[quote=dpontes]Aqui perdi-me. Não achas possível incutir sensações nos jogadores através de descrições visuais? Achas que não é possível transmitir a história descrevendo apenas visualmente as consequências das acções dos jogadores?[/quote]
Atenção, a palavra chave é «realismo». O problema é que a consciência das consequências das acções vem depois das acções. No momento da acção tal como vivida pelo agente as coisas funcionam de maneira diferente. Uma pessoa a ver um combate de tae kwon do e o tae kwon doca no combate têm percepções muito diferentes (para usar um exemplo que experimentei pessoalmente). A pantufada que o tae kwon doca leva é percebida de maneiras diferentes. O tae kwon doca não tem a percepção dos aspectos «gráficos» da pantufada até porque não é isso que tem em mente. O espectador está lá precisamente para apreciar os aspectos gráficos.
Como, do meu ponto de vista, a personagem de rpg está no lugar do tae kwon doca e não do espectador, um sistema de jogo modelado sobre a percepção do espectador não é «realista», é só isto.
[quote]Chama-lhe nomes se quiseres, mas não entendo isso prejudica o ambiente do jogo, muito pelo contrário.
Ao fim ao cabo estás a descrever o ambiente físico que internamente cada jogador traduz em ambiente psicológico. Diria até que para mim grande parte do gozo advém daí, desses mind games entre jogadores e DM. Podes dar-me um exemplo para me ajudar a perceber?[/quote]
Ora a criação de um sistema de jogo modelado sobre a experiênca do espectador em lugar de ser modelado sobre a experiência do agente prejudica o ambiente de jogo. Porquê? Porque leva os jogadores a perderem muito tempo com coisas que são deslocadas na perspectiva do agente e que são pensadas em função do espectador.
Olha para as coisas desta maneira, muitos dos sistemas de jogo de combate dão-nos uma câmara lenta do combate, como num filme de Western Spaguetti. Tudo é feito m-u-i-t-o lentamente com m-u-i-t-o detalhe, como certos filmes fazem para que o esctador não perca todas as minúcias. Isso pode ser fantástico do ponto de vista do tipo na terceira fila. Mas é isso que se passa do ponto de vista das personagens? Não! Do ponto de vista destas todo ocorre a 100km. No fim ele apenas se lembra de uns detalhes chave e particularmente significativos. O impacto final do punho na tromba do vilão, por exemplo. É depois do combate que ele vai ver que deslocou o maxilar ao bandido.
Um sistema de jogo como o Rolemaster até pode ser satisfatório do ponto de vista do espectador. E, é verdade, todos somos também espectadores quando estamos a jogar rpg. Mas, para mim, somos acima de tudo agentes e o que eu espero de um sistema de jogo é que modele este ponto de vista. O que é o oposto do que o Rolemaster (ou o MERP) faz.
Sérgio Mascarenhas