Mineiro

As suas mãos pedem esforço, pedem desgaste.
Estes homens respiram a terra que os envolve, eles são da Terra e a Terra é deles.
"Bom dia a todos... que as vossas mãos sejam fortes e impiedosas e que o homem ao vosso lado seja vosso protector. Certo?" - Disse ele levando o capacete ao ombro esquerdo.
Houve um momento solene em que não se ouviu um som quando de subito rasgou-se um sorriso no seu rosto ao gritar com alegria..."Vamos partir pedra!!"
1d20-1[4,-1] = (3)

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"Vamos partir pedra!" -edra -erda — ecoam as paredes do fosso côr de mel.

E, com efeito, logo se lançam ao trabalho. Tinham mais secções de mangueira para ir acrescentando aos martelos pneumáticos. Tinham mais barras de dinamite, caso fossem necessárias. Tinham mais vigas metálicas para sustentar o tecto. Tinham máscaras de oxigénio com duração para 4 horas.

E tinham a melhor equipa que se pode desejar 600m abaixo do chão.

E, para vos lembrar isso mesmo, estava lá o teu chefe à vossa espera:

"Orlando, pá, assim é que é, pá! Sei que tiveram aí um contratempo, pá, co'o dinamite, pá. Mas eu acredito em vocês, pá, e daqui a dois dias isto já há-de dar pra passar dum lado pr'o outro, pá." — faz uma pausa mais para ouvir um silêncio no meio das suas próprias palavras do que para não dizer nada, e logo retoma: "Volto cá nessa altura Orlando, pá. Bom trabalho, pessoal!"

"Não se preocupe. Nós tratamos disto." - diz Orlando ao chefe que já desaparece para dentro da montanha.

Virando-se de volta para os seus homens ele diz "Ouviram o chefe...pá?"

Os Mineiros ainda riam quando os martelos pneumaticos começaram a roncar.

A lavra hoje estava a correr às mil maravilhas. Parecia que toda a gente tinha ensaiado a coreografia e os timings batiam certo em todas as frentes.

E, claro está, isso viria a dar os seus frutos. Ainda faltavam duas horas até ao final do vosso turno quando, no topo esquerdo do túnel, se fere um pedaço de rocha que, qual molde duma estátua, vem de uma só vez ao chão, deixando entrever uma luz ao fundo do túnel.

Queria-vos parecer que a nova galeria tinha uma tonalidade esverdeada.

No entanto, nem tudo eram rosas, e as horas seguintes passaram-nas à espera que a corrente do teleférico fosse substituída. [se ao menos tivesses ouvido a corrente a chiar...] O pessoal do outro turno já estava a chegar e o problema ainda por resolver.

Seriam eles, com toda a certeza, a acabar de abrir o caminho até ao outro lado.

Mas "a montanha é assim mesmo: hoje deixa-se penetrar, amanhã faz-se difícil." — encerra com esta pérola da sabedoria mineira o J'aquim, teu braço direito.

Orlando vira-se para o J'aquim quando toca a sirene de fim de turno.

"Vão andando... vou ficar aqui para tratar de tudo com o responsável do proximo turno. "

J'aquim dizendo que não com a cabeça retorque "Eles sabem o q'tem d'fazer, Orlando. Na tens de ficar aqui a fazer nada..."

Orlando não responde. Simplesmente sorri para o seu velho amigo.
J'aquim já percebeu, é impossivel demover este homem da decisão que tomou.

Orlando - "Se realmente queres o meu bem... então vai tomar um duche J'aquim...haha!"

J'aquim esticando o braço para o aperto de mão dos mineiros diz- "É melhor mesmo ir agora. Ist'aqui já fede à piadas da tanga!"

Os dois homens agarram o antebraço um do outro e apertam com foça. poucos minutos depois J'aquim já tinha ido embora e Orlando pensou que podia aproveitar os 15 minutos da mudança de turno para ver esta nova galeria verde.

