Bem, no tempo que demorei para escrever isto tudo o tópico original foi fechado e, como também já antes me tinha passado pela cabeça, coloquei isto como um post no meu blog.
É extremamente longo e contém talvez quotes a mais mas agradecia que se alguém quiser responder, que leia tudo antes!
[quote=Rui]Alfredo tem o seu grupo de rpg com que joga há pelo menos 15 anos; começou, como muita gente, pela Caixa Vermelha, e algumas das pessoas que jogam com ele também; foram mudando de jogo entretanto, porque o D&D era para putos e o que interessava era o mais avançado AD&D, e agora saiu o D&D 3.x e estão todos contentes a jogá-lo. Pelo meio, vão comprando e experimentando outros jogos, e às vezes até trocam de GM e tudo, para dar descanso aos fluídos criativos do pobre Alfredo.
E todos eles têm algo em comum que partilham e acham excelente, que é encher os jogos de house-rules. Compram um jogo, olham para as regras e para o setting, escolhem, às vezes conscientemente, o que está bem e o que está mal, rasuram tudo e ficam com a sua versão do jogo. Divertem-se às mil maravilhas, e têm brilhantes sessões. A sua última campanha dura já uns bons 4 anos, e não dá mostras de parar!
Isto só pode ser bom, certo?[/quote]
Certo!!
err… WTF??
[disclaimer]okay, obviamente eu sabia o q vinha ai e esta forma de resposta foi propositada. De qq forma a ideia não foi apenas dizer mal nem ofender. Espero que isso seja visivel na continuação deste post. Se mesmo assim ofender algo ou alguém não era minha intenção e peço desculpa adientadamente por isso. Não sei porque mas, ao contrário do que é costume, senti necessidade de colocar isto aqui! weird!![/disclaimer]
Certo, mas isso não é mau. Ou pera, por “jogar mal” queres dizer “jogar o jogo de forma diferente da visão do designer”… oki, então assim tudo bem mas isso não é mau. Todos temos a liberdade de fazermos o que queremos e se me apetecer jogar D&D com berlindes e em que os pc’s em vez de serem aventureiros são velhas costureiras a contar histórias umas às outras posso fazê-lo tou no meu direito. De forma nenhuma isso é errado, er… mau. É óbvio que não corresponde à visão dos designers mas er… so what?
Agora, jogar assim tem consequências! Poix! Como tudo o que fazemos na vida, a forma como decidimos jogar um jogo tem consequências!(surprise surprise) E se eu mudo um jogo e não me divirto a culpa é só minha. Não sei se o jogo era bom ou mau, nem o posso culpar por não me divertir porque eu alterei-o. Essa é a consequência!
Por outro lado se aceito jogar um jogo da forma como foi pensado pelo designer, sem o alterar de forma alguma, a consequência é que a existência de divertimento da minha parte está dependente de eu gostar ou não do tipo de divertimento que o jogo cria, que o designer implementou (quer propositadamente através de um design coerente, quer acidentalmente através de alguma falha no processo de design). Se o entretenimento que o acto de jogar aquele jogo “as is” me provocar divertimento, óptimo, se não, azar. Mas essa é a consequencia de eu jogar esse jogo as is.
Poix, há consequências para as duas formas de agir!
Nada como experimentar as duas situações e verificar quais consequências preferimos. Como tudo o resto na vida, tomar as nossas próprias decisões e pensar por nós em vez de termos os outros a dizer-nos como fazer as coisas!
Certo, essa é outra consequência de não se jogar o jogo como escrito. Se eu mudo o jogo e o Alfredo muda o jogo e se não o fazemos em conjunto a probabilidade é que ambos mudámos o jogo de formas diferentes. Assim acabámos com 3 versões diferentes do jogo, a original, a minha e a do Alfredo. Eu e o pessoal que joga comigo conhece a minha e muito provavelmente a original, o Alfredo e o pessoal que joga com ele conhece a dele e a original. O resto da maioria das pessoas que conhecem a original não conhecem nem a minha nem a do Alfredo. Acabamos com uma série de versões localizadas, específicas a pequenos grupos.
So what? Não há mal em sermos diferentes, fazermos as mesmas coisas de forma diferente ou mesmo fazermos coisas diferentes. Reconhecer e aceitar isso é bom. Ninguém é obrigado a fazer algo que não quer. Se eu quero jogar de uma maneira e o Alfredo de outra, ou não jogamos juntos ou arranjamos uma maneira que agrade aos dois. Isso não quer dizer que um de nós esteja errado ou que vamos passar a não gostar um do outro por causa disso. To each his own.
err… porquê?
ah, Pah, nepia.
Lá está. Tudo isso e muito mais pode acontecer. Gostos diferentes e tal. So what? Deal with it. Se não gostamos de jogar da mesma forma ou não jogamos juntos ou encontramos uma forma de jogar que ambos gostamos. Não reconhecer isso é viver na negação.
