista) da mesma maneira que chamar a QUALQUER sistema Gamist/Narrativist/Simulacionist está errado.

O que os sistemas podem é FACILITAR o uso de uma determinada agenda criativa e no caso de PTA, o sistema de facto facilita o uso de Narrativismo como agenda criativa, o que de maneira nenhuma significa se jogares PTA estás a jogar NAR. Exemplo: Eu, o Mendes, o Ric e a Ana jogámos uma season inteira de PTA e Narrativismo nem vê-lo. Aquilo foi SIM de uma ponta a outra.

O maior problema que eu vejo as pessoas ter quando tentam perceber o que é o big model é não identificarem de facto o que são as agenda criativas, muito provavelmente por causa da escolha dos termos ser completamente cretina. Em toda a minha vida de role-play e por MUITO que me esforce só consigo encontrar UMA UNICA SESSÃO que de facto foi NAR e só me apercebi disso muito mais tarde.

TSoY, campanha que estou a mestrar de momento vai no bom caminho para me ilucidar acerca de como se pode têr uma agenda criativa com base em NAR, mas ainda não está bem lá. Estou a contemplar usar aqui o portal para ir descrevendo a campanha, mas isso dá trabalho.

Onde é que eu quero chegar com isto... quando fazes a seguinte pergunta:

[quote=Rui]E qual é o problema de Narrativismo ser jogado sem escolhas dificeis?[/quote]

Assumindo que por escolhas dificeis queres dizer escolhas temáticas e com significado que avançem a premissa, não há problema nenhum, apenas não é Narrativismo como definido pelo Big Model.

Bom, por acaso sou de Relações Internacionais, mas a minha vida profissional foi sempre dentro da área do web-design, por isso estás certissimo na tua avaliação.

Eu aqui refugio-me nos poucos pobres coitados do rpg.net que, não sendo Forgitas, ainda tentam perceber as teorias lá expostas e falham, para não me sentir tão mal nas coisas - e digo-te que estou prestes a voltar à ignorancia onde estive até hoje e divertir-me a jogar como sempre fiz.

Tenho é curiosidade nas coisas e gosto de as explorar, e senti-me atacado quando vi as minhas perguntas lá serem interpretadas da maneira que não era a mais correcta, e curiosamente a explicação para essa maneira até ma deram nessa thread: se quero falar de GNS com um Forgita primeiro digo-lhe que os seus jogos são os melhores. Como tão cedo não farei isso, porque o estilo de jogo do meu grupo a isso não se presta, então, segundo o tal rapaz, tão cedo também não vou poder falar de GNS, ou, como apontas e bem, perceber GNS, a menos que alguém me traduza tudo aquilo ou se sente ao meu lado com gráficos e desenhos.

Estranho é não ver ninguém a comentar isto.

Sobre as escolhas: pelo menos isso, acho que já percebi. Não se trata apenas de escolher se se tira a maçã madura ou a verde, mas sim escolher se se vai falar ao director a informar aquilo que o amigo acabou de fazer no corredor dos estudantes.

Adorava perceber mais de Creative Agendas, honestamente; aquilo que vejo descrito como GNS parece-me muitas vezes que consigo ver à minha mesa de jogo todos os Sábados, por isso tenho certeza que a percebi extremamente mal.

E passo a explicar:

Gamist, é o Padeira. 'nuff said.

Simulationist, é o que fazemos, como o João Mendes já disse.

Narrativist, aquilo que se passou na última sessão.

Mas pronto, o mais certo é ter percebido mal.

Vacas sagradas e o camandro.

[quote=ricmadeira]Leste isto aqui? Ou outros comentários como este (começa logo no título!) e até este que diz que PTA = Simulacionista? Todos foram escritos há um mês e meio como resposta directa e imediata às tuas preocupações e dúvidas.[/quote]

Só para picar: o 1º és tu a dizer que o PTA=Narrativist, o 2º é o jpn a dizer que tem o mesmo problema com o PTA que eu, e finalmente o 3º é o João Mendes a dizer que o PTA=Sim, mas do ponto de vista de recriar uma série de TV. Mais algum argumento? ;)

[quote=Rui] Gamist, é o Padeira. 'nuff said.[/quote]
Não sei se me deva sentir ofendido ou elogiado!

