Projectos em torno do rpg

Num outro fórum criado pelo Mariano discutimos o que existe de rpgs em português ou criados por portugueses. Aí foi levantada a hipótese de um projecto colaborativo neste domínio. Aqui vão algumas ideias:

1. Do meu ponto de vista a criação de um jogo é complexa. É preferível testar soluções com projectos mais limitados, estilo adaptação de um universo de jogo a um sistema já existente.

2. É preferível começar com um projecto em inglês para um jogo disponível no mercado internacional. Isto para vermos o que temos capacidade de fazer e para termos o fidebéque alargado permitido pelos fóruns existentes nessa língua.

3. Um jogo em português é para uma segunda fase mas, adiantando ideias, penso que ele: deverá ser genérico; deverá ser baseado em ficção com larga circulação e tradição na nossa língua, sejam autores clássicos (Salgari, Verne, Haggard, etc.), sejam autores só recentemente divulgados entre nós em português (Conan), sejam autores portugueses da nova geração; deverá ser bastante simples e adaptável; não precisa de ser um jogo criado aqui, pode ser a tradução/adaptação de um jogo criado lá fora.

Tomando como base estas ideias venho partilhar um projecto que tenho na fase muito inicial: TCCHA!

TCCHA! quer dizer the Tome of Colonial and Contemporary Heroic Action.

A ideia é fazer um livro que ficção de acção heróica contemporânea. Isto quer dizer várias coisas:

Sendo heróica não é super heróica nem subrenatural.

Sendo acção não é drama, investigação, romance, psicodrama, etc.

Sendo colonial e contemporânea fixa-se nos seguintes «universos»:

  • Colonial (Sandokan, Tarzan, As minas do rei Salomão, vários filmes e outros livros)
  • Anos 30 (há imensa coisa mas o paradigma actual é o Indiana Jones)
  • Noir (policial e acção clássica, estilo filmes americanos da época)
  • Segunda Guerra Mundial
  • Guerra Fria (James Bond, John Le Carré, O Santo, O Fugitivo, etc.)
  • Pós apocalíptico (Mad Max 1)

No que respeita a sistemas de jogo, a minha ideia pessoal é fazer um livro jogável com os meus dois sistemas favoritos, BRP e HeroQuest 2.0.

O que acham da ideia?

[EDIT] Como é evidente, este fórum pode ser alargado a outros projectos, venham eles.[/EDIT]

Não me parece má apesar de achar curioso o teu enquadramento (histórico?) “Colonial”. :slight_smile:

O sistema é uma mistura do BRP e HQ 2.0 ou é para cada um?

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A ficção colonial existe, alguma dela é bastante boa, está à venda entre nós e contínua a moldar as nossas imaginações, mesmo que isso não seja políticamente correcto... (Mas pessoalmente estou-me nas tintas para o políticamente correcto.)

Não, a ideia não é ser uma mistura de sistemas de jogo. A ideia é incluir umas guidelines sobre como jogar com um e o outro sistema e como adaptar PCs, NPCs, creaturas e outras entidades de jogo.

Sérgio Mascarenhas

De que modo o universo fantástico pode ser melhor ou pior emulado em cada um desses sistemas? E porquê o esforço em duplicado e não te concentrares apenas num?

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Não é fantástico, é acção em ambiente «orientalista».

O duplicado é pessoal: o BRP é o sistema com que me fiz roleplayer e continuo a achar que é um dos melhores no mercado. O HQ é o melhor no mercado (sem ser perfeito, há tanto a melhorar!). E ambos estão profundamente relacionados, como as duas faces de uma moeda. Pôr os dois no livro é para mim uma necessidade.

Sérgio Mascarenhas

De qualquer das formas, acho que este fórum já me ajudou a esclarecer uma questão: o que me interessa mesmo a título pessoal é a acção «colonial». Como se isso não fosse de esperar...

