Houve uma encarnação anterior do Warhammer Roleplay, chamada Warhammer Quest, que dependia fortemente de acessoriozecos para ser minimamente apelativo, o que escondia o facto de ser um sistema super rígido de sim e não, sem talvez, com o foco em combates mecanizados onde o GM era, essencialmente, um árbitro.
Isto foi antes da projecção á escala mundial do MTG, e portanto numa altura em que a cena fantasy era praticamente circumspecta ao pessoal de D&D e aos wargamers da própria GW. Por isso fazer um RPG com ares de boardgame, e marketizá-lo como intrínsecamente um jogo de miniaturas, permitia-lhes expandir o seu mercado de figuras sem alienar completamente os puros wargamers. Já tinha sido feito, e com sucesso relativo, por isso venga.
O que acontece é que o Warhammer Quest, como os seus similares anteriores e posteriores, falha em apelar aos roleplayers mais hardcore, devido á estrutura castradora que não permite grandes nuances de decisão. O jogo era tão automático que dava (pelo menos em teoria) para um gajo jogar sozinho. E se isto não é a antítese de roleplaying então besuntem-me com mel, ponham-me umas orelhas de mickey e mandem para um cave onde viva uma família de owlbears.
Não gostei muito do foco na dualidade agressivo/ponderado desta nova edição, activa um bocado o alarme da falta de opções. Já a linha gráfica está soberba, como aliás é norma tanto FF como da GW. O que eu espero é que, tudo bem, apele aos boardgamers, mas sem deixar de ser um RPG. É fatela deixar um setting tão coeso como o do Warhammer sem um RPG decente, só para vender em número.
E já agora, o sistema rulebooks & supplements pode ficar de facto muito mais caro, mas é flexível o suficiente para o GM fazer mix & match de regras, settings e flavour. Por exemplo, até a tão mal-falada 2ª edição de D&D permitiu cenários tão díspares como Dark Sun e Planescape. Se as regras base dependessem de cartõezinhos com desenhos cada um destes settings teria que passar a ser praticamente um jogo novo. Ou, para pessoal chunga como eu, post-its escritos a caneta com ilustrações de bonecos-palito.
Mas para quem é primeiro boardgamer e só depois roleplayer, isto é capaz de ser digno de ereção. Confesso que eu também babei um bocado. E o tom céptico e amargo é porque estou com saudades de Shadowrun.