Aquilo ainda é só uma pequena brecha no topo esquerdo do túnel. Não te deixa ver muita coisa sobre o amontoado de escombros ainda existente. Apenas te consegues aperceber de que a coloração verde da próxima galeria se deve a finos filamentos de um qualquer minério que, por sua vez, parece reflectir a luz sempre que lhe apontam os vossos capacetes.

[Faz este teste: 3d100.extra(77).]

Entretanto chegam começam a entrar os teus colegas do turno seguinte. São menos carismáticos do que a tua dúzia de compinchas, mas levam a tarefa a sério!

Não duvidas de que consigam lavrar o resto do túnel até ao vosso retorno,... apesar do problema com o teleférico ainda estar por resolver.

Algo mais...?

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"Se calhar era melhor alguém tratar da correia do teleférico, amigo." - Digo ao responsável antes de recolher.

Diriges-te ao elevador 13 e ainda consegues apanhar alguns dos teus colegas que pareciam estar a trocar pequenos detritos entre eles.

Um hobbie generalizado entre os mineiros — uns coleccionam gemas, outros uma pedaço de cada minério, outros ainda coleccionam fósseis; o que parecia ser o caso destes últimos.

Entram no elevador. Um deles mostra-te a sua última aquisição: um detrito com fósseis de vermes muito primários, que mal se viam. Eram todos semelhantes entre si mas sempre com algo de diferente.

Saiem no último patamar, em direcção ao elevador 3 e, aí, quem te esperava era o J'aquim:

"Então, achas qu'eles abrem o túnel ainda hoje ou quê?" — e lá vão conversando enquanto voltam à superfície.

Uma vez lá por cima, olham ambos para o pôr-do-sol, olhos semi-cerrados, e dirigem-se ao balneário antes de jantarem na cantina.

"Vai uma bejeca ou quê?" — convida-te o J'aquim, findo o jantar.

"Orlando? Vai uma bejeca sim ou sopas??" - Diz J'aquim desta vez mais alto.
Estavas distante [Lol... sorry!! Tive uma semana de férias!!] como se a tua mente ainda estivesse centenas de metros debaixo do chão.

"Sim, amigo. Desculpa... Claro que vai uma bejeca!" - respondes sobresaltado.

Lá seguem até ao bar. O J'aquim vai ao balcão pedir duas cervejas e uma empalhada.

Bebes um trago, mas sentes uma dor nos dentes, de tão fria que estava. O J'aquim não se queixa e, testando a tua garrafa, diz que está fresquinha e que se bebe bem. Já tu, não consegues bebê-la por inteiro...

Quanto ao J'aquim, começou-te a falar das saudades que tinha do miúdo dele e de que só lhe faltavam uma semanita para entrar de férias. Dito isto, deixa-se ficar um bocado em silêncio, como que a recordar a mulher e o filho. Quando olhas para ele, no entanto, pareceu-te estar a ver mal: ou estavas a ver tudo desfocado ou algo a iluminação não te deixava ver em condições. Fosse como fosse, o J'aquim estava meio turvo e não conseguias distinguir a sua forma — foi como se tivesses bebido 10 cervejas... de um só gole.

Sais-te com um "É pá, qu'é isto?". De tudo o que estavas a ver só o J'aquim é que estava meio 'embaciado'. Ficas algo perplexo e só voltas a ti quando o J'aquim deixa cair o seu copo ao chão, que se estilhaça.

"De repente, veio-me uma forte pontada de dor no braço." — justifica o J'aquim.

E só aí, para teu espanto, o corpo dele voltava a ganhar contornos visíveis aos teus olhos.

Mas mais admirado está ele ao reparar que um pedaço de vidro se espetou na tua perna e que estás a sangrar sem parar. [Perdes 4 PF]

"J'aquim. Pede aí um pano..."diz Orlando ainda balbuciante.

