Visita de Campo

Enquanto conversam no parque de merendas, a vossa lancha vai subindo pelas várias eclusas. Junto à margem oposta, outro barco faz a viagem no sentido inverso, para jusante.

Apesar do processo ter sofrido vários melhoramentos no últimos tempos, ainda é algo demorado, pelo que conseguem terminar de almoçar mesmo a tempo da lancha passar a última comporta.

Do outro lado, o outro barco já estava nas águas mais baixas e perfazia apenas alguns aspectos burocráticos dada a importância da carga que transportava: lixo industrial proveniente das minas em direcção ao aterro industrial, para lá do pântano.

Já a Drª Vanessa conta-vos como é fascinante poder ajudar verdadeiramente as pessoas lá no Hospital de Gaia — ajudar uns a nascer, evitar a morte de outros...

Nisto, enquanto regressam para a lancha, ouvem um som estrondoso na direcção oposta e, quando vão a ver, o outro barco está a inclinar-se sobre um dos lados e dezenas de bidões estão a cair ao rio!

-Este é que é o tal novo método de transporte de poluição absolutamente seguro que as autoridades garantiam?-Pergunta com voz sarcástica Dodoni

 

 

 

 

 

 

 

 

" Robot durante o dia, vegetal durante a noite"

"Nos trabalhos que faço para a Academia andamos a ver uma leituras muito estranhas, acho que já percibi a causa. Este tipo de acidentes pode causar problemas graves a nivel do ambiente"

 

Olhando em volto vejo se houve alguem que caiu á agua ou se foi so o lixo...

Pelo que parece, houve pelo menos 3 pessoas que cairam à água mas, apesar das circunstâncias, não parecem estar em perigo.

Seja como fôr, estão do outro lado das eclusas e junto à margem oposta. Não será muito fácil atingi-los rapidamente (caso seja essa a tua intenção)...

Perante tamanho aparato, parece que alguém de entre os alunos de biologia terá começado a dizer que isto só podia ser obra do Anjo Negro...

Mas o tal professor auxiliar veio pôr água na fervura.

"Qual Anjo Negro qual carapuça, isto é trapalhada de Homem. Não se pode atribuir tudo o que acontece de mal ao Sobrenatural quando a culpa cai muitas vezes no erro humano."

Vendo que estava longe demais para ajudar espero que os homens que cairam à agua se consigam safar e reuno as minhas coisas pronto para a saida do grupo.

O que quer dizer com leituras estranhas? Não percebo muito de biologia, podia explicar isso para uma leiga?- dido sem ponta de sarcasmo.

 

" Robot durante o dia, vegetal durante a noite"

" Em termos leigos o que isto quer dizer é que em zonas onde antes era um pantano com bastante agua são agora terrenos com pouca água, noutras zonas as algas crescem a um ritmo alucinado matando muita da vida dessas zonas... Isto são sinais claros de poluição que acabaram por afectar todo o planalto se isto continuar assim.

E como é claro com estes exemplos o problema é humano e não uma acção de punição do Anjo Negro

-Mas isso levanta um problema:para reduzir a poluição teriamos de reduzir a actividade humana, enos dias de hoje, é suicidio travar o progresso. Apenas esperar que novas tecnologias resolvam isso.

- O problema passa mais pela adopção de novos hábitos, não é possivel parar o progresso até eu consigo ver isso, mas temos que de mudar o nosso comportamento para evitar que as pessoas vejam a natureza como o seu caixote de lixo. As pessoas tem que se envolver e nao esperar que a solução lhes caia no colo.

Uma solução passa por evitar este tipo de erros o progresso tem que ser uma evolução estruturada e não um crecimento desenfreado sem olhar em volta.

 

- O problema é que aquilo que é de todos não é de ninguém. Como a natureza não pertence a alguém especifico, as pessoas marimbam-se para ela. Partindo do principio que é apenas negligência e não cupidez. Mudar isso implica consciencialização, e tudo o que não seja visto como um castigo do anjo negro é tratado com indiferença- digo com ironia.

 


 

" Robot durante o dia, vegetal durante a noite"

Precisamente, estão longe demais e não conseguem fazer nada por eles a tempo.

No entanto, o tal rapaz que defendia que isto era obra do Anjo Negro ainda conseguiu assustar uns quantos colegas de biologia que, só sob ameaça do professor Dias (que lhes prometia uma negativa bem redonda), aceitaram continuar na lancha.

