O que é um RPG vs. O que é este RPG

Nota dos Moderadores: este post veio movido daqui.

Para já, desculpas se isto parecer off-topic, e desculpas também se alguém se sentir ofendido.

Uma das coisas que gostaria de ter visto discutidas ontem era o hábito dos jogadores; a outra, era a intenção do designer. Nem uma nem outra foram discutidas, apesar das minhas tentativas de puxar a conversa nesse sentido, morrendo a discussão em conversas sobre hacks a jogos e méritos de GM's.

Gostaria, no entanto, de puxar aqui o assunto das coincidências: do outro lado do Atlântico discutia-se ontem o mérito de haver secções nos jogos a explicar o que é um rpg.

Essa discussão pode ser vista aqui.

E gostaria de aqui puxar um dos comentários.

[quote]I think most games would be best served by forgetting about the "What is Role-Playing" essay, and have a section on "This Game Does This" section.

Different RPGs do different things, have different agendas. CoC's experience is different than AD&D, for example. There are similiarities... but important differences.

I think everyone would be best served if they picked up a game and could see the purpose of this game. Like when you pick up Monopoly or Risk. Nobody writes a "What is Board-Gaming?" section for Milton Bradley. They tell you what the game does and how to play.

If the game is well written, people playing it wil start role-playing automatically -- because the rules and stuff in the book should get them into action doing that thing. I shouldn't have to conceptualize it as an understanding of a whole new hobby. I should have rules that tell me what to do and to play the game I'm reading and guidance on how to play it.

I know this takes away the magic of "Ooooh, RPGs are so strange and special...." But you know what. They're games. They're not that special. I think they can produce a special time... But so can Twister and Diplomacy and Squad Leader.

A game set should explain itself -- not a taxonomy of entertainment.[/quote]



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Alguém muito sábio disse uma vez: "So, Trebek, we meet again! The game's afoot!"

Epá, essa citação está lá! :slight_smile:

[quote]I think most games would be best served by forgetting about the "What is Role-Playing" essay, and have a section on "This Game Does This" section.


Different RPGs do different things, have different agendas. CoC's experience is different than AD&D, for example. There are similiarities… but important differences.

I think everyone would be best served if they picked up a game and could see the purpose of this game. Like when you pick up Monopoly or Risk. Nobody writes a "What is Board-Gaming?" section for Milton Bradley. They tell you what the game does and how to play.

If the game is well written, people playing it wil start role-playing automatically – because the rules and stuff in the book should get them into action doing that thing. I shouldn't have to conceptualize it as an understanding of a whole new hobby. I should have rules that tell me what to do and to play the game I'm reading and guidance on how to play it.
[/quote]

Agora isto é interessante. Eu passo sempre essa página à frente e sigo para regras, setting, etc, num jogo novo. De facto, a meu ver, e nesta fase do desenvolvimento do hobby, uma página no princípio do jogo a indicar o que é o hobby quer-me parecer redundante. Uma introdução a indicar o que se tenta conseguir com aquele RPG preciso parece-me mais adequado.

No entanto, não eliminaria essa página - deixo-a na mesma área que uma bibliografia ou um índice remissivo, com uma espécie de dados "genealógicos" do jogo em particular, a indicar que existe um hobby onde há jogos que proporcionam experiencias semelhantes. Uma coisa que me irritou logo à partida quando apareceu a 3ª Edição do D&D foi que não fizeram referência a mais jogo nenhum, como se não existissem mais RPGs e aquele tivesse surgido ali, do nada - mesmo sendo a 3ª edição - e mesmo que opte mecânicas que foram criadas e experimentadas primeiro noutros jogos e por outras empresas, como o somar modificadores a lançamentos de dados e compará-los a uma dificuldade - lembro-me de Ars Magica e Cyberpunk fazerem isso já nos anos 80, por exemplo.

Pode até reduzir-se isso aos agradecimentos, por exemplo. Ninguém os lê, mas ao menos está lá.Ou como um postfácio do autor - dificilmente alguém o lerá. Mas, a meu ver, fica sempre bem.

Espero também não ter fugido muito ao tópico.

"Killing with the tip lacks artistry. It must be done with the edge."
- Gurney Halleck in Dune, Frank Herbert

Para o Ric e para o Zé: pois, eu já falava disso ontem, até desesperadamente…

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Alguém muito sábio disse uma vez: “So, Trebek, we meet again! The game’s afoot!”

Não existindo uma explicação do que é um rpg no ínicio de um livro de regras como é que uma pessoa, que nunca jogou rpg’s nem sabe o que são, decide se vai experimentar ou não este tipo de jogo?

Evil never dies, it just waits to be reborn…

A cena é mesmo essa. A pessoa não vai ser informada e decidir se vai experimentar este tipo de jogo; a pessoa vai ser informada e decidir se quer experimentar este jogo!