Sérgio Mascarenhas

Acção colonial parece interessante e diferente. Ainda bem! :slight_smile:

Não conheço muito bem quer um quer outro. De qualquer modo estou pronto para ajudar no que puder. :wink:

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Se estivesses preocupado com o politicamente correcto (que vi que não estás Wink) podias substituir p termo "acção colonial" por "aventuras exóticas"...

" Robot durante o dia, vegetal durante a noite"

Em rigor a expressão inglesa que eu tenho em mente é «Jungle Heroes»...

Sérgio Mascarenhas

Tens o dever de passar a conhecer bem os 2! Eu empresto-te as minhas versões pdf de ambos se prometeres que os vais comprar...

Aliás, estou certo de que vais gostar particularmente do HQ2! Pelo que me toca continuo a digeri-lo na linha das nossas conversas na Runadrake, noutros tempos. O Robin D. Laws desenha jogos a passo de caranguejo optimista, ou seja, dois passos
a frente, um atrás. (O que tem tudo a ver com o HQ2, diga-se de passagem, mas isso só compreende quem tenha o jogo.)

Sérgio Mascarenhas

Se o BRP for o do Call of Cthulhu e do Stormbringer, conheço mais ou menos. Acho que tinha a nova edição do BRP por aí. Este é de licença aberta?

Quanto HeroQuest já li um pouco do HeroQuest 1.0. Ainda não consegui ler a preview de uma ponta à outra.

Quando é que escreves o pitch ou o outline do “Aventuras Selvagens”?

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O BRP é esse mesmo. Têm um esquema qualquer de licença aberta mas hoje em dia todos os sistemas têm, depois do d20. Todos menos o DD4, por sinal...

Quanto ao HQ, a nova edição é muito melhor, além de ser genérica. E entra por domínios muito interessantes, daqueles que os livros de regras normalmente nem colocam a hipótese de se aventurarem a entrar.

Queres dizer «Heróis na Selva»? Bem, bem, deixa-me acabar de por as ideias em ordem quanto ao HQ2 primeiro. (É que me dá mesmo que pensar...)

Nota que, como eu disse, o projecto pode ser colaborativo. Outras pessoas podem pegar noutros períodos históricos (anos 30, 2ª guerra mundial, guerra fria, pós-apocalipse contemporâneo) ou noutros géneros (policial, espionagem, agente secreto - não é necessariamente o mesmo que espionagem -, guerra contemporânea, sobrevivência, etc.). Pegavas em algum?

Sérgio Mascarenhas

Quando é que escreves um review sobre o HQ2? :slight_smile:

Eu pegava nos anos tumultuosos do início do século XX em Portugal com anarquistas e tudo o mais. :slight_smile:

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Concordo perfeitamente! Para quem tem essa curiosidade eu sou terrível a desenvolver sistemas apesar de gostar da ideia de escrever sobre e para RPGs.

Li há pouco um artigo que compara os sistemas de licença aberta de RPG com os game engines dos videojogos, aos quais os developers independentes preferem acesso porque não têm recursos materiais e humanos para criarem um sistema de raíz. Acho que a solução pode ser mesmo essa, pelo menos para mim.

Pena é que por vezes o acesso ao sistema estar um pouco dificultado devido aos documentos estarem pouco legíveis e funcionais.

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[quote=jrmariano] Quando é que escreves um review sobre o HQ2? :)[/quote]

Já pensei nisso e já deixei de pensar. A minha ideia actual é escrever uma série de colunas sobre o sistema, talvez para publicar na RPGnet. Aí descrevo a forma como funciona, apresento a minha crítica as as minhas alternativas, onde for caso disso.

[quote]Eu pegava nos anos tumultuosos do início do século XX em Portugal com anarquistas e tudo o mais. :)[/quote]

Eu tenho umas notas de um jogo situado nessa altura. Combina a série de banda desenhada das Cidades Obscuras com a Lisboa do fim dos anos 20, metendo os poetas do Orfeu ao barulho e em grande, em particular Pessoa e o seu séquito de heterónimos...