Bem, e lá continuam a subida do rio até à primeira represa. Aí, são surpreendidos à chegada por um uma data de palavras de ordem pintadas ao longo das duas margens.

"Quanto mais nos distanciamos, mais nos afogamos em extremismos, hein." comenta a Drª Vanessa, olhando os graffitis:

POLUIÇÃO NÃO, OBRIGADO! AS MINAS SÃO FERIDAS NA PELE DE GAIA O LEGADO MENTE O PRIMEIRO PAI É BRANCO CARNE É CRIME!

...e outras coisas que tais!

-Não percebo porque obrigam os alunos a vir. Eles deveriam ser livres de vir ou não. Se não viessem pagariam o preço; as pessoas devem ser responsabilizadas pelos seus actos e não tratadas como crianças.

 

 

 

 

 

 

 

 

" Robot durante o dia, vegetal durante a noite"

"O pior é que acabarim sempre por cair em cima do professor Dias. E o pobre coitado não tem culpa nenhuma que tenha havido um acidente com outra embarcação." — responde o tal professor auxiliar.

Posto isso de parte, reparam que os alunos de Ciências Comportamentais começam todos a copiar as frases de ordem para os cadernos; mostrando-se mesmo interessados em aproveitar a paragem na represa para entrevistar os trabalhadores sobre o dia-a-dia deles e do que pensam de tudo aquilo.

Alguns alunos (a maioria de biologia) preferem ficar na lancha, e o professor Dias desce da lancha e aproxima-se do Katsuhiro para continuarem a sua conversa; a Drª Vanessa deixa-se ficar por perto.

"Sabe, estou curioso em relação ao seu achado. Gostaria de conseguir provar que as unhas continuam a crescer mesmo depois da morte do corpo. Prova inequívoca de que a ligação com Gaia continua mesmo depois da morte."

Enquanto isso, o professor auxiliar de Biologia tenta meter conversa com a Dodoni: "Então e a menina não tira apontamentos...?" — sorriso tímido.

-Não, porque o que os trabalhadores vão responder é não aquilo que pensam, mas o que acham que devem responder a alunos da universidade. Para se conseguir saber o que as pessoas realmente pensam, é necessário conviver algum tempo com elas, ganhar-lhes a confiança, e conhece-las até para se perceber se elas estão a falar a verdade ou não. Aquilo é mero jornalismo, perguntas desgarradas do contexto. Enquanto todos os meus colegas vão fazer um trabalho rigorosamente igual, com as mesmas perguntas e respostas, eu vou fazer um outro: a reacção de alunos perante situações novas e tenho ali a minha matéria-prima- digo apontando para os meus colegas.

 

" Robot durante o dia, vegetal durante a noite"

Afastando me um pouco de Dodoni respondo ao prof.

"Meu caro Doutor não está mais intrigado do que eu. Ninguem anda por aquelas zonas e que eu saiba ainda ninguem foi dado como desparecido... Mas o que mais me impressiona é o estado em que está o corpo...parece que mumificado nao sei... mas já vi cadavres antes e aquele é diferente!!"

Ao relembrar me da imagem do braço não consigo deixar de sentir um calafrio.

Vocês vão continuando as vossas conversas enquanto os alunos de Ciências Comportamentais se vão afastando de caderno em punho.

O jovem prof. auxiliar continua: "Mas o resultado da experiência é tão mais interessante quando não se conh--"

O professor Dias interpõe: "Mumificado? E encontrou-o ao ar livre? Isso parece-me muito intrig--"

De repente, são ambos interrompidos pelo som duma garrafa a partir, seguido dum calor exagerado. Vão a ver, alguém terá atirado um cocktail molotov na vossa direcção.

[Façam ambos um teste de Spot.]

O prof. auxiliar não está bem a perceber o que se está a passar; já o professor Dias está atónito.

"Ah.....mas que raio foi isto" Levando o braço a cara tentado proteger do repentino calor intenso olho em redor tentado me aqperceber do que aconteceu.
https://invisiblecastle.com/roller/view/1684692/

Consegues ver uns tipos a fugir para trás dum armazém, mas não sem antes vos lançarem mais uma garrafa. Oops, lá vem ela!

E parece-te a ti que vai acertar mesmo em cheio no professor Dias.