Em vez de haver um capítulo a dizer “um RPG é blah, blah, blah” há é um capítulo a dizer “este jogo é blah, blah, blah”.

A cena é mesmo essa. A pessoa não vai ser informada e decidir se vai experimentar este tipo de jogo; a pessoa vai ser informada e decidir se quer experimentar este jogo!

Em vez de haver um capítulo a dizer “um RPG é blah, blah, blah” há é um capítulo a dizer “este jogo é blah, blah, blah”.[/quote]

hummm…Tás a partir do pressuposto que assim os potenciais compradores sabem o que é um rpg e só tem que decidir qual vão comprar.
O conceito de rpg não é algo assim tão disseminado que qualquer pessoas saiba o que é. Julgo ainda ser importante a existência de uma explicação basica do que é um rpg nos livros de regras base.

Evil never dies, it just waits to be reborn…

Concordo que para um novato a tal explicação é necessária. Nem toda a gente descobre os RPGs em clubes ou lojas e eu sou a prova viva disso. Quando pela primeira vez entrei num clube de jogos já sabia perfeitamente o que era um RPG, sobretudo através da experiência, mas também porque existiam esses capítulos que procuravam (não importa discutir se são perfeitos ou não) descrever o que é um RPG. Por vezes talvez sejam demasiado longos, hoje em dia ignoro-os sempre e nem sequer me recordo quanta atenção lhes dei quando me faziam falta. Certamente dei-lhes alguma, uma vez que não tive outra explicação sobre o hobbie senão essa. Portanto, acho que têm cabimento, desde que não sejam muito extensos. Se se tornarem aborrecidos… That would defeat the purpose… Não concordo de maneira nenhuma que os autores incluam esse capítulo para dar a entender que os RPGs são algo especial. Se há alguma aura em redor do RPG não é de mistério no sentido positivo. Ainda hoje só me identifico como role player entre outros role players. De resto tenho medo, muito medo…

Não, eheh, tu é que estás a partir do pressuposto que a explicação do “este jogo é blah, blah, blah” não contém tudo o que um perfeito novato que nunca tenha visto um RPG na vida precisa de saber para saber se vai gostar ou não do jogo. :wink:

Não, eheh, tu é que estás a partir do pressuposto que a explicação do “este jogo é blah, blah, blah” não contém tudo o que um perfeito novato que nunca tenha visto um RPG na vida precisa de saber para saber se vai gostar ou não do jogo. :wink:
[/quote]

LOL.

Qual é então qual a diferença de ter um “este jogo é blah, blah, blah” de ter um “este RPG é blah, blah, blah” se ambos vão explicar o que é o jogo?
A nomenclatura incomoda assim tanto? :wink:

Evil never dies, it just waits to be reborn…

Uma coisa não anula a outra. Por que não uma pequena explicação sobre o que é um RPG dirigida aos que não sabem o que é (pode ser remetida para um canto obscuro do livro, não importa, se um gajo não sabe o que é terá mesmo de o ler todo) e depois “este jogo é bla bla bla”? Se bem que não tenho razões de queixa: na maioria dos jogos que adquiri não falta a explicação do que é o ambiente do jogo.

[quote=Nietzsche]Concordo que para um novato a tal explicação é necessária. Nem toda a gente descobre os RPGs em clubes ou lojas e eu sou a prova viva disso. Quando pela primeira vez entrei num clube de jogos já sabia perfeitamente o que era um RPG, sobretudo através da experiência, mas também porque existiam esses capítulos que procuravam (não importa discutir se são perfeitos ou não) descrever o que é um RPG. Por vezes talvez sejam demasiado longos, hoje em dia ignoro-os sempre e nem sequer me recordo quanta atenção lhes dei quando me faziam falta. Certamente dei-lhes alguma, uma vez que não tive outra explicação sobre o hobbie senão essa. Portanto, acho que têm cabimento, desde que não sejam muito extensos. Se se tornarem aborrecidos... That would defeat the purpose... Não concordo de maneira nenhuma que os autores incluam esse capítulo para dar a entender que os RPGs são algo especial. Se há alguma aura em redor do RPG não é de mistério no sentido positivo. Ainda hoje só me identifico como role player entre outros role players. De resto tenho medo, muito medo...[/quote]

Vamos por partes. E se o capítulo em vez de dizer "Isto é um RPG e os RPGs são assim..." disser logo à cabeça "Este jogo é assim..." e contiver as mesmas informações que os capítulos sobre RPGs, mutatis mutandis? Até pode começar logo ali a dar informações mais específicas sobre aquele jogo em vez de perder tempo em definições de RPGs, que como vemos neste fórum, são já objecto de polémica e discussão acessa, e de ideologia muitíssimo carregada emocionalmente? Isto sou eu a ser politicamente correcto, coisa que detesto. Mas uma nota no fim a referir o hobby, e as origens do jogo, como já disse antes, não fica mal...