Sérgio Mascarenhas

A questão é dispor de um sistema que seja uma base de trabalho adequada, ou seja, muito simples mas, ao mesmo tempo, muito potente. É aqui que entra o HQ2...

Sérgio Mascarenhas

Parece-me que estamos em desacordo, algo que já tem vindo a ser nosso hábito por este site fora :)

[quote=smascrns]1. Do meu ponto de vista a criação de um jogo é complexa. É preferível testar soluções com projectos mais limitados, estilo adaptação de um universo de jogo a um sistema já existente.[/quote]Portanto, escrever um suplemento para um RPG que já exista? Não é isso que fazemos informalmente de cada vez que mestramos uma campanha? Entretanto, quais seriam então os problemas para os quais seria necessário "testar soluções"? São deficiências que, por exemplo, os settings para BRP ou Heroquest têem? São falhas a nível dos ambientes em si ou na forma como são escritos e apresentados?

[quote=smascrns]2. É preferível começar com um projecto em inglês para um jogo disponível no mercado internacional. Isto para vermos o que temos capacidade de fazer e para termos o fidebéque alargado permitido pelos fóruns existentes nessa língua.[/quote]Podemos ter projectos quer em português, quer em inglês - deixando os RPGs mais introdutórios para a nossa língua materna e os RPGs mais pesados para o possível reconhecimento internacional.

[quote=smascrns]3. Um jogo em português é para uma segunda fase mas, adiantando ideias, penso que ele: deverá ser genérico; deverá ser baseado em ficção com larga circulação e tradição na nossa língua, sejam autores clássicos (Salgari, Verne, Haggard, etc.), sejam autores só recentemente divulgados entre nós em português (Conan), sejam autores portugueses da nova geração; deverá ser bastante simples e adaptável; não precisa de ser um jogo criado aqui, pode ser a tradução/adaptação de um jogo criado lá fora.[/quote]Não precisa de ser um jogo criado aqui? Mas ambicionamos ser autores ou editores/tradutores?

Além disso - e apesar de compreender inteiramente a sua conveniência - não estou interessado em fazer/usar sistemas genéricos. Penso que já conheces aquela filosofia toda do "system matters", por isso não vou estar aqui a comparar argumentos.

De qualquer forma, criar ambientes para sistemas de regras que já existem não é simplesmente aquilo que muitos mestres-jogo fazem quando começam uma grande campanha? E que aproveitam isso para introduzir as suas próprias ideias e para melhorar certos aspectos em relação aos settings oficiais? E que, de muito fazer isso, acabam por se fartar, decidem criar o seu próprio RPG e tornam-se autores?

Acho que tu ainda não te fartaste, Sérgio ;)

Eu também gosto muito de BRP ou de Heroquest, mas, entre enviar o meu currículo para a Chaosium e tentar fazer os meus próprios jogos, prefiro tentar criar coisas novas. Estou interessado em ajudar qualquer iniciativa, mas a minha prioridade são projectos _de_ RPG, não "em torno do".

E por vezes quando penso em mexer numa sistema já existente sinto que estou a fazer um hack caseiro, uma variação do universo de jogo consubstanciada pelas regras que eu usaria numa campanha minha.

E para não falar da chatice que é traduzir livros de jogo. Eu tenho andando a traduzir o Solar System e o Primetime Adventures e é um fardo difícil de carregar.

Por outro lado, estás a ver aquele problema do playtesting e tal? Um sistema conhecido têm fortes probabilidades de já ter sido testado e ter sido consolidado.

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[quote=Rick Danger]Portanto, escrever um suplemento para um RPG que já exista? Não é isso que fazemos informalmente de cada vez que mestramos uma campanha? Entretanto, quais seriam então os problemas para os quais seria necessário "testar soluções"? São deficiências que, por exemplo, os settings para BRP ou Heroquest têem? São falhas a nível dos ambientes em si ou na forma como são escritos e apresentados?[/quote]

Nada disso! O problema não é a esse nível. Onde é, do meu ponto de vista, necessário testar soluções é ao nível da capacidade de concretização nossa (ou pelo menos minha). As ideias são muitas, excelentes, etc., mas... e quanto à concretização? Zero? Uns pontos ligeiros acima do zero? O que eu penso é que é preferível começar com um projecto pouco ambicioso mas levá-lo até ao fim antes de partir para um projecto mais ambicioso. Só isso.

