[quote=MGBM]Eis a minha opinião como economista.
Para começar, a Teoria do Jogo aplica-se neste caso. Estamos perante uma situação interessante, e o que acontecerá é isto:
A Mayfair estabelece limites de desconto. A partir daqui as outras empresas de boardgames têm exactamente duas opções, ou aplicam price fixing também ou não aplicam. A Teoria do Jogo aplica-se nesse momento, se for só a Mayfair a fazer price fixing e mais nenhuma empresa é óbvio que a Mayfair sai bastante prejudicada disto, vai perder lucro e clientes. Mas, e isto é um grande MAS, se as outras empresas decidirem, pelo menos a maioria, fazerem price fixing, então o consumidor final que compre boardgames não terá outra alternativa senão comprar boardgames à mesma, pois usar a técnica do boicote não funciona porque senão ele fica sem comprar quase todos os boardgames que saem no mercado.
Ou seja se as empresas de boardgames criarem um cartel de oligopólio, o consumidor final ou compra os boardgames ao preço que é oferecido ou acaba por não comprar mesmo nada.[/quote]
O "problema" é que, exactamente como se pode aplicar a Teoria dos Jogos para justificar a criação de um cartel, esta pode também ser utilizada para justificar a sua dissolução espontânea. Um cartel que não se sustente por meios coercivos, e ainda mais neste caso que não é de um artigo em particular mas sim de uma classe de produtos, cria nos seus membros, particularmente nos mais fracos, ou nos concorrentes que entrem no mercado num instante posterior à formação do cartel toda a motivação para agirem contra este.
A questão é que um cartel, para funcionar, obriga além da fixação de preços aos seus membros ao estabelecimento das quotas de mercado destes. Ou seja, basta que um dos membros do carte venha a discordar da fixação dessa quota, ou da evolução desta (imaginam que uma editora de pequeno sucesso lança um grande exito de mercado) para ter toda a motivação para romper com o cartel.
[quote=MGBM]Resultado final? Duma maneira ou doutra, o mercado sai a perder, vai haver uma diminuição na procura agregada de boardgames e isso é muito mau.[/quote]
Aí estamos de acordo!
[quote=MGBM]O que irá acontecer às lojas online? Simples, perdem a grande vantagem que tinham, descontos elevados.[/quote]
A questão é se isso lhes fará alguma diferença. As lojas online são essencialmente uma plataforma logística de vendas. Se um determinado sector do mercado deixa de dar, mudam para outro. Aliás, suspeito que a atitude de persistência nesse género de monopólios e de "exclusivos", ou de regras leoninas impostas aos distribuidores é o que faz com que, por exemplo, os RPG não tenham disseminação (em termos de oferta) assinalável nas lojas online generalistas que vendem livros.
[quote=MGBM]Embora isso pareça mau para o consumidor, para um economista é tão mau vender produtos muito baratos num mercado de especialidade como é o nosso. Basicamente o que acontece é, o produto vendido perde valor nominal e passamos a encarar os boardgames como a valerem menos do que realmente valem.[/quote]
Em relação a essa afirmação, desculpa o meter a foice em seara alheia, mas isso não é "Economia". É, quando muito, uma corrente económica (e que para mim é em grande parte uma treta).
O que é o "valor nominal" de um jogo? O que é o seu "valor real"?
O valor, quanto a mim, de um jogom, é o resultado de uma análise subjectiva do comprador da qual preço, "qualidade" e outros factores são tão somente possíveis variáveis que podem estar em cima da mesa. É o encontro dessa vontade da procura com a da oferta que definem o negócio, e não um mero "encontro de preços".
Pressupor que os bens têm um determinado "valor natural" ou "intrínseco" é, mesmo afastando-nos de paradigmas de teoria do valor marxistas, quanto a mim profundamente errado quando ligado à realidade dos factos.
Porque, além disso, há outros factores que o mercado tem em conta: por exemplo, o facto de o mercado naturalmente aumentar em eficiência. Quando a produção de jogos se desloca para centros onde os custos de produção são largamente inferiores aos do passado, quando se verifica que o volume de vendas de um determinado jogo justifica crescentes economias de escala, e contudo o preço final de venda se mantém constante, é natural que o mercado desconfie. Portanto, essa "diminuição do valor forçada" que referes não é mais na generalidade das vezes o ajustar do mercado (nomeadamente das margens) à realidade da produção (produtividade, custos), ao aumento da oferta de jogos e da concorrência entre produtoras.