Enquanto o pano não chega Orlando, olha para a garrafa.

"Algo se passou contigo?...ou comigo?" pergunta a J'aquim que já tras nas mãos uma pequena toalha. J'aquim parece pensar numa reposta enquanto ajuda a por a toalha a volta da sua perna.

"Era como... como se estivesses desfocado. Mas só tu."

Enrolas a toalha à perna e consegues estancar a ferida, que te parece pequena demais para tanto alarido.

Quanto ao J'aquim, diz-te que "Estava tão concentrado a pensar na família e queria tanto estar noutro sítio que se calhar isso passou para ti, de alguma maneira. Só voltei a mim quando me doeu o braço. Mas não sei porquê." — diz, enquanto massaja o punho: "Devo ter dado um mau jeito..."

"... Estou a dizer-te que algo se passou agora! Não entendes?" diz Orlando com um pouco de impaciência na voz.

"J'aquim... O gajo que te deu as cervejas...é o mesmo de sempre? A cerveja é a mesma de sempre? Não reparaste em nada de estranho ou fora do normal?" pergunta-lhe.

De repente percebendo que o seu tom de voz é um bocado perturbador, Orlando acalma-se, mas não abre mão das suas duvidas

"Algo aqui não está certo, J'aquim..."

 

Ainda o J'aquim não te respondia já estavas de novo a olhar para a garrafa, analisando-a minuciosamente, sem lhe tocar.

Já ele: "A cerveja? A cerveja é a de sempre!" — continuando a esfregar o punho. "Agora, esta dôr no braço é que eu não estava à espera..."

Continuas a concentrar-te na garrafa, esquadrinhando-a, à procura de cada detalhe. Quase te parece sentir a estrutura do próprio vidro. Agora, ao contrário do que se passara há pouco com o J'aquim, vias a garrafa mais nítida do que alguma vez tinhas visto algo. E, como se todo esse detalhe te pressionasse por detrás dos olhos, ouves um estalo no ouvido interno e, acto contínuo, a garrafa rebenta em todas as direcções.

Mas, desta vez, o teu corpo reagiu antes que te apercebesses e não apanhaste com nenhum pedaço de vidro cortante.

Orlando pensa para si mesmo... "Mas que porra é esta...?"

"Anda comigo, J'aquim. Vamos à enfermaria ver o que tens?" Quando na verdade, o que Orlando queria dizer era "O que se passa com nós os dois??"

"Eu tou bem pá... Sério." disse J'aquim ao apertar a mão de Orlando.

"Acho melhor irmos ver isso à mesma. Eu também não me estou a sentir cem porcento, ok?" diz Orlando e na sua mente ele pensava "acabei de fazer explodir uma garrafa com a mente... porra."

O J'aquim continua a achar que "Não há-de ser nada!", mas sempre te acompanha à enfermaria.

Umas vez lá, a voluntária de serviço faz-te um curativo à perna e, como lhe dizes que aquilo parecia não querer estancar, ela tira-te um bocado de sangue para fazer umas análises. A agulha não te incomodou tanto quanto o frio do estetoscópio quando ela te auscultou.

"Ouça," — dizes, a medo: "não me podia ver se tenho alguma coisa dentro dos ouvidos? Isso, e dar uma vista de olhos ali ao braço do meu colega."

"Não é J'aquim!?" — dizes, mais alto, na direcção dele, que continuava a massajar o ombro.

Ela, uma vez que estava com as mãos na massa, aproveitou para o auscultar primeiro e, depois de medir os reflexos, decidiu tirar-lhe também a ele uma amostra de sangue.

Quando volta a ti pega numa espécie de funil, que enfia pelo teu ouvido, e espreita lá para dentro.

"Não se preocupe, é só uma pequena infecção. Vou-lhe receitar penincilina. Mas olhe lá, não se ponha pr'aí a coçar, ouviu?" — e virando-se para o J'aquim: "Pronto, agora os resultados das análises só amanhã. Não façam muitos esforços na mina e voltem cá amanhã por esta hora para eu vos dar os resultados, pode ser?"