O mal não é esse que apontas, mas sim o facto das pessoas não reconhecerem que podem ter gostos diferentes e que esses gostos nem sempre se podem conciliar.
São gostos, não são nívels de qualidade. A maneira de jogar do Manel não é melhor que a do Alfredo! Só há mal quando eles não reconhecem isso. Ou quando sequer não aceitam que existem maneiras diferentes de jogar.
Certo, se eu não sei como jogar um jogo da forma como está escrito é quase inevitável que o vá fazer de uma forma diferente daquela que o designer imaginou. Então sim, isso é um problema dos jogos, se não consegue ensinar a forma como deve ser jogado, vai provocar, mesmo que não intencionalmente, que o pessoal o jogue de maneiras diversas de grupo para grupo.
O facto de isso não ser intencional pode fazer com que não seja reconhecido, o que pode levar a acusações de “tu jogas mal” e o problema começa aí, mas só aí!
Mas atenção que são falhas diferentes. O designer que não conseguiu transmitir a sua visão. Dos jogadores pode ser ou não, dependendo do facto de ser um acto consciente ou não e de perceberem ou não o que estão a fazer.
O GM é apenas mais um jogador, apenas tem funções diferentes no jogo.
So what? Conforto é agradável. Ninguém é obrigado a experimentar coisas novas. Existe sempre um risco envolvido na experimentação, um gasto de energias sob alguma forma que pode ou não dar um investimento mas que pode também ser um desperdicio. Cada um tem o direito de escolher para si o que é um risco adequado ou demasiado alto. Não se pode criticar alguém por não mudar, está no seu direito, desde que não se queixe por estar a perder algo por não ter progredido.
Uma pessoa não é melhor ou pior por resolver experimentar algo novo ou por não o fazer. Um grupo está no seu direito de se manter a jogar da mesma forma que faz desde os últimos 20 anos e não querer experimentar os novos jogos dos indios ou o raios que os parta! (nada contra jogos indie, aliás, gosto bastante de alguns e vejo muita qualidade mesmo em muitos que não gosto, expressão apenas para dar enfâse ao ponto que queria fazer passar.) Claro que perdem o direito de se queixarem por perderem o divertimento que aquilo que não experimentaram provoca!
Eu faço isso, não há melhor razão para o fazer!
Sim, mas como é que isso contraria o ponto de que alguém muda uma regra que não gosta?
Quem muda uma regra está a dizer: “ok, eu vi como tu (designer) querias que o jogo funcionasse; agora eu quero que esta parte do jogo funcione antes assim porque gosto mais; provavelmente não seria a forma como tu (designer) mais gostarias mas eu prefiro; pelos vistos temos gostos diferentes, lamento; ainda assim, em geral gostei do jogo porque acho que está perto o suficiente daquilo que eu quero, pois estou a dar-me ao trabalho de pegar nele e alterá-lo em vez de ir à procura de outro mais próximo ou de fazer um novo.”
Pessoalmente eu não vou alterar uma regra de um jogo se o que eu quero conseguir com essa alteração for mais facilmente conseguido pegando noutro jogo que não tenha de alterar ou criando um novo. Se o fiz é porque achei que essa era a forma mais facil de conseguir o meu objectivo, por uma razão ou por outra.
Se calhar o outro jogo que fazia essa parte como eu queria fazia outra parte de forma mais afastada do que eu queria e daria mais trabalho alterar isso do que isto. Se calhar criar um jogo novo dá mais trabalho que alterar este. O que interessa isso? A escolha existe e todos temos esse direito!
O designer tem o direito, até o dever, já que esse é o objectivo de se publicar um jogo, de fazer passar a sua visão de como o jogo deve ser jogado, mas todos temos também o direito de lhe dizer: “okay, mas eu prefiro desta forma diferente!”
Se por jogar bem queres dizer: “jogar da forma correspondente à visão transmitida pelo designer” então sim, concordo. Se por jogar bem queres dizer er… “jogar bem” por oposição a “jogar mal” as in “wrong bad fun” então não.
Isso não é jogar bem, isso é jogar como vem escrito no livro, isso é seguir as regras, isso é seguir a visão do designer.
Mas “jogar bem” é um juizo de valor. Dizer que jogar da forma x é jogar bem é dizer que jogar da forma x é melhor que jogar da forma y. ERRADO! A melhor forma de jogar é subjectiva e individual e corresponde sempre à forma que nos provoca mais divertimento naquele momento e situação especifica.