[quote]Não precisa de ser um jogo criado aqui? Mas ambicionamos ser autores ou editores/tradutores?[/quote]

Do meu ponto de vista a ambição é colocar um rpg no mercado português em Portugal que tenha potencial de realmente criar um mercado e que possa dar origem a uma abordagem portuguesa ao rpg. O sistema de base até pode não ser local mas a equipa local tem de ter a capacidade de o levar no sentido que mais se adeque à nossa cultura e consumo de ficção (o que não me parece ser possível, por exemplo, com o DD). Para mim é secundário pôr na equação a construção de uns quantos egos locais...

[quote]Além disso - e apesar de compreender inteiramente a sua conveniência - não estou interessado em fazer/usar sistemas genéricos. Penso que já conheces aquela filosofia toda do "system matters", por isso não vou estar aqui a comparar argumentos.[/quote]

Isso são tudo teorias (e eu até sempre defendi que o sistema é determinante, muito antes de aparecerem uns maduros a fazerem disso uma doutrina - contra os que fazem doutrina do ponto de vista oposto).

O que eu penso é que há tipos de ficção que são mais fáceis de fazer penetrar no mercado tuga porque são aqui bem conhecidas. Basta ver que o meu bem amado Salgari que estava desaparecido há 20 anos, está a regressar ao mercado! Ora são tipos de ficção que se adequam bem a sistemas genéricos como os que eu propus (BRP e HQ2).

[quote]De qualquer forma, criar ambientes para sistemas de regras que já existem não é simplesmente aquilo que muitos mestres-jogo fazem quando começam uma grande campanha? E que aproveitam isso para introduzir as suas próprias ideias e para melhorar certos aspectos em relação aos settings oficiais? E que, de muito fazer isso, acabam por se fartar, decidem criar o seu próprio RPG e tornam-se autores?[/quote]

A resposta à primeira questão é que sim... para MJs experientes. Ora todos começam por outro lado, pelo início, pela utilização de material alheio. Quanto ao último ponto, é uma daquelas ideias que está excessivamente sobrevalorizada. A percentagem dos MJs que criam os seus próprios jogos deve ser muito pequena, quanto muito fazem umas regras da casa para o seu jogo favorito. Eu estou a pensar na vasta maioria de potenciais MJ tugas que não vai criar o seu sistema, vai jogar o que lhe for oferecido pelo mercado.

[quote]Eu também gosto muito de BRP ou de Heroquest, mas, entre enviar o meu currículo para a Chaosium e tentar fazer os meus próprios jogos, prefiro tentar criar coisas novas. Estou interessado em ajudar qualquer iniciativa, mas a minha prioridade são projectos _de_ RPG, não "em torno do". [/quote]

Espero vê-los concretizados. Eu fui-me tornando menos ambicioso com o tempo. Os projectos que fui deixando pelo caminho demonstraram-me que é melhor começar por algo pequeno mas exequível, por exemplo um livro de jogo para sistemas que domino bem e de que gosto. Depois, e com base nessa experiência, passar para um jogo meu. Até porque eu sei que vai ser nas arcas do BRP e do HQ que eu vou colher as ideias para esse jogo...

Sérgio Mascarenhas

E será que a tal ficção colonial é assim tão representativa e apelativa ao mercado que se pretende conquistar.

Porque não algo mais exequível como um RPG no espírito da velha escola capaz de atrair tanto os veteranos como os seus filhos e familiares mais jovens? Algo que concentre as novas ideias que já por aí circula e as aplique de uma maneira meio-familiar e meio-inovadora?

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