"Killing with the tip lacks artistry. It must be done with the edge."
- Gurney Halleck in Dune, Frank Herbert

Acho que isso serve perfeitamente

[quote=Verbus]
Até pode começar logo ali a dar informações mais específicas sobre aquele jogo em vez de perder tempo em definições de RPGs, que como vemos neste fórum, são já objecto de polémica e discussão acessa, e de ideologia muitíssimo carregada emocionalmente?[/quote]

Bem visto! Hoje estou lento, não tinha percebido que afinal o problema residia aí!!! Isto sou eu a não ser politicamente correcto :wink:

A diferença vem explicada na citação do Rui; os RPGs não foram criados iguais, nem de perto nem de longe, como de certeza sabes após teres tido contacto com um bicho como o MLWM. Um dia que estejas aí com o Rick Danger e se tiveres possibilidade experimenta ler o capítulo de introdução de, por exemplo, Primetime Adventures ou Dogs in the Vineyard. São dois jogos que tenho presentes, mas hão-de existir outros.

Anyway, o capítulo explica-te como é uma sessão de jogo, qual é função dos jogadores, qual é a função do GM… só que não num RPG, mas naquele RPG. E isso é essencial tanto para um novato, como para um gajo que já tenha experimentado 30000 RPGs diferentes mas que ainda não tenha experimentado este. Caso prático, que é que o faz sempre falta: já andei a partir pedra em vários jogos indie na companhia de muitos grandes roleplayers aqui na praça antes de fazermos aquilo funcionar, e a maioria dos nossos problemas foram muitas vezes devidos a suposições e hábitos que trouxémos de outros jogos (indies ou tradicionais, tanto faz)… uns parágrafos de introdução não resolvem esse problema, claro, mas são o primeiro passo para vincar na mente do leitor a personalidade própria do jogo.

Onde disse fórum queria dizer, obviamente, site. Pelo que peço desculpa.

"Killing with the tip lacks artistry. It must be done with the edge."
- Gurney Halleck in Dune, Frank Herbert

Ruizão, por sugestão de El Mariano (que pelos vistos ele entretanto apagou, o malandro, só para ser eu ficar com as culpas!!!), movi o teu post para aqui.

Sente-te à vontade para re-escrever a introdução do post original (e remover o aviso da moderação sobre a origem do post se ele deixar de ser necessário para o pessoal perceber de onde surgiu a linha de discussão).

[quote=ricmadeira]A diferença vem explicada na citação do Rui; os RPGs não foram criados iguais, nem de perto nem de longe, como de certeza sabes após teres tido contacto com um bicho como o MLWM. Um dia que estejas aí com o Rick Danger e se tiveres possibilidade experimenta ler o capítulo de introdução de, por exemplo, Primetime Adventures ou Dogs in the Vineyard. São dois jogos que tenho presentes, mas hão-de existir outros.

Anyway, o capítulo explica-te como é uma sessão de jogo, qual é função dos jogadores, qual é a função do GM… só que não num RPG, mas naquele RPG. E isso é essencial tanto para um novato, como para um gajo que já tenha experimentado 30000 RPGs diferentes mas que ainda não tenha experimentado este. Caso prático, que é que o faz sempre falta: já andei a partir pedra em vários jogos indie na companhia de muitos grandes roleplayers aqui na praça antes de fazermos aquilo funcionar, e a maioria dos nossos problemas foram muitas vezes devidos a suposições e hábitos que trouxémos de outros jogos (indies ou tradicionais, tanto faz)… uns parágrafos de introdução não resolvem esse problema, claro, mas são o primeiro passo para vincar na mente do leitor a personalidade própria do jogo.[/quote]

Entendo que com esta aproximação se pretende especificar o que se pretende com este rpg em vez do que é um rpg e concordo em parte com ela.

Acho no entanto que que uma nota/página/capitulo do que é um rpg, no geral, é fundamental para quem não saiba nada do assunto e se mostre interessado em experimentar este tipo de jogo.

Em vez de ter que estar a ler 50 capitulos de livros para ver se o que se pretende com este rpg é diferente dos outros 49, não é mais simples ter um conceito geral em todos os livros do que se pretende com qualquer rpg para quem apenas tem curiosidade de saber o que é um rpg?

É que para mim, que sei o que é um jogador, um GM ou uma sessão é fácil assimilar esses conceitos mesmo que tenham outros nomes ou mêcanicas ao passo que para quem nunca tenha ouvido falar do que é um rpg essa assimilação não seja assim tão simples ou óbvia.