 

[quote=Rui] Bom, por acaso sou de Relações Internacionais(...)[/quote]
Eu tb sou de relações internacionais, mas é com a frase noutro sentido! 
(off-topic, que espero que o Rui tenha o bom senso de não o comentar por aqui sff! )

Oi, :)

[quote=Rui]Adorava perceber mais de Creative Agendas, honestamente[/quote]

Cool. Curtia que tivesses vindo ao meetup, mas proponho que a gente se encontre face to face e converse, que é muito mais fácil que estar a trocar posts.

[quote=Rui]se quero falar de GNS com um Forgita primeiro digo-lhe que os seus jogos são os melhores[/quote]

Percebo perfeitamente de onde é que isto vem. Eu também acho que a onda dos gajos (me included) pode ser um pouco elitista. Mas não tem nada a ver com dizer bem dos jogos em si. Tem mais a ver com vários anos de gente cuja primeira reacção instinctiva é "isso do GNS não é para mim", embora isso não faça sentido. É como alguém ouvir falar de física atómica e dizer "isso dos electrões, eu cá não tenho"... O GNS é um modelo, tal como os electrões são só um modelo. Acontece, em ambos os casos, ser um modeloi que explica consistentemente os fenómenos que eu/nós observamos.

[quote=Rui]tão cedo também não vou [...] perceber GNS, a menos que alguém me traduza tudo aquilo ou se sente ao meu lado com gráficos e desenhos[/quote]

Cool. Gráficos e desenhos são Coisas Boas (tm). Principalmente os do lumpley (Vincent Baker) e os do bankuei (Chris Chinn). :) (que é como quem diz, eu também demorei imenso tempo a perceber o que se estava a passar, e ainda não me considero propriamente uma sumidade...)

Obrigado, Roger! Às vezes citar o óbvio e voltar aos básicos ajuda imenso. Apelidar um jogo/jogador de G, N, ou S é, de facto, gíria corrente para tende a facilitar/preferir G, N ou S... tão corrente que se deixa de pensar realmente nisso ao fim de pouco tempo. Não sei se isso gerou confusão ou não, mas pelo menos fica esclarecido.

[quote=Ralek]TSoY, campanha que estou a mestrar de momento vai no bom caminho para me ilucidar acerca de como se pode têr uma agenda criativa com base em NAR, mas ainda não está bem lá. Estou a contemplar usar aqui o portal para ir descrevendo a campanha, mas isso dá trabalho.[/quote]

Bom, não quero ensinar o Pai Nosso ao vigário, mas talvez isto ajude mais gente... Em vez de uma descrição completa e chata dos eventos ficcionais in-game porque não um post ocasional sobre o(s) momento(s) alto(s) de uma sessão, ou coisas que não correram tão bem como esperavámos, em que se tenta descrever as expectactivas da situação, como é que de facto as pessoas à volta da mesa lidaram com ela, e as lições que se podem tirar daí para fazer melhor da próxima vez ou criar momentos assim tão bons com mais frequência. Pouca gente quer ler a história completa da vossa sessão, mas muita gente estará interessada em tirar lições do que aconteceu à vossa mesa de jogo. Dá-vos (em teoria) menos trabalho, e é muito mais interessante e útil para as outras pessoas.

Tenho de ver se faço um post deste género no fórum de Actual Play, a ver se começamos a ver aqui mais reports do que se anda a passar pelas mesas de jogo de Portugal fora.

[quote=Rui]aquilo que vejo descrito como GNS parece-me muitas vezes que consigo ver à minha mesa de jogo todos os Sábados, por isso tenho certeza que a percebi extremamente mal.[/quote]

Ou suficientemente bem. Isto não são coisas que existem no reino das possibilidades teóricas, pretendem ser formas de estudar na prática o que se passa à mesa de jogo. Os conceitos podem ter implicações complexas e o pessoal pode estar sempre a discutir os meandros da teoria, mas a verdade é que nenhuma das agendas criativas são bichos de 7 cabeças (i.e., o Narrativismo basicamente é focar-se nas escolhas difíceis, that's it!). As três agendas criativas pretendem ser formas de estar num jogo que existem praticamente desde que o hobbie começou; lá por alguém não saber o que é o Narrativismo ou querer mandar o Ron Edwards dar uma curva ao bilhar grande, não quer dizer que essa pessoa não faça Narrativismo, tal como o GNS descreve, há já várias décadas com o seu querido AD&D.