Isso é perfeitamente válido, para quem está interessado em realmente chegar a esse conhecimento de forma profunda. Dada a quantidade de informação e complexidade de muitos dos sistemas e quantidade de opiniões e teorias esse conhecimento, muitas vezes, quase que se pode comparar a algum tipo de “iluminação filosófica”. Será que o próprio designer sabe jogar ao jogo dessa forma suprema? Será que ele consegue transmitir esse conhecimento ou é daquelas coisas que não podem ser transmitidas e que cada um tem de atingir por si próprio? Talvez até daqueles conhecimentos que só se alcançam depois de se aceitarem premissas que não fazem sentido nenhum enquanto não se chegar à própria conclusão baseada nelas! :\
O que quero dizer com isto é que sim, essa é uma possibilidade, mas seja por que razão for, eu posso simplesmente não estar para aí virado ou não querer/poder/ter o interesse para seguir essa opção.
Isso cria a tendência dos jogos incompletos. Compras o jogo mas para o aprenderes a jogar tens de te integrar na comunidade, vivê-la, senti-la, respirá-la, ser mais um robot! Que aconteceu ao comprar o jogo, juntar um grupo de amigos e começar a jogar? Não é uma experiência filosófica ou profunda nem uma sessão de análise de regras, sistemas ou terapia de grupo(pode ser mas não tem de ser).
O pessoal pode só quer divertir-se sem ter de pensar nisso! E tem todo o direito de ter essa opinião.
Não se pode criticar alguém desta opinião que simplesmente altere algo que não funciona bem para algo que, para eles, naquele momento/situação especifica, parece funcionar melhor. Não estão a jogar mal, estão a fazer o que têm de fazer para se divertir. Isso nunca é mau. Claro que estão a jogar de forma diferente àquela que está estroturada pelas regras mas isso eles sabem, né preciso tar a apontar o dedo. Eles sabem isso. E não têm qualquer sentimento de culpa por o fazerem. Porque deviam ter? Estão no seu direito. Não fizeram nada de mal ou errado. Estão a divertir-se.
Ambos bons exemplos de se jogar de forma diferente daquela prevista nas regras!
Continuando com a minha interpretação do teu “jogar mal” como sendo “jogar de forma diferente à indicada nas regras”, então não, não é, nem de perto nem de longe, virtualmente impossível fazer isso com esse ou qualquer outro jogo! Pode ser modificado, alterado, canibalizado como qualquer outro. A grande diferença é que, visto ser tão focado, contido, explicito, torna-se fácil perceber a visão do designer, evitando casos em que se iria alterar o jogo simplesmente por não se perceber essa visão (o que corresponde a talvez à maioria das situações) e por outro lado o jogo está tão focado para provocar aquele tipo especifico de divertimento que é dificil conseguir qualquer outro tipo que não esse de forma coerente e assim torna-se dificil fazer alterações bem sucedidas, pelo menos sem um aumento considerável na dificuldade do processo.
Isso não tem nada a ver com o fazer-se ou não alterações a um jogo. Tem apenas a ver com comunicação, ou melhor dizendo, falta dela. Quando se faz uma alteração à norma (jogo como escrito) não se pode esperar que os outros a conheçam ou, sequer, se identifiquem com ela, especialmente quando esses outros foram aproximados através duma identificação com a própria norma.
Eu jogo o jogo-x mas alterei uma regra porque não gostava dela. Vou ter com o Francisco que também gosta do jogo-x para jogar com ele. Não posso esperar que ele se identifique com a minha alteração. Se o conheci devido à identificação dele com o jogo-x até devo esperar o contrário, que ele se vai identificar com o jogo-x como publicado e não com a minha alteração ao jogo-x. Nesta história o problema foi que eu, apesar de ter alterado o jogo-x e não mais me identificar com ele continuei a apresentar-me como identificando com ele. Isso sim está errado e é um erro que eu próprio já cometi.
Agora quando o jogo-x é tal que toda a gente fez a sua modificação eu não posso virar-me para o Francisco e dizer que ele joga mal porque em vez da minha modificação usa outra diferente.
Mas tudo isto são problemas de comunicação e nada mais do que isso.
Alterar regras não é bom… nem mau, simplesmente é! Faça-se ou não, isso não interessa. No entanto é importante saber se se faz ou não
Isso sim é problemático. Se eu não sei como tu jogas, não vou conseguir jogar contigo. Vou ter de adivinhar e quando descobrir posso descobrir que jogas da forma que eu gosto de jogar e ter uma surpresa agradável ou descobrir exactamente o contrário e ter uma surpresa desagradável. E entretanto perdi tempo e energia a tentar descobrir. É um risco de que as pessoas deviam estar consciêntes antes de tomarem a decisão de jogar ou não com aquela pessoa ou grupo, especialmente quando não há uma boa comunicação da forma como se vai jogar.
Acho que todo o teu post é muito bom se entendido neste sentido.