"Bem, é temos coisas para fazer amanhã, sabe?" - diz o J'aquim como que a gozar.

Dizes baixinho e rapidamente quando a doutora está a falar contigo "Viu alguma coisa em nós os dois que fosse fora do normal?" - e virando-te para o teu colega ruges "J'aquim podes fazer o favor de parar de coçar o braço?!"

A tua voz deixou transparecer a tua frustração. Não es o tipo de gajo que perde o controle, que não sabe o que se está a passar e sobretudo não es o gajo que há de faltar ao trabalho por causa de uma dor de ouvidos...que alias nem te dói. J'aquim olha para ti, pasmo. Com aquela expressão de perfeita surpres, a mesma de sempre.

"Deixe-me contar-lhe o que aconteceu." contas em pormenor tudo o que vos aconteceu esta noite, a visão turva e o facto de poderes sentir os objectos como se fossem uma extensão do teu braço e a rapidez com que tudo isso se produziu e equanto ela não te responde viras-te para o teu amigo "Desculpa aí o tom, J'aquim. Esta noite não está a ser nada do que eu imaginava..."

Ele sorri e abana a mão bem longe do braço dorido como que a dizer "Vês? Nada de coçar agora."

A doutora também fica parada a espera e tu viras-te agora para ela.

"O que diz doutora?"

Ela diz-te que não te preocupes. No teu caso pode ser apenas uma plaquetopenia temporária: "Às vezes o nível de plaquetas no sangue pode descer, mas isso com medicação consegue-se contrariar."

Quanto ao teu colega, pode ser apenas cansaço, ou alguma insuficiência respiratória, o que é normal devido ao vosso tipo de trabalho.

Mas só vos dirá mais pormenores amanhã, depois de ter o resultado das análises.

"Fazemos assim: eu percebo que estejam preocupados, mas isso há-de ser tudo derivado do cansaço. Às vezes até há quem tenha visões por comer pouco ou não ter horas suficientes de sono!

Mas acho que bastará que não se esforcem muito entre hoje e amanhã, e que depois do vosso turno cá venham buscar os resultados."

"Concordo plenamente consigo, doutora. Precisamos mesmo de dormir porque amanhã continuamos a dar no duro..." - diz J'aquim

"Certo. Vamos a isso." diz Orlando. "Amanhã passamos por aqui assim que possivel."

Saindo da enfermaria não parecem ter grande coisa para falar um com o outro, por isso decidem ir dormir cedo para descansarem melhor.

De início não conseguias adormecer, sempre a reviver os momentos estranhos que viveste no bar — o J'aquim meio "tremido", a cerveja fresca demais, o copo a cair ao chão, o sangue que não queria estancar, o J'aquim a coçar o ombro, a garrafa a rebentar... o que quereria dizer tudo aquilo?

Não conseguias parar de pensar nisso tudo! Simplesmente chegavas ao fim dos acontecimentos e voltavas atrás para voltar a revivê-los na tua mente — o J'aquim "tremido", o frio, o sangue, o ombro, a garrafa,... os nervos acumulam-se! Não consegues aguentar mais! Num gesto irrompes da cama...

<GASP>

Mas... Orlando,... não estavas deitado. Não estavas deitado na cama, isto é. Estavas... a flutuar. Deitado mas, a flutuar acima da cama...

Nisto, cais no colchão. Agora é que não consegues dormir mais. Decides acordar o J'aquim. Vestes-te e vais ter com ele, mas ele também não conseguia dormir. Parece que, para além duma sensação esquisita no braço esquerdo (que agora só a muito custo conseguia mexer) também sentia uma enorme comichão na testa e, de facto, tinha um montão de borbulhas que desenhavam uma linha mesmo no meio da testa.

[Lança 1d20]