[quote=Rui]Narrativist, aquilo que se passou na última sessão.[/quote]

Frio... Lembra-te do que disseste agora do Padeira, e lembra-te do que disseste (ou ele disse?) na outra thread sobre as razões que o levaram a fazer aquela acção... E eram uns quantos "mooks" que estavam a tentar escapar, não (ou, pelo menos, não ainda) uma situação que requeresse uma decisão de arriscar ou não feridos/mortos inocentes para evitar um mal pior.

Mas estarás bem quentinho ao recordar a cena nocturna numa zona má da cidade, à porta de um estabelecimento comercial encerrado, em que o nosso intrépido grupo de heróis, na sua primeira patrulha, observava a partir de um terraço um par de homens a agir de forma altamente suspeita. Passamos ali algum tempo a debater se deviamos capturar/espancar "preventivamente" os homens (à la Minority Report) ou se deviamos esperar até eles de facto cometerem algum crime. Não sei se mais alguém viveu a situação como eu, mas pronto.. foi cinco estrelas!

A situação de sua realeza, o pai do Lord Carlton, invadir a academia com a sua comitiva e exército pessoal e começar a disparatar a torto e a direito também deve contar. Vendo em jogo a sua independência e a sua relação com os seus amigos e professores desta dimensão, Lord Carlton decidiu correr o risco de estragar a sua óptima relação com o pai para lhe dizer umas verdades... isto se me estou a lembrar bem das circunstâncias.

E claro, houve aquela linda conversa do meu personagem com a sua melhor amiga em que ele decidiu sacrificar-se e tomar o lugar dela - não por amor mas por amizade, e sobretudo por ser isso que um herói perfeito faria, e por ele achar que ser um herói perfeito valia a sua vida - visto que era a única maneira de a tirar daquela dimensão onde estava prisioneira... acabou por não ser preciso chegar a tanto - o que se calhar era bastante previsível, tendo em vista que o Rui é um GM de bom coração - mas confrontado com a situação eu fiquei realmente decidido e preparado para deixar ali o personagem a apodrecer para a eternidade, portanto acho que pode contar...

Assim de repente vêm-me estas situações à cabeça. Lembro-me de mais um caso (as perguntas no teste escrito) que funcionaria muito bem como Narrativismo noutra campanha, mas que nesta eram Simulacionismo puro, servindo para reforçar o tema (parafraseando: "Não é assim que um verdadeiro super-herói se comporta; se tiver de escolher entre salvar bystanders inocentes e ir directo para desactivar o doomsday device do vilão que está prestes a explodir, ou o herói vai salvar os inocentes primeiro e depois logo se vê, ou, melhor ainda, arranja maneira de fazer ambas as coisas ao mesmo tempo. A resposta está errada.")

[quote=ricmadeira]Obrigado, Roger! Às vezes citar o óbvio e voltar aos básicos ajuda imenso. Apelidar um jogo/jogador de G, N, ou S é, de facto, gíria corrente para tende a facilitar/preferir G, N ou S... tão corrente que se deixa de pensar realmente nisso ao fim de pouco tempo. Não sei se isso gerou confusão ou não, mas pelo menos fica esclarecido.[/quote]

A razão por que o fiz foi porque fiquei com a seguinte ideia sobre o que o Rui anda a dizer: Já joguei PTA, e PTA é NAR*, portanto já joguei NAR. Mas, não houve escolhas "dificeis" portanto não é preciso haver escolhas "dificeis" para jogar NAR. Estava apenas a tentar dizer que isso não é verdade. Jogar PTA é diferente the jogar NAR.