A solução apresentada tenta resolver um problema de falta ou falha de comunicação não por ensinar ou colocar as pessoas a comunicar mas sim por evitar a necessidade de o fazerem transformando-as todas em iguais.
Uns adendos a 2 ou 3 posts:
Alterar uma regra ou uma parte do setting é exactamente a mesma coisa! Dizer que um é melhor ou pior que o outro é o mesmo que dizer que uma alteração é melhor ou pior que outra o que leva a dizer que uma forma de jogar é melhor ou pior que outra. Tudo questão de gostos! Nada mais.
A Golden Rule é uma falha do designer mas também um apontar o óbvio. Não é preciso ela vir lá escrita para qualquer jogador poder fazer o que quer com o jogo! DUH
Ao dizer isso o designer está a desresponsabilizar-se de qualquer consequência do jogar o jogo! Se jogaste o jogo e não gostaste devias ter alterado afinal essa é a primeira regra! Tipo, pq raios é que estamos a pagar a este gajo afinal?
Se vão fazer um jogo ao menos tenham a coragem de dizer que isto é o que queriam e conseguiram e que funciona para a situação/gosto x. Se não querem x façam outra coisa. Não tentem é dizer que o jogo serve para x, y, z, e o resto do abecedário todo, basta MUDAR O RAIO DO JOGO TODO!!! Isso é óbvio para começar e estúpido para ser dito pelo designer, mostra desleixo, preguiça, falta de responsabilidade e desrespeito para com os clientes!
E não são esses produtos que elas próprias estão a criar ao alterarem essas mesmas regras?
Ou por “existir produtos” apenas entendes produtos criados comercialmente por outros que não os próprios utilizadores e que não sejam construidos a partir de algo já existente (que é talvez a forma mais prevalente de progresso)?
Não percebo se estás a comentar sobre o que a maioria faria ou se estás realmente a defender esse acto como sendo o adequado!
Porque se a grande maioria sim iria devolvê-lo, outros há que fariam o contrário, não se limitando a consumir mas tomando nas suas mãos o acto de criar algo adequado às suas necessidades a partir de algo que foi inadequado. Na minha opinião essa atitude deve ser incentivada e de louvar, já que ela conduz ao progresso enquanto que a outra conduz ao consumismo passivo.
O que não é necessário de todo para que essa modificação pessoal ocorra.
Aqui tenho de concordar. O producto inicial é o producto inicial e qualquer modificação é da exclusiva responsabilidade do modificador, não devendo modificar a imagem do produto inicial de forma alguma, para o bem ou para o mal!
Acções e consequências.
Isso é discutivel. Na minha opinião quanto mais alterações existirem mais o consumidor tem a ganhar através da liberdade de escolha e concorrência.
Err… So Fucking What?
Eu não sou responsável pela integração de pessoal novo no hobbie! Posso aceitar essa responsabilidade mas não posso ser responsabilizado por outro.
Quando compro um produto não é da minha responsabilidade propagar a imagem desse produto, fazer publicidade ou contribuir para o tempo de vida util ou comercialização desse produto de alguma forma. Não tenho nenhuma responsabilidade para com o designer do produto. Fui consumidor uma vez e mais do que isso parte apenas da minha própria vontade se tal for o meu desejo. Não posso ser culpabilizado ou criticado pela falta dessa vontade.
Se for do meu interesse trazer novas pessoas para o hobbie sim, ao assumir essa responsabilidade, devo fazê-lo da melhor maneira para o hobbie, ou estarei a contradizer-me, e aí sim, usar o jogo como publicado é a actitude correta.
Agora se meti um amigo meu a jogar no meu grupo de certeza que o vou a meter a jogar da mesma forma que eu sem me preocupar em ir mais além, a menos que ele mostre um interesse no hobbie propriamente dito e, partindo do principio que eu próprio tenho esse interesse!
Tava a tentar arranjar uma conclusão de jeito para isto tudo mas só consegui isto:
Isto é um jogo, o pessoal quer-se divertir. Não há forma errada de fazer isso. Um jogador não é obrigado a ser interessado no hobbie nem sequer a apoia-lo. Nem pode ser responsável por este. Cabe a cada um decidir por si o interesse que têm e a responsabilidade que vai assumir na sua participação activa na comunidade e no hobbie levando o seu gosto por este tipo de divertimento para algo maior ou não. Finalmente, meter toda a gente a pensar da mesma maneira não é uma solução para problemas de comunicação entre pessoas que pensam de maneiras diferentes.
Provavelmente exagerei uma data de coisas numa data de formas ao escrever isto.
Mais uma vez, na queria ofender ninguem, bla bla bla, sorry for that!
[B0rg]
We r all as one!!
We are The Borg. We are Eternal. We will return. Resistance is Futile...
If freedom is outlawed, only outlaws will have freedom.