Dedico esta entrada no meu blogue a todos os GMs que tive de D&D até hoje, a todos os que hei-de ter, a todos os jogadores com quem joguei e com quem irei jogar (seja como GM ou parceiros de party), para que possam perceber o divertimento que tiro deste jogo (seja na edição 3.5 ou 4) e o que me faz jogá-lo.
D&D é um jogo de: - Desafios de habilidade; - Combate táctico; - Partilha de responsabilidade entre os vários jogadores sobre qual a melhor decisão para tomar a seguir, seja qual o melhor poder ou feat a escolher quando se sobe de nível, seja qual a melhor jogada a fazer em combate (“vale a pena atacar já o grande Vampiro mau ou é melhor despachar já o zombie que já está a metade dos níveis de vida?”, “vai ao zombie e limpa já esse gajo do combate, tenta usar um poder que dê logo muito dano para não correr riscos”); - Enfrentar combates tacticamente desafiantes e estar naquele limbo do “ai ai ai, não vai dar…” até ao último monstro cair; - Matar as coisas más através da melhor utilização possível das ferramentas da party, ganhar o dia e seguir em frente para a próxima batalha;
Isso implica: - Fazer Min/Max ao personagem? SIM, ninguém é bom em tudo tenho um papel a desempenhar no grupo de aventureiros, escolho os meus skills, atributos e poderes em função disso isso, olho para os atributos das skills que vou usar, os que uso nos poderes associados ao meu papel (seja dano, seja cura, o que for) e esses é que são importantes. Sou Mago, preciso de força? Não, então siga baixar stat e subir inteligência para mais um ponto;
- Sessões/campanhas inteiras que são só porrada? NÃO, venha dai os ocasionais desafios diplomáticos ou de investigação, “vamos ver se tens conhecimentos de religião suficientes para saber como te portares em frente a este deus”, são desafios e fazem parte do jogo (non-combat challanges FTW). Se no meu grupo me disserem (jogador ou GM), “vamos jogar D&D mas como eu não gosto muito de combate vamos fazer uma campanha de mistério e terror numa corte, por isso vai haver muita intriga e jogadas políticas”, eu pego nos 90euros e 900 páginas de livros que me dizem como fazer um personagem do modo mais eficiente possível, como criar uma aventura através de encontros equilibrados e com a distribuição de tesouro associada, a lista todos os monstros associados que posso usar nos ditos combates, devidamente repartidos por nível de encontro e, respeitosamente, bato com isto tudo repetidamente na cabeça da pessoa que deu a sugestão. Eu não gastei aquele dinheiro e tempo todo a ler este jogo para agora irmos contar histórias de piqueniques, isto é guerra, mas se quiserem muito podemos jogar “Houses Of The Blooded”;
- Jogar com tudo em cima da mesa Não, nós não usamos screen para o GM esconder os monstros e os dados, nós não andamos às cegas a tentar perceber o que fazer em jogo. As iniciativas, pontos de vida e condições de todos os envolvidos no combate são conhecidos por todos os jogadores, até porque é um dos jogadores que trata destas questões administrativas. Em 4ed existe um roll que se pode fazer no início do combate para tentar obter as características dos monstros (a skill depende do tipo de monstro), se tivermos sucesso suficiente sabemos tudo sobre ele (tipo de criatura, poderes, fraquezas, o que for). Usamos toda a informação a que temos direito para tornar os combates em situações realmente tácticas e não um tentar adivinhar o que vai na cabeça do GM;