[quote=Rui]Sobre as escolhas: pelo menos isso, acho que já percebi. Não se trata apenas de escolher se se tira a maçã madura ou a verde, mas sim escolher se se vai falar ao director a informar aquilo que o amigo acabou de fazer no corredor dos estudantes.[/quote]

Atenção que uma escolha aparentemente "dificil" pode não o ser. Só tem a ver com a premissa. Sempre que a escolha for obvia para o jogador, não é uma escolha "dificil" por muito dificil que a escolha o possa ser para o personagem. Alguns exemplos:

[quote=ricmadeira]E claro, houve aquela linda conversa do meu personagem com a sua melhor amiga em que ele decidiu sacrificar-se e tomar o lugar dela - não por amor mas por amizade, e sobretudo por ser isso que um herói perfeito faria, e por ele achar que ser um herói perfeito valia a sua vida - visto que era a única maneira de a tirar daquela dimensão onde estava prisioneira... acabou por não ser preciso chegar a tanto - o que se calhar era bastante previsível, tendo em vista que o Rui é um GM de bom coração - mas confrontado com a situação eu fiquei realmente decidido e preparado para deixar ali o personagem a apodrecer para a eternidade, portanto acho que pode contar...[/quote]

Se a premissa do vosso jogo é jogar heróis, não me parece que isto tenho sido uma escolha dificil. Tu próprio disseste que o fizeste porque seria o que um herói perfeito faria. Celebração pura das qualidades de um herói. SIM puro e duro.

A situação NAR que eu disse que já vi acontecer:

A premissa do jogo - Samurais e a sua constante luta entre dever e honra. O império está perdido, o imperador está morto. Estás disposto a abandonar a tua honra, entrar no castelo inimigo à sucapa e assassinar o general inimigo? ou manténs a tua honra, juntas-te ao resto do exercito e carregas apesar de haver pouca esperança de vitória? Dever contra Honra. Qualquer uma delas celebra as qualidades de um samurai. É de facto uma escolha "dificil". A unica coisa que "estragou" esta sessão foi o facto de o sistema premiar a opção 1, visto as regras suportarem GAM e o jogo ser de facto àcerca de ultrapassar o desafio de entrar à sucapa no castelo inimigo e assassinar o general. Houve dois jogadores que escolheram a segunda opção, e cometeram sepukku (mataram-se) para manter a sua honra. Estes jogadores foram completamente penalizados e desprotagonizados por escolherem uma opção perfeitamente válida segundo uma agenda criativa NAR apenas porque estavam a jogar um sistema que suporta claramente GAM. Tenho quase a certeza que esses jogadores preferiam jogar em sistemas que suportassem NAR e o mais curioso é que são eles os mais ávidos defensores do "tradional" roleplaying e olham para o João de maneira estranha quando ele começa a "pregar". Esses jogadores teriam claramente algo a ganhar por perceber que nem toda a gente joga a mesma coisa quando está a jogar roleplay e que existem maneiras e sistemas de jogar diferentes.

* como já disse anteriormente abomino os termos seleccionados para descrever as agendas criativas pelo que de um modo geral uso NAR, SIM e GAM e vêz de os termos completos numa tentativa de manter alguma honra intelectual :)

A tua resposta fez-me acreditar ainda mais que temos as 3 agendas à nossa mesa de Sábado. E pelo teu exemplo e pela premissa do nosso jogo, então tenho a prova de que sim, de que pelo menos 2 delas estão presentes (Sim e Nar, embora Nar menos), e que Gam também dá lá uns toques de vez em quando.

(Quase)Todas as "mesas" de role-play (para utilizar o teu termo) têm isso em comum (o aparecer das três agendas criativas). O que deves tentar fazer para tentar perceber onde é que a vossa "mesa de jogo" se encaixa dentro do modelo é analiza-la ao longo do tempo e vêr qual é a predominante. Outras coisas interessantes para analizar: Todos os jogadores à mesa apreciam as mesmas "cenas"? Por outras palavras, a partir do momento em que consegues indentificar a agenda por tràs das "cenas", podes tentar perceber quais os jogadores que curtem essas "cenas" e quais os que as dispensavam. Se chegares à conclusão que a maioria dos jogadores dispensava um dos tipos de "cenas" já tens algo em que podes tentar mexer para melhorar o divertimento. Se chegares a conclusão que claramente existe uma agenda que o grupo como um todo prefere, pergunta-te se o sistema que utilizas facilita a utilização dessa agenda criativa.

O meu ponto: a vasta maioria de todos os grupos de role-play em que eu já joguei ou vi jogar, jogam predominantemente SIM com um sistema de regras que suporta GAM. Isto, na minha opinião é "broken". Não quer dizer que eles não se divirtam, mas estou claramente convencido que se divertiriam MAIS se usassem um sistema que suportasse melhor a maneira como eles gostam de jogar.