As ocasiões em que mais vezes encontro referências a RPGs na televisão ou em revistas/jornais é através das suas adaptações para jogos de computador. Talvez o primeiro tenha sido D&D com a saga que se iniciou a partir de Baldur's Gate e agora já vai no segundo Neverwinter. Entretanto, todos devemos conhecer a versão de Vampire para PC e talvez a sua menos bem conseguida sequela. O próprio Call of Cthulhu já teve várias tentativas. Mais recentemente, foi o grande clássico Shadowrun que teve direito à sua versão digital para tiro-neles. Não quero falar no eventual mérito destas adaptações, mas sim na referência que os RPGs recebem por parte dos media a partir delas. Já repararam? Um exemplo:
[quote=PTGamers.com]Antes de mais, Shadowrun é uma adaptação de um jogo de tabuleiro, que já anteriormente teve honras de ser passado a videojogo. Só que a FASA Interactive não está a criar um RPG, como seria de esperar, mas sim um jogo de acção, uma espécie de Counter-Strike com armas e magia. Será esta a melhor opção? [/quote]
Eis como os media, não querendo perder tempo a explicar aos leitores o que é um tabletop RPG, diz-lhes antes que é um jogo de tabuleiro - algo muito mais reconhecível por toda a gente - e segue explicando como se os RPGs fossem apenas uma categoria dos jogos de computador (no máximo, será uma categoria dos jogos de tabuleiro).
Esta denominação sucede-se em sites, revistas, programas de televisão, etc. e eu pergunto-me se, em vez de me indignar com estas imprecisões, não deverei talvez reconhecer que toda esta malta se calhar tem razão. O que é que eles poderiam dizer? "Antes de mais, Shadowrun é uma adaptação de um RPG" só ia dar confusão, mas dizer "de um tabletop RPG" também não ajuda - teriam que dedicar um artigo inteiro a explicar o que é e, mesmo assim, ninguém percebia. Traduções para português como "jogo de interpretação de personagens" parece-me ainda mais esotérico. Dizer o quê, então? Vistas bem as coisas, se calhar "jogos de tabuleiro" (ou boardgames se quiserem) acaba por ser a melhor opção em termos de comunicação.
Assim sendo, numa altura em que se discutem sucessivos nomes alternativos para os velhinhos RPGs - e que ainda nem sequer sabemos como lhes chamar em português - não seria de considerar aceitarmos esta sugestão e juntarmo-nos aos jogos de tabuleiro, aqueles que basta dizer "jogos de tabuleiro" e toda a gente sabe o que é?
Havendo tantos e tão diversos títulos entre os boardgames, desde o Trivial Pursuit ao Carcassone, passando por Advanced Civilization e Polarity - havendo ainda espaço para jogos que são quase-RPGs como o recém traduzido Lobisomens d'Aldeia Velha, o Descent, o Arkham Horror ou o Fury of Dracula - certamente que há lugar para os incomunicáveis RPGs poderem ser reconhecidos pelas massas. É verdade que é só uma questão do nome que se dá ás coisas, mas isso ainda é uma grande questão.
Porque não chamarmos aos RPGs jogos de tabuleiro?