O grande problema, na minha opinião, é não existir um documento aceite pelo meio que de um modo simples dê uma ideia do que é um rpg, assim como um “What’s a RPG for Dummies” de uma página…

:slight_smile:

Evil never dies, it just waits to be reborn…

Falando por experiência própria, o básico de um roleplay é interpretar uma personagem que pode ou não ter uma personalidade diferente do próprio jogador em situação que o GM descreve e tentar agir como a personagem agiria. No entanto, cada roleplay diferente tem pressupostos que, partindo deste conceito base, os adaptam ao género em que se inserem.

Call of Cthulhu não tem uma secção "O que é um roleplay?" mas duas páginas onde descreve o que se espera de um Keeper e dos jogadores no contexto do jogo (Horror Lovecraftiano), que tipo de histórias se devem contar, etc. Isto é mais próximo do que o Ricardo Madeira referiu com um roleplay que explique o que se espera dele especificamente. Não foi por aí que não conseguímos jogar Call of Cthulhu.

Weapons of the Gods não tem uma secção que diga o que é um roleplay ou o que se espera que o Sage e os jogadores façam do jogo. Apenas diz que é um jogo wuxia baseado num comic. Como é que sabemos como jogar? Lendo com atenção as técnicas de kung-fu e criação da personagem depressa nos apercebemos que está mais próximo do "Herói" com o Jet Li do que do "Tigre e do Dragão". São dois filmes wuxia mas completamente diferentes em termos de força das personagens, tipo de história, relações inter-pessoais, etc.

Deadlands não contém nem uma ou outra secção. O livro, pura e simplesmente, começa a descrever o mundo, as regras, os monstros, os NPCs, etc. Como é que lá chegamos? Lendo com atenção os manuais depressa nos apercebemos dos elementos que compõem Deadlands como roleplay. Uma ressalva, minto um bocado quando digo que não contém uma directriz para o tipo de histórias: o manual refer que Deadlands é suposto ser mais próximo dos Western Spaghettis do Sérgio Leone do que dos filmes de John Ford. Entendam como quiserem.

Com tudo isto o quero dizer é: A secção "O que é roleplay?" é vital? Não. É útil? É. Se o manual a omitir dificulta a aprendizagem de como jogar um determinado jogo? Não. Não esqueçamos que roleplays são dirigidos a pessoas com dois palmos de testa e não a qualquer puto ranhoso que seja viciado em Pókemon e MTV, daí que os clientes de um roleplay, mesmo que nunca tenham jogado ou lido, conseguem comprar um manual base e inferir como se joga a partir do manual.

Foi isso que me aconteceu. Demos muitos tropeções, começámos muitas campanhas mas desenvolvemos o nosso estilo. Foi perda de tempo? Não. Foi divertido? Sim.

Confesso que me surpreendi quando vi este post, já com 17 respostas, ter sido posto por mim; será que tinha ido almoçar e alguém o tinha feito? :smiley:

Vou tentar endereçar alguns pontos nos sítios respectivos.

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Alguém muito sábio disse uma vez: “So, Trebek, we meet again! The game’s afoot!”

Não pretendo nem de perto nem de longe ser a maior inteligência viva à face da terra e o sumatório de todo o conhecimento de rpg, mas julgo que posso dizer que já não vivemos nos anos 80.

Posto isto, o que é que impede alguém, morando numa cidade, o acesso à net para investigar o que é um rpg, se realmente a isso se sentir levado?

Tendo isto em conta, pegar num livro de rpg, folhear-lo porque a capa é gira, porque o tema agrada ao leitor, e depois perceber que não é exactamente um livro, mas um jogo, pode despertar a mesma curiosidade que levava alguém a comprar um CoC, por exemplo. É de notar, que o mais certo para alguém que compre um rpg, é que provavelmente já teve, de uma maneira ou de outra, acesso a rpg’s: os rpg’s não se vendem nos quiosques, vendem-se nas casas de jogos, ou mandam-se vir pela net, ou, algo que não recomendo, sacam-se da net. Quem compra um rpg, hoje em dia, quase de certeza que já sabe o que está a comprar, e se não sabe, tem ao seu dispor várias ferramentas que pode usar para descobrir: já não estamos no tempo em que os empregados da loja nãop sabem o que estão a ver; excepção talvez para a Tema, mas essa é uma livraria (?) de impulso, como aliás já aqui foi discutido e demonstrado noutras threads.

Para acrescentar algo de útil, proponho o que já propús na rpg.net de onde tirei o link:

-o rpg deve trazer uma breve história de rpg’s, com alguns exemplos para que o comprador possa ir investigar se quiser, uma pequena explicação do que é um rpg, mais uma vez com exemplos, e, então sim, uma longa explicação de como jogar aquele jogo, com exemplos extensos em todas as secções, e sem Golden Rule.

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Alguém muito sábio disse uma vez: “So, Trebek, we meet again! The game’s afoot!”