- É rollplay e não roleplay? Para começar ambos os termos utilizados no contexto desta expressão são cretinos e inconsequentes, por isso vamos já pô-los de lado e falar de maneira diferente. Um RPG implica (minha definição e do meu grupo de jogo), espaço de imaginação partilhado por todos à mesa, leia-se “sítio” entre nós onde se desenrola a ficção da história, com regras para cada um o poder manipular, leia-se contribuir para a história, de modo a criar uma sequência de eventos que estejam de acordo com o estilo e tipo de história que se quer contar com o jogo em causa. O que no caso de D&D é aventureiros que andam a explorar o mundo e partir coisas. Dito isto, um mapa com quadradinho e bonecos a mexerem-se para mim é roleplay a partir do momento em que está enquadrado neste contexto (e o contexto é importante, porque se estiver a jogar o jogo de miniaturas de D&D não é a mesma coisa) eu consigo imaginar aquelas criaturas à porrada e a fazerem os seus ataques e movimentos e etc. E não, eu não descrevo pormenorizadamente todas as jogadas, estamos a falar de cerca de 100 rolls por combate e sou uma pessoa sã (ou tento…). Se alguém sente que não é suficientemente imersivo e não o faz sentir o que é ser o seu personagem e tal, azarucho oh bode, isto não é teatro é um jogo;
- Então os personagens são apenas autómatos destacados a cumprir um papel numa party? Pois não, novamente roleplay e CONTEXTO (para quem não leu da primeira vez). Como estamos a jogar roleplay criamos personagens, podem não ter uma 37 páginas de background, não faz mal, descobre-se em jogo, pode não ter uma ficha de uma ala de psiquiatria a detalhar o funcionamento da sua personalidade, não faz mal descobre-se em jogo. Eu jogo o personagem, encaro as situações que o GM me põem à frente e (re)ajo com o meu personagem e crio a sua presença na história de maneira minimamente coerente para o dar a conhecer aos outros jogadores, (e a mim) desta maneira conseguimos todos imagina-lo a fazer as coisas que ele diz que faz e dizer coisas do género “yep, isso é mesmo à Razak”. A maneira como os personagens são interpretados nas situações por onde passam e o facto de haver essa possibilidade é o que torna D&D RPG diferente de D&D Miniature Game, é o que cria o investimento emocional da minha parte e me faz voltar todas as semanas à mesma mesa para jogar o jogo e não, os quadradinhos e os poderes e as 3h de combate não me tiram isso, fazem parte disso. Já agora, para quem não reparou ainda, isto é o que acontecem em todos os RPGs em D&D não é diferente;
- Sessões sem rolar dados? Pode ser, depois de uma batalha intensa o pessoal abanca-se na taberna e fica o resto da noite a contar histórias num concurso de storytelling, ninguém rola, simplesmente façam-no. Parece-me bem, serve para descontrair, desenvolver mais o personagem, brincar um bocadinho com a ficção. Mas na sessão a seguir é bom que haja trolha para distribuir por alguém.
Dito isto, para aqueles que estão já mesmo desejosos de carregar no botão que diz “adicionar comentário” e escrever coisas construtivas como “oh palhaço mas D&D dá para tudo porque eu assim e assado” ou “pois mas isso é rollplay e não roleplay e tu não percebes nada disto”, relembro que postei este texto no meu blogue pessoal precisamente para poder ignorar esses “contributos” sem grandes problemas de consciência. Se quisesse defender o meu ponto de vista tinha ido para o fórum público.
Em particular para então os que tiverem a pensar “então vou fazer também o meu post super-privado a dizer mal do jogo ou da tua opinião e como é super-privado depois não podes responde”, força, vai em frente, deixo só esta questão “vale mesmo a pena perder tempo a escrevermos sobre coisas que não gostamos quando o podíamos estar a utilizar nas coisas construtivas que de facto gostamos?” Tipo, como eu acabei de fazer :)
Para os que sobrevieram até este ponto e estão a perguntar-se “então porque raio é que ele escreveu isto”, é simples eu gosto de D&D, eu gosto de D&D jogado assim, se se sentirem identificados com este estilo de jogo ou quiserem falar (construtivamente sobre ele) questões, sugestões, o que for, estou perfeitamente disponível para o fazer, dando já a saber a todos de “onde é que eu venho” em termos das coisas que tiro dele e do que me dá prazer jogá-lo.
* PL +4 quer dizer Nível da party somado de quatro valores, o resultado é o nível de combate mais elevado que um grupo pode enfrentar (de forma equilibrada), sendo por isso os combates mais difíceis e, por definição, os